OPINIÃO

Os tempos são outros

Por Paulo Neves |
| Tempo de leitura: 3 min

Penso que os tempos são outros, basta acompanhar as mídias, as lives, os debates, os podcast, os portais, realmente os tempos são outros. Eu sou do tempo que meu avô "tirava retrato" ao invés de foto. Não tinha selfie. Eu sou do tempo que me levantava e dava "bença, mãe", "bença, vô", " bença, vó"...meu pai tinha falecido. Eu sou do tempo que não podia beber leite após ter chupado manga.

Eu sou do tempo das palavras inteiras, faculdade, era faculdade, não era facul. Brasil era Brasil não era Brasa. O crush era um refrigerante para tomar aos domingos e não um caso amoroso qualquer. Eu sou do tempo em que não havia periguete, boquete, empreguete, havia p---- mesmo! Eu sou do tempo que não havia motel e no sábado à noite havia a casa da Eny ou das Pedras, ou no formigueiro ou na zona mesmo. Simples assim, sem muita filosofia.

Eu sou do tempo da valorização das humanas, graças aos mestres João Francisco Tidei de Lima e Jacy Villaça. Meu ídolo no Senac, onde lecionava História, me encaminhou pra Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (Fafil) para fazer História. Depois me levou para a Unesp-Assis para fazer a Especialização de Filosofia no Cinema. Depois fui para o Pós-graduação fazer História da América Latina mas não concluí. O professor João Francisco foi meu ícone.

Eu sou do tempo do almoço em família aos domingos, mesmo que tivéssemos sem vontade para essa reunião dominical... Mas o Thiago gostava, porque estava sempre pronto para comer o macarrão da vó. A Talita era reservada, contida. Eu sou do tempo em que pai e mãe eram respeitados. Meu pai morreu tinha 5 anos, a mãe era mãe mesmo pela certeza que ela queria o melhor para nós, do jeito dela, mas sempre o melhor, era sozinha e foi vencedora sem cartilha da mídia e do politicamente correto.

Eu sou do tempo das revoadas de andorinhas ao cair da tarde, diariamente ia ver a dança das mesmas do quintal da minha avó ou na rua Gerson França. No quintal da minha avó tinha manga rosa e manga espada, goiaba vermelha e branca, laranja para chupar e fazer doce, fruta do conde, limão, figo e maçãzinha. Eu era feliz, só ouvia rádio, não tinha televisão. Eu sou do tempo das brincadeiras dançantes, bailes, amores impossíveis e possíveis,dos romantismos exagerados, namorei muito, confesso, mas foi muito bom!

Já que sou de outro tempo, já confessei aqui na Tribuna do Leitor, confesso também que posso ser feliz com a internet, com a tecnologia, com o notebook, com o X, com o Instagram com o Facebook.

Quem sou eu para culpar esses tempos modernos tão cheios de praticidades e ainda mais com essa troca de gerações é fundamental, ninguém pode negar a agilidade digital, a inteligência, a capacidade de realização. Simples assim!

Pra não dizer que não falei das flores, lembrei-me de um texto muito bom que eu li: "Sou do tempo que a gente se casava na Igreja. A noiva de véu e grinalda juravam amor eterno, até que a morte os separasse. Viram que a nossa geração era falso moralista".

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