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Natal: História e tradição se confrontam

Redação
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Qual é o significado dos símbolos do Natal? Por que o verde e o vermelho, a guirlanda, as árvores de Natal e as bolas coloridas? Para o professor Danilo Da Cás, pesquisador de História da Educação Brasileira da Universidade Estadual Paulista (Unesp), nas festas natalinas, é preciso distinguir a tradição da origem histórica e bíblica.

Os sapatos e meias pendurados nas portas para receber presentes do Papai Noel são de origem européia, de acordo com o professor. Embora no Brasil a meia tenha ganhado também significado de poupança, as peças teriam relação comos pés, com o caminhar e com o caminho a ser trilhado. O presente só era dado à criança que tivesse andado no bom caminho, explica.

A árvore de Natal estaria relacionada à árvore da vida, assim como ao culto primaveril da árvore de maio, celebrado na Europa com o plantio de um pinheiro na praça da aldeia - símbolo das boas colheitas.

No século IV, o ato teria sido cristianizado com a introdução, na sala de jantar, de um pinheiro para festejar o Natal de Jesus Cristo. No Brasil, a árvore de Natal só foi absorvida no início do século passado.

A glória, a conquista, o prêmio e a vida são simbolizados no Natal pela guirlanda, segundo o pesquisador. Nas árvores ou nas portas das casas, representam vínculo de união com Cristo e a certeza de que com ele a vitória mencionada por Paulo Apóstolo seria alcançada. Cristo, ao assumir nossa natureza e ao salvar a humanidade, representa a grande conquista. Então, a guirlanda é o símbolo vencedor da vida e da morte, expõe.

E a estrela de Belém? Segundo o relato bíblico, ela guiou os Reis Magos até Jerusalém e dessa cidade a Belém. Da Cás enfatiza que sobre o nascimento de Jesus, nem todos os fatos podem ser explicados à luz da ciência. A estrela de Belém é algo que deve ser visto sob duplo enfoque. Para cientistas ela é um fato que deve baseado na Astronomia. Para os cristãos, é um fato que transcende o fenômeno científico em função de sua natureza, observa.

As luzes características das festas natalinas simbolizam esplendor, alegria e vitória. Haja vista outros grandes acontecimentos em que são utilizados fogos de artifício, música, canto e demais incrementos festivos. Natal é festa, é o aparecimento da Luz do Mundo. Jesus, ao nascer, brilhou uma estrela no céu de luz intensa. Ao morrer na cruz, fez-se trevas e o sol deixou de brilhar, observa Da Cás.

Na opinião do professor, a predominância das cores verde e vermelha dos enfeites natalinos obedecem mais a fatores artísticos e estéticos que à origem das lendas. Os adornos seriam fruto do imaginário das pessoas, salvo elementos relacionados a eventos religiosos, como a estrela e o sino. Se resgatada a origem nórdica do Papai Noel, pode-se relacionar à história a representação do pinheiro, da neve, do trenó e da rena.

Da Cás conta que o trenó é o meio de transporte mais utilizado nos lugares gelados, como o pólo norte. Os trenós e as renas, como o Papai Noel, passam a ser figuras quase míticas e, por isso, o deslocamento e a forma fogem ao convencional - eles voam mais rápido que a velocidade do som a fim de percorrer o mundo distribuindo presentes.

A tradição da troca de presentes remeteriam também a aspectos religiosos, sendo uma alusão dos presentes oferecidos pelos Reis Magos ao Menino Jesus. O presente, diz o pesquisador, é uma doação, um gesto de amor. A troca de presentes representa um gesto de amor, de amizade, de reconhecimento e de homenagem que é feita entre pessoas que amam e estimam, salienta.

25 de dezembro

Por que o aniversário de Jesus passou a ser comemorado no dia 25 de dezembro? Uma das causas teria sido a celebração do solstício no hemisfério Norte, em 23 de dezembro. Era o momento da aproximação com o Sol. Para cristianizar a data, houve por bem considerar Cristo como o Sol do mundo. Por isso, nada melhor que o nascimento de Cristo ser celebrado próximo da data solar, diz Da Cás.

Ele afirma que há uma grande controvérsia sobre a data exata do início da era cristã. A ida de Maria e José à cidade de Belém teria sido motivada pela determinação do imperador romano César Augusto de recensear todos os seus domínios. Cada habitante deveria alistar-se em sua cidade Natal. Não há, no entanto, registro quanto à data da determinação imperial, que pode variar de um a quatro anos. Ou mais, acrescenta o pesquisador.

Presépio

Segundo o relato bíblico, Cristo não nasceu numa gruta, mas sim numa casa, na cidade de Belém. O presépio, apesar disso, tenta compor o quadro do nascimento de Jesus, em que predomina mais o imaginário que o histórico, segundo o Da Cás.

Na estalagem, não havia um lugar ou aposento apropriado para os pais de Jesus. A mangedoura funcionou como um berço improvisado. Os pastores que cuidavam dos seus rebanhos nos campos próximos à cidade teriam sido avisados por um anjo e, então, dirigido-se à cidade - e não à gruta -, conforme o relato do evangelista Lucas.

O significado da palavra presépio seria um local em que se recolhe o rebanho, um estábulo. A representação do local foi idealizada por São Francisco de Assis (1223) e introduzida no Brasil em Olinda, pelo Frei Gaspar de Santo Agostinho, em 1635.

A essência do presépio é a representação da Sagrada Família na ocasião do nascimento de Jesus. Os demais figurantes obedecem a uma composição não-temporal, pois entre o nascimento de Jesus e a visita dos Reis Magos foram decorridos, no mínimo, quase dois anos, afirma o professor.

Os Reis Magos (Gaspar, Melquior e Baltazar) eram sábios, estudiosos e conhecedores dos fenômenos científicos. Na época, todo sábio era visto como um mágico, um pajé ou figura mítica. Da Cás explica que não é possível deduzir a data da visita pelo relato de Mateus (2, 1-12). A cronologia litúrgica é a sucessão dos fatos da vida de Cristo, considerar a cronologia temporal.

A única cronologia exata explícita após o nascimento de Jesus foi o ato da circuncisão, que deveria ocorrer oito dias após o nascimento. Segundo a tradição, Gaspar e Melquior seriam originários da Ásia e Baltazar da África.

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