COLUNISTA

Tragédia

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O ano de 2024 já presenciou episódios trágicos. Mesmo no seu primeiro semestre, nos deparamos com considerável tragédia na perda de vidas devido às fortes chuvas no estado do Rio Grande do Sul. Nossos irmãos brasileiros clamam por necessidades básicas como água, comida, medicamentos e abrigo, ansiando pela restauração da normalidade em suas vidas.

Nesse final de semana, enquanto o Rio Grande do Sul sofria com uma de suas piores tragédias, enfrentando enchentes devastadoras e o colapso de barragens, o estado do Rio de Janeiro parecia distante do sofrimento do povo gaúcho. No cenário carioca, ocorria um espetáculo questionável: Madonna se apresentava para uma multidão de 1,5 milhão de pessoas, com transmissão pela Rede Globo. Nesse contexto, famílias inteiras e crianças foram expostas a um espetáculo que ultrapassou os limites do aceitável, com simulações de atos sexuais e masturbação em cena.

Essa desconexão gritante entre a realidade dolorosa enfrentada pelos gaúchos e a frivolidade do espetáculo carioca evidencia uma sociedade imersa em falsidades, hipocrisia e negligência. Enquanto vidas eram perdidas e comunidades inteiras sofriam com a devastação das enchentes, a atenção pública parecia estar voltada para entretenimento degradante e desvinculado da realidade das tragédias. Nesse país do pão e circo, vemos como privilégios são desfrutados de maneira irresponsável, como o caso do "filhinho de papai ou mamãe" que, em um ato de imprudência, ceifou a vida de um trabalhador ao acelerar seu Porsche a 156km/h e colidir com um carro de aplicativo. É um retrato contundente de uma nação onde as prioridades estão distorcidas, onde o espetáculo e a frivolidade prevalecem sobre a solidariedade e a responsabilidade social.

Contudo, diante da tragédia, surgem indagações profundas sobre a presença divina e sua vontade. Mesmo os crentes enfrentam desafios para responder: Onde está Deus? Por que Ele permitiu isso? Essas questões complexas não têm respostas definitivas, mas podemos encontrar conforto nos ensinamentos bíblicos. Jesus nos alertou sobre as aflições do mundo, mas nos encorajou a não desistir, pois Ele venceu o mundo (João 16.33). Essa esperança nos sustenta diante das tragédias, pois sabemos que elas não encerram nossa existência. O Salmo 30.5b nos lembra que, embora o choro dure uma noite, a alegria virá pela manhã, indicando que o sofrimento não é o fim, mas um caminho para a restauração através da graça divina.

Apesar de nos sentirmos confusos diante das ações ou permissões divinas, podemos confiar que Deus está conosco em momentos difíceis (Salmo 23.4). É crucial ancorar nossa fé no Ser supremo, que controla todas as circunstâncias e nos oferece refúgio seguro. Em meio à dor e incerteza, é natural nos sentirmos desesperados, como Jó expressou: "Aquilo que eu temia aconteceu, e o que mais me assustava me atingiu. Não encontro paz nem descanso, só agitação" (Jó 3.25,26). Sentimentos de ira e angústia também podem surgir, como Jó testemunhou: "Não posso me calar. Estou angustiado, preciso falar, preciso desabafar, pois meu coração está cheio de amargura" (Jó 7.11). É natural nos sentirmos aflitos e exaustos diante das tribulações, como Jó descreveu: "Mês após mês, só encontro desilusão, minhas noites são cheias de aflição. As horas arrastam-se; eu me reviro na cama até o amanhecer, perguntando-me se já é hora de levantar" (Jó 7.3,4). Entretanto, é reconfortante saber que Deus compreende nossos sentimentos e questionamentos. Ele não nos abandona em nossas aflições, mas nos oferece consolo e presença constante. Portanto, mesmo quando as respostas parecem distantes, podemos encontrar esperança na certeza de que Deus está ao nosso lado, sustentando-nos através das tempestades da vida.

A Bíblia confronta o sofrimento de maneira direta, mostrando pessoas reais enfrentando dores genuínas. Embora muitas tragédias sejam resultado da irresponsabilidade humana ou do estado, como no caso em questão, Deus permanece presente em nosso sofrimento, mantendo sua essência inalterada diante das circunstâncias. Em momentos de desafios aparentemente sem sentido, nossa fé é testada, exigindo confiança contínua em Deus. A sinceridade e humildade são essenciais para manter essa fé, como destacado em Marcos 9.24, "Eu creio, mas ajuda-me na minha falta de fé". Ao sermos transparentes com Deus, fortalecemos nosso vínculo com Ele, encontrando consolo em meio à dor. Permanecer fiel, mesmo quando a fé parece incompreensível, é fundamental em nossa jornada espiritual, conduzindo-nos a uma comunhão mais profunda com Ele, mesmo em meio ao sofrimento. Que a misericórdia divina alcance nossos irmãos do Sul. Aproveito para parabenizar todas as mães e desejar que Deus as abençoe abundantemente.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

62 anos atuando Soli Deo Gloria

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