BEM-ESTAR & CIA.

Exercícios: Não fique parado, mas cuidado com o exagero!

Por Luísa Giraldo |
| Tempo de leitura: 3 min
Especialistas explicam como a compulsão pelo movimento constante do corpo pode prejudicar a saúde
Especialistas explicam como a compulsão pelo movimento constante do corpo pode prejudicar a saúde

As atividades físicas geram inúmeros benefícios aos praticantes. Constantemente, exercícios e esportes são incluídos em tratamentos de pessoas com transtornos mentais e outros problemas de saúde. No entanto, a liberação de hormônios como a endorfina, associada à sensação de recompensa e bem-estar, e a serotonina, que proporciona felicidade, pode se tornar viciante.

A longo prazo, alguns desenvolvem uma espécie de dependência emocional pela prática, seja por razões estéticas ou pelos efeitos positivos para a saúde. Inicialmente empolgante, o movimento se transforma em um hábito prejudicial ao corpo e à mente.

Assim foi a rotina extenuante da servidora pública Cíntia Oliveira, 34 anos. Como recomendação médica por estar acima do peso, a mineira começou a fazer atividades físicas em 2011. Sete anos depois, conheceu a modalidade competitiva crossfit, que passou a acompanhá-la diariamente. Aos poucos, a intensidade dos esportes aumentou.

"Estava sempre insuficiente. Esse desvio de imagem me forçava a praticar muitas atividades físicas por dia. Tinha dias que eu fazia musculação, natação e crossfit. Praticamente, uma carga de quatro horas e meia".

A belo-horizontina desabafa que a pressão estética a levou a cultivar hábitos não-saudáveis e restritivos. Tudo isso em função de um corpo "já muito magro". Cíntia não tinha mais disposição para aproveitar o tempo com as pessoas próximas, o que afetou até sua vida conjugal.

"Só descansava quando não conseguia mais andar. Quando o cansaço físico era maior do que o mental", relembra. Hoje, a servidora avalia que a relação com a atividade física é "mais madura e equilibrada".

Equilíbrio é fundamental

Para o tratamento da condição, o psicólogo esportivo Mateus Vasconcelos recomenda a psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental. Ele também frisa a importância da presença de médicos, como nutrólogos e psiquiatras, e de professores de educação física, que possam reorientar o indivíduo na relação com a atividade física.

Para uma vida saudável, é preciso equilíbrio. "Sempre que o desconforto estiver demais, é um ponto de atenção. Mas, se o conforto estiver em excesso, é um convite a dar um passo adiante no desenvolvimento. É um bom termômetro para prevenir uma compulsão e, ao mesmo tempo, evitar uma rotina sedentária", diz Vasconcelos.

Vício e abstinência

O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Fernando Torres, reforça que a dependência de exercícios ocorre principalmente pela liberação das endorfinas. O profissional entende que o praticante deseja cada vez mais essa sensação e, gradativamente, aumenta a carga de para conseguir o "mesmo efeito". É um movimento similar ao vício por substâncias. Os sintomas começam afetando a saúde mental, mas, aos poucos, causam cansaço, insônia e dores musculares. Torres esclarece as diferenças entre vigorexia e vício em atividades físicas. Na vigorexia, a pessoa superestima defeitos estéticos. Já na dependência do exercício, ela se exercita de maneira compulsiva, especialmente pelo prazer que a atividade proporciona. Há sintomas de abstinência, perda de controle sobre a intensidade, frequência e duração das sessões de exercício.

Conheça os sinais de dependência

O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Fernando Torreslembra que qualquer pessoa pode desenvolver a dependência. Alguns sinais indicativos são: necessidade compulsiva de se exercitar mesmo estando cansado, doente ou lesionado; sentimento de sofrimento, culpa ou raiva ao deixar de fazê-lo; interferência na vida social ou profissional; lesões que se tornam frequentes devido à negligência do descanso.

"Socialmente, a pessoa prioriza os treinos em detrimento das responsabilidades diárias, seja nos estudos, na carreira profissional, na família ou nas amizades. A insatisfação crônica com a imagem corporal pode vir acompanhada de ansiedade, angústia e até episódios depressivos", alerta.

O psicólogo esportivo Mateus Vasconcelos avalia que, além de aspectos físicos como fadiga crônica e problemas articulares, ósseos e musculares, a compulsão pode gerar irritabilidade e humor depressivo. A longo prazo, a pessoa pode apresentar sintomas de abstinência sempre que parar de se exercitar.

Vasconcelos reflete sobre o que pode levar uma pessoa a desenvolver a condição.

"A pessoa perde o controle sobre o vício. Há fatores fisiológicos, como o bem-estar. Pela parte psicológica, pode gerar um retorno positivo (elogios) por uma "melhor aparência física" e por controle emocional."

Exercício em excesso pode causar vício
Exercício em excesso pode causar vício

Comentários

Comentários