OPINIÃO

Está chegando a hora

Por Alfredo Enéias Gonçalves d'Abril |
| Tempo de leitura: 4 min
Professor universitário aposentado

O JC datado de 29/31 de julho último, em sua página n.33, publicou o texto de despedida da coluna "Opinião" e "Tribuna do Leitor" assinado por meu amigo de longa data e vizinho, apenas separados por um quarteirão, prof. Joaquim Elíseo Mendes, abrindo mão de uma de suas virtudes, a de articulista do Jornal da Cidade, concluindo com precedentes ponderações ter completado 92 anos de idade, ao lado de outros argumentos recomendando que encerrasse uma parcela de sua vida útil o que lhe garantiria um bom espaço livre para prosseguir desenvolvendo outras atividades, entrando nesse intervalo de tempo, à família, amigos e vizinhos.

Não tenho a mesma idade do prof. Joaquim, contudo, estou a caminho desse marco, pensando quase diariamente se devo continuar escrevendo, também para o JC, ou, ao revés, alterar minha vida, adotando a opinião do professor. Após sopesar os prós e contras de cada decisão, concluí que não me devo abolir da vontade de transmitir ao papel acontecimentos reais da vida ou ocorrências fictícias, vicejadas da imaginação ou surgidas da criatividade casual. Espero continuar colaborando com o JC, realizando meus impulsos de escrever quando o assunto despertar algum interesse ao leitor, a meu juízo obviamente.

Uma vez desfeita a dúvida, passo a escrever resumidamente o fato que me despertou o gosto pela escrita. No início da década de 60, havia nesta cidade uma acirrada competição de futebol varzeano, organizada pela Liga dessa modalidade esportiva, designando as partidas no período matinal dos domingos, nos campos de terra, recebendo gratuitamente os interessados, mesmo por quê não possuíram cercados.

Tudo era bastante rudimentar, com o oferecimento aos apreciadores do futebol o mínimo que havia naquele tempo, apreciando o jogo de pé, disputado com entusiasmo e amor ao esporte, já que os jogadores nada recebiam do clube sem patrocinador, e, nem treinavam durante a semana.

Inexistia separação entre o campo do jogo com a torcida, a qual, não raras vezes faziam ameaças furiosas contra o árbitro ou algum jogador, promovendo constantes invasões no campo na intenção de agredir o árbitro ou jogador que deixavam de agradar o que ouviam aos berros dos agitados torcedores.

Aos domingos pela manhã, assim como ia à missa, depois dela, as 10h comparecia na beira do campo, de pé o tempo todo, para torcer pela vitória do time de minha predileção, o D.E.R., sigla de uma autarquia estadual na qual trabalhei por 7 anos.

De seu quadro de servidores, formava-se a diretoria do clube de futebol, de onde revelaram em disputas nos campos de terra muitos jogadores bom de bola, despontando aptidão a defenderem camisas de equipes de mais expressão do futebol profissional de 3ª. ou 4ª. divisão.

Fortaleza, Internacional, Portuguesinha, D.E.R., Fluminense, Nacional, Independente, Paulista, Meia Lua, Sanbra são algumas das fortes equipes que disputaram por vários anos o campeonato municipal varzeano de Bauru.

Mas como nada é para sempre, o futebol varzeano se rendeu ao futebol amador, as equipes acabaram por falta de incentivo, a prefeitura municipal construiu estádios fechados para abrigar os jogos surgidos por novas equipes na disputa do reformulado campeonato que se tornou regional.

O redator-chefe do extinto jornal Diário de Bauru, Adilson Laranjeira, informado de meu interesse pelo futebol varzeano, solicitou minha colaboração na página esportiva do periódico, cabendo-me redigir a síntese do jogo principal de domingo para ser publicado na edição da terça-feira seguinte com o nome d'Abril, no alto do texto.

De prancheta e caneta nas mãos presenciei alguns acontecimentos grotescos entremeio a algumas disputas, fatos surgidos com certas frequências em campos de várzea. Como foi o caso do sumiço das travas de um gol do campo em que uma das equipes tinha interesse no adiamento da partida; em outro jogo, um zagueiro do D.E.R. entrou em campo logo depois de ter almoçado, jogou o tempo todo e ainda fez um gol de cabeça, de barriga cheia, decretando a vitória de seu time; também em outra disputa, no intervalo de um jogo, dois atacantes do mesmo time beberam uma talagada de aguardente em um bar frontal ao campo.

Depois de findar essa fase de minha vida, durante muitos anos nada escrevi para ser publicado até ressurgir a antiga vontade antes do aparecimento do computador substituindo as antigas máquinas mecânicas de escrever, como a minha que descansa travada por falta de manutenção.

Transcorridos, então, muito tempo escrevendo matéria jornalística, tendo por tema política municipal e regional, notei nos primeiros textos que precisavam de uma revisão para perder a marca das reportagens dos jogos varzeanos. Também, por mais cuidado para uma boa digitação, sempre encontrava uma palavra errada, ou algo mais categórico reclamado pela narrativa, o que revelava a ausência de revisão por outrem, afim de afastar o vício encontrado pela falta de "embocadura", no dizer de um colega do Ministério Público, que muito contribuiu com valiosos artigos explicando com precisão e espírito crítico de hábil processualista, os seus textos publicados no JC.

Na falta de um revisor permanente na temporada em que escrevia bastante, procurei dar ao texto mais atenção depois de passá-lo na peneira da revisão automática do computador. Pareceu-me que o critério apresentou bom resultado. Assim, com a "embocadura ajustada", escrevi 221 artigos, todos publicados, com a exclusão deste.

Havendo uma sobra de "lenha para queimar", continuo atento ao lema do prof. Joaquim, esperando que a cabeça funcione a contento, não "como ótima, mas muito boa" deixando de apresentar alguma surpresa que venha obstaculizar a opinião que venho apresentando na coluna do mesmo título, do JC.

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