COLUNA

Justiça Social

Por Hugo Evandro Silveira; pastor titular - Igreja Batista do Estoril | 20/05/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Vivemos um tempo de grande instabilidade social. Grandes segmentos da nossa sociedade têm-se mostrado interessados pela causa da "justiça social" - que a bem da verdade é um composto de duas palavras que representam coisas diferentes, para pessoas diferentes, de grupos diferentes. Em geral, quem luta por justiça social afirma que luta pela libertação dos oprimidos, por um futuro melhor, por uma sociedade justa para todos.

 A princípio, todo cristão compartilha desse objetivo. A pergunta que não se cala é se as principais correntes da chamada "Justiça Social" lutam mesmo por uma causa justa. Essa luta pela Justiça Social é realmente compatível com a justiça?

 Uma boa definição de Justiça: Justiça é a distribuição de punições e recompensas com base em padrões éticos. No entanto, com poucas exceções como a aversão recíproca ao racismo, os padrões de justiça usados pelas organizações humanistas são muito diferentes, inclusive entre elas. Em geral há uma crítica voraz contra o capitalismo e a geração de riquezas. A maioria das organizações pela justiça social luta para abolir o capitalismo e a meritocracia que gera riqueza. Contudo, na Bíblia aprendemos que Deus presenteou cada ser humano com diferentes habilidades e oportunidades.

É verdade que há momentos em uma sociedade capitalista em que a desigualdade de riqueza é resultado da opressão e da injustiça, mas isso está longe de ser norma. Desde que o mundo é mundo, algumas pessoas são sempre mais opulentas que outras e não há mal nisso, desde que essa riqueza não seja conquistada injustamente ou usada de forma pecaminosa.

Mas, infelizmente, não é assim que muitos defensores dos movimentos de Justiça Social entendem a economia. Não são poucos os que argumentam que a desigualdade de riqueza é inerentemente opressiva e sempre errada. Dizem: "Se você tem mais, então, por definição, você é um opressor. Você merece que sua riqueza seja tomada e remetida a outras pessoas".

Nas santas Escrituras, o padrão de Deus é imutável; não pode ser mudado, mas é transcendente e eterno. Isso é importante porque, sem um padrão imutável e transcendente, a justiça, tema da nossa reflexão, seria algo em movimento. Imagine, o padrão de certo e errado variaria de acordo com o tempo e o lugar. Seria um verdadeiro colapso no conceito de justiça. Na teologia cristã, Deus está mais preocupado com o coração do indivíduo que com a estrutura da sociedade, a qual seria apenas reflexo do individuo: "Eu, o SENHOR, esquadrinho os corações e provo os pensamentos, para recompensar a cada um segundo as suas obras e dar a cada um segundo o fruto das suas obras" (Jeremias 17.10). A cultura e suas estruturas são apenas reflexos das mentes dos indivíduos que compõem a cultura. Portanto, toda mudança social começa comigo, não com os outros. De forma antagônica, as muitas correntes de Justiça Social assumem que todo indivíduo é inocente e que as estruturas da sociedade - racismo, sexismo, homofobia, capitalismo, patriarcado, família nuclear, etc. - são o problema. Olham para si como inocentes e apontam o problema nos outros. Mas se eu assumo uma presumida inocência, impingindo o erro às estruturas, mudanças nunca ocorrerão.

Esse delírio da inocência moral tem uma longa história, que se arrasta desde o evento de Gênesis 3.5. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) amplificou o delírio ao ensinar que as pessoas nascem inocentes, mas que as estruturas da civilização as corrompem. Conquanto os defensores dessas estruturas sociais geralmente sejam bem-intencionados, eles operam sob suposições e princípios que historicamente levaram à injustiça e sofrimento maciços. Revoluções na história humana foram impulsionadas pelas mesmas plataformas que os atuais movimentos de Justiça Social compartilham, porém o resultado foi escravidão, empobrecimento, morte. Se esses que defendem as estruturas de Justiça Social continuarem a ignorar as lições da história, alcançarão fins semelhantes. Devemos nos preocupar com a justiça e com a promoção de uma sociedade justa. Mas quanto mais nos afastarmos dos princípios bíblicos, menos justiça real a sociedade ocidental experimentará. A bem da verdade, a cruz demonstra a paixão de Deus pela justiça; mostra-nos o Salvador que tomou sobre si a condenação pelo pecado, atraindo a justiça de Deus para todos os que crêem. Busquemos a justiça de Deus imprimida individualmente em nosso caráter e certamente ela refletirá na cultura - Miquéias 6.8: "O SENHOR já nos mostrou o que é bom e o que exige de nós: a prática da justiça, que façamos o que é direito, que amemos a fidelidade e andemos humildemente diante de Deus".

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

61 anos atuando Soli Deo Glória

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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