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Os riscos de tomar bebida alcoólica antes da refeição


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Andrea Rankovic
No viral do TikTok, internautas bebem dose de alguma bebida alcoólica antes de uma refeição
No viral do TikTok, internautas bebem dose de alguma bebida alcoólica antes de uma refeição

"Saúde", diz uma mulher em um vídeo no TikTok enquanto levanta um copo de shot cheio de bebida alcoólica para a câmera. Ela toma o líquido, faz uma careta e depois mostra a língua em desgosto. "É pela saúde, é pela saúde", diz. O motivo da dose foi uma refeição recente, que ela temia ter lhe causado intoxicação alimentar.

Ela leu em um estudo que, como "o álcool é um esterilizador", poderia proteger contra doenças transmitidas por alimentos. Mas será que realmente funciona?

Os especialistas afirmaram que pode haver uma pitada de verdade na noção de que beber álcool próximo ao momento em que se consome alimentos contaminados pode reduzir as chances de intoxicação alimentar. Mas as evidências para apoiar essa afirmação são limitadas.

E, dependendo da quantidade ingerida, o álcool pode prejudicar o sistema imunológico mais do que ajudar. As informações são do New York Times.

Vários estudos pequenos sobre surtos de doenças transmitidas por alimentos realmente encontraram que o consumo de álcool estava associado à proteção contra intoxicação alimentar, mas todos têm limitações.

No estudo citado no vídeo do TikTok, publicado em 2002, pesquisadores descreveram um surto de salmonela que começou em um banquete com 120 pessoas na Espanha.

Pelo menos 47 adoeceram com vômitos ou diarreia, além de cólicas abdominais, febre ou dor de cabeça, após consumirem sanduíches de atum e salada de batata contaminados.

Os pesquisadores descobriram que aqueles que relataram ter tomado três ou mais drinks na celebração tinham 46% menos chances de ficar doentes do que aqueles que não beberam; e aqueles que consumiram até três drinks tinham 27% menos chances de desenvolver sintomas.

Esses trabalhos apoiam a teoria de que o álcool poderia interromper os patógenos nos intestinos das pessoas antes que eles causassem doenças, pontua Donald Schaffner, professor de ciência dos alimentos na Universidade Rutgers, em Nova Jersey.

Segundo ele, isso é plausível já que o álcool pode matar bactérias e inativar alguns vírus, por isso, é utilizado em desinfetantes para as mãos e desinfetantes de superfície.

Como se proteger

Beber álcool é uma abordagem não comprovada e potencialmente arriscada para prevenir a intoxicação alimentar, afirmaram os especialistas. "Seria melhor simplesmente não comer alimentos suspeitos, para começar", recomenda Schaffner, embora reconheça que, muitas vezes, não é possível identificar se estão contaminados.

Uma boa maneira de se manter seguro é prestar atenção a recalls (o aviso de risco, em tradução livre) de alimentos, sugere Schaffner.

E, na cozinha, use técnicas adequadas de segurança alimentar. Isso inclui lavar as mãos frequentemente; evitar a contaminação cruzada de carnes cruas, aves e peixes mantendo esses itens separados de outros alimentos; cozinhar todos os ingredientes a temperaturas adequadas; e evitar deixar alimentos perecíveis em temperatura ambiente por mais de duas horas.

Essas estratégias são especialmente importantes para pessoas mais suscetíveis a doenças graves causadas por patógenos alimentares, incluindo aqueles com sistemas imunológicos enfraquecidos, gestantes, crianças menores de 5 anos ou pessoas com mais de 65 anos. Moore reconhece que as maneiras comprovadas de prevenir a intoxicação alimentar são "um pouco enfadonhas". Mas são eficazes, frisa ele, e isso é o que importa.

É preciso mais testes

Esses estudos pequenos e de décadas atrás podem apenas mostrar correlações entre beber e menos doenças; não podem provar que o álcool preveniu a intoxicação alimentar, avalia Matthew Moore, professor associado de ciência dos alimentos na Universidade de Massachusetts Amherst. Os pesquisadores não testaram diretamente como o consumo de álcool poderia influenciar o risco de intoxicação num ensaio clínico, que poderia controlar as diferenças entre pessoas que bebem e não bebem, esclarece Moore. E em pelo menos um surto de 33 pessoas doentes com hepatite E causada por mariscos em um cruzeiro, os cientistas chegaram a uma conclusão diferente: apenas quem bebeu álcool foi infectado, enquanto os abstêmios permaneceram saudáveis.

Efeitos do álcool e as dicas para se proteger de intoxicações alimentares

Sistema imunológico faz diferença

A chance de adoecer devido a alimentos contaminados pode depender de vários fatores, incluindo sua saúde, a quantidade de patógeno presente, o tipo de alimento e quanto desse alimento comeu, descreve Craig Hedberg, epidemiologista e especialista em segurança alimentar na Universidade de Minnesota. Como o álcool se encaixa nisso não é bem pesquisado em humanos, afirma. Mas em um estudo de 2001, os cientistas descobriram que, embora vinho tinto e branco matassem salmonela em placas de Petri, alimentá-los com camundongos não os protegia ao consumirem a bactéria.

Consumo em excesso pode levar a infecções

Está claro também que o consumo pesado e crônico de álcool pode reduzir a capacidade do sistema imunológico de combater infecções, identifica. Trabalhos mostraram, por exemplo, que pessoas com transtorno do uso de álcool são mais suscetíveis a doenças ou até morte devido a certas infecções alimentares, como listeria e vibrio.

Corpo desidratado

Além disso, o álcool pode causar desidratação, o que pode piorar os sintomas de intoxicação alimentar e prolongar o tempo de recuperação, afirmaram os especialistas.

Intestino prejudicado

Se beber em excesso, também é possível que o álcool torne seu intestino mais suscetível a infecções, alerta Gyongyi Szabo, gastroenterologista e professora de medicina na Escola de Medicina de Harvard. Pesquisas de Szabo e seus colegas sugeriram que o consumo excessivo de álcool - definido como quatro a cinco ou mais drinks em cerca de duas horas para a maioria dos adultos - pode causar inflamação e sinais de "permeabilidade" na mucosa intestinal, permitindo que bactérias e toxinas entrem mais facilmente na corrente sanguínea.

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