BAURU

Clima e alta de idosos exigem revisão da mobilidade urbana, alerta conselho de Bauru

Pedido é para que prefeitura adote medidas para tornar sistema de trânsito menos hostil a pessoas e ao meio ambiente

Por Tisa Moraes | 30/03/2024 | Tempo de leitura: 4 min
da Redação

Guilherme Matos

Erik Luciano Mulato, presidente do Conselho Municipal de Mobilidade de Bauru
Erik Luciano Mulato, presidente do Conselho Municipal de Mobilidade de Bauru

As mudanças climáticas, consideradas a maior ameaça à saúde humana pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e o aumento da expectativa de vida da população são duas das principais transformações contemporâneas que reforçam a necessidade de discutir e adotar medidas que tornem o sistema de trânsito menos hostil às pessoas e ao meio ambiente. A avaliação é do presidente do Conselho Municipal de Mobilidade de Bauru, Erik Luciano Mulato.

Ele reivindica alterações como a redução da velocidade máxima permitida em alguns trechos de avenidas e implantação de lombofaixas, que são lombadas na altura da calçada dotadas de faixas de pedestre, a fim de priorizar a chamada mobilidade ativa, ou seja, o deslocamento por bicicleta ou a pé.

"O ciclismo para deslocamento até o trabalho ou a escola, em trechos de até cinco quilômetros, ajudaria a combater vários gargalos no trânsito, que existem por conta do excesso de automóveis e prejudicam o acesso à cidade. As pessoas têm medo, por exemplo, de enfrentar a travessia de uma avenida como a Nações Unidas. Quando vem a notícia de que um idoso morreu tentando atravessá-la, as pessoas ficam psicologicamente abaladas e se sentem intimidadas", observa.

8-80

A World Resources Institute (WRI), voltada à promoção do desenvolvimento sustentável, criou o programa Cidade 8-80, que aborda a necessidade de considerar as demandas de todos os moradores, desde crianças de 8 anos a adultos maiores de 80, com o objetivo de estabelecer cidades mais seguras e agradáveis de viver. "A criança, geralmente, vai atravessar a rua meio sem ter noção das consequências e o idoso tem mobilidade, audição e visão mais reduzidas", pondera Mulato.

Entre as medidas que poderiam promover o chamado acalmamento do tráfego, ele cita a redução do limite de velocidade em algumas zonas da cidade e a implantação de lombofaixas em locais com intenso movimento de pedestres, como em frente ao Poupatempo e no entorno de escolas. "O conselho enviou ofícios com estes pedidos, mas ainda não obteve resposta", frisa.

Outra reivindicação é a adequação de calçadas irregulares e construção onde elas não existem, especialmente em trechos de grande fluxo de veículos, como é o caso da avenida Nações Unidas sob o viaduto da rodovia Marechal Rondon e nas proximidades do Parque Vitória Régia.

'URGENTE'

"A discussão sobre problemas de mobilidade é urgente e, diante do envelhecimento da população e das mudanças climáticas, ganha relevância ainda maior. Precisamos pensar como estas pessoas vão acessar a cidade, até porque, quando elas se aposentam, entram em outro ritmo de vida e querem sair de casa, aproveitar o tempo livre. E também precisamos reduzir a emissão de gases de efeito estufa e ajudaria se diminuíssemos a quantidade de automóveis nas ruas", analisa.

Outra ação necessária, segundo Mulato, é a integração dos fragmentos de ciclovia existentes em Bauru, prevista no Plano Municipal de Mobilidade, de 2019 (leia mais abaixo). Alguns pontos do documento, que, na visão do conselho, precisam ser aprimorados, deverão ser discutidos em reuniões setoriais, com apresentação de propostas.

Elas serão compiladas e apresentadas em uma conferência municipal prevista para ocorrer em maio. O presidente reconhece, contudo, dificuldade em promover estes encontros setoriais com ampla participação popular.

INTERLIGAÇÃO

A interligação entre as ciclovias de Bauru, descrita no Plano Municipal de Mobilidade, também é uma reivindicação do Conselho Municipal de Mobilidade de Bauru, mas não foi integralmente implantada. O documento previa a criação de 196,6 quilômetros de malha, com pontos de hidratação e bicicletários, em um investimento de cerca de R$ 15 milhões, para que a cidade chegasse a uma estrutura de 223,3 quilômetros.

"A maioria das ciclovias da cidade não está em condições ideais. A ideia era fazer o levantamento e pedir manutenção de pintura, instalação de tachões em avenidas onde elas existem, como a Nuno de Assis e Comendador José da Silva Martha, para separar o trânsito e impedir que os carros avancem", descreve Erik Luciano Mulato.

De acordo com ele, as mais recentes têm sido implantadas, em sua maioria, por meio de contrapartidas oriundas de novos empreendimentos residenciais. "Mas, se formos depender só disso, não conseguiremos nunca concluir a meta do plano", frisa.

R$ 1 MILHÃO

O município de Bauru receberá R$ 1 milhão do Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difusos (FID) para a construção de uma ciclovia que contemplará quase toda a extensão da avenida Comendador José da Silva Martha, da Praça Portugal até o Recinto Mello Moraes. Segundo Renato Purini, titular da Secretaria Municipal de Obras, o recurso foi conquistado a partir da apresentação de um projeto, cuja execução poderá ficar sob responsabilidade de empresa terceirizada, por meio de licitação, ou equipe própria da Secretaria Municipal de Obras.

"Essa ciclovia passará pelo canteiro central e fará a interligação com uma outra, que será feita na avenida José Vicente Aiello, quando esta via for duplicada do Residencial Villa Lobos até o Cemitério Parque Jardim do Ypê. É uma prioridade nossa, em todas as contrapartidas de empreendimentos onde há avenidas próximas, a inclusão de ciclovias ou ciclofaixas, como fizemos, por exemplo, no Núcleo Mary Dota e na avenida Nações Unidas Norte", frisa.

Já em relação à possibilidade de redução do limite de velocidade em algumas áreas e implantação de tachões em ciclovias, que cabem à Emdurb, bem como investimentos em calçadas, sob responsabilidade da Obras, Purini destacou a possibilidade de promover a interlocução junto a estas esferas e o conselho para definição de prioridades nas ações que forem consideradas necessárias.

Lombobaixa nas proximidades da entrada do Hospital da Unimed
Lombobaixa nas proximidades da entrada do Hospital da Unimed
Ausência de calçada na Nações Undas, altura do Parque Vitória Régia
Ausência de calçada na Nações Undas, altura do Parque Vitória Régia
Ausência de calçada na Nações Undas, altura do viaduto da Marechal Rondon
Ausência de calçada na Nações Undas, altura do viaduto da Marechal Rondon
Ausência de calçada na avenida Nações Unidas, na altura do Parque Vitória Régia
Ausência de calçada na avenida Nações Unidas, na altura do Parque Vitória Régia

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2 COMENTÁRIOS

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  • Ariani Sá
    30/03/2024
    Parabéns Erik! Tb sou muito a favor das lombofaixas, além de conter os excessos de velocidade ela facilita a acessibilidade tb para pessoas em cadeira de rodas, mobilidade reduzida, mães com carrinhos de bb, enfim facilita muito mais a vida de toda a população.
  • Quintino Sales
    30/03/2024
    o pedestre é rotineiramente marginalizado. outro ponto é a falta de ar no transporte público.