De acordo com o Centro de Estudo Integrado de Medicina Chinesa (Ceimec), os orientais descreveram cerca de 1.000 pontos de acupuntura nestes milhares de anos. Deste total, 365 foram classificados em 14 grupos principais. Todos os pontos que pertencem a um dos grupos são ligados por uma linha imaginária na superfície do corpo denominada meridiano, por onde flui a energia vital.
Segundo o Ceimec, os 12 meridianos principais controlam o pulmão, o intestino grosso, o estômago, o baço, o coração, o intestino delgado, a bexiga, o rim, o pericárdio, a vesícula e o fígado. Existem também dois meridianos localizados bem no centro do corpo, um que passa pela frente e outro pelas costas.
“Todos os pontos de acupuntura ao longo destes meridianos afetam o órgão mencionado, mas não necessariamente da mesma maneira. Para os chineses tradicionais, nosso organismo é formado de matéria e energia. E é justamente a parte energética, a força vital ou Chi que circularia nestes meridianos. Todas as doenças seriam conseqüentes a um distúrbio da circulação do Chi”, explica o Ceimec (www.ceimec.com.br).
As acupunturistas Mara Regina dos Santos Ueda e Elizabete Maria de Toledo salientam que, pelo conceito oriental, para existir saúde é necessário o equilíbrio entre as diversas formas de energia da natureza (como terra, fogo, metal, madeira e água). Essas energias são tradicionalmente divididas em duas forças - o yin e o yang - que são, ao mesmo tempo, opostas e complementares.
Elas representam pólos antagônicos dos fenômenos da natureza. O yin tem características de introspecção e inatividade, enquanto o yang é a expansividade e movimento. “Por exemplo: a noite é yin, o dia é yang; o frio é yin, o calor é yang; a terra é yin, o céu é yang e assim por diante”, comenta Ueda.
Segundo esse princípio, para que o indivíduo seja saudável, é necessário que essas forças estejam sempre em equilíbrio. A falta ou o excesso de uma delas causaria o início de todas as doenças. O objetivo da acupuntura é justamente “cutucar” os pontos em que há um desequilíbrio para que o fluxo energético volte à condição normal e saudável.
A médica Mara Ueda explica que a agulha é inserida na pele até atingir a corrente energética. “Quando você sente que pegou o Qi (ou Chi, a energia) - algo que requer muito estudo -, você solta a agulha e a deixa agir por 20 minutos”, descreve.
Segundo ela, esse é o tempo necessário para que se tenha uma resposta adequada, ou seja, para que o estímulo chegue ao cérebro e promova a produção dos hormônios. “Ao final da sessão, o paciente está até meio ‘zen’, está leve, porque seu organismo está com a produção máxima de endorfinas e serotonina”, afirma.
Indicações
Segundo a especialista, não existe qualquer contra-indicação para a acupuntura. O que muda é a técnica aplicada. “Numa gestante, por exemplo, nós fazemos uma acupuntura mais suave e não trabalhamos alguns pontos específicos que podem facilitar um parto prematuro. Num paciente que usa marca-passo, não usamos eletroestimulação, pois isso pode desregular o aparelho. Mas qualquer pessoa, de qualquer idade, pode fazer”, garante Ueda.
Para determinar qual a melhor técnica para cada paciente, o especialista primeiro faz um exame detalhado daquele organismo. “Além da avaliação clínica ocidental, temos outros dois exames. Nós olhamos o pulso e a língua do paciente. Por eles, você consegue ver a representação de todos os outros órgãos”, explica.
A partir deste diagnóstico, o profissional determina o tratamento. Uma das opções é a acupuntura sistêmica, feita com agulhas de aço inox que podem ser aplicadas em pontos de praticamente todo o corpo. “Quando a queixa do paciente é a dor, é necessário ficar rodando a agulha. Para não fazer isso manualmente, podemos usar agulhas com cabo de prata acopladas a um aparelho para eletroestimulação”, comenta.
Outra técnica também muito utilizada é a acupuntura auricular, em que são estimulados pontos da orelha. “Você localiza os pontos visualizando na orelha um feto de cabeça para baixo. Os franceses comprovaram cientificamente essa representação”, destaca a psicóloga Elizabete Maria de Toledo.
Os pontos auriculares podem ser estimulados com esferas de prata ou ouro, com sementes de mostarda ou com agulhas muito finas e minúsculas que ficam presas à pele com o auxílio de esparadrapos para uma estimulação mais prolongada.
A acupuntura também pode ser restrita aos pontos das mãos ou dos pés, onde existe uma grande concentração de terminações nervosas. Por serem regiões mais doloridas, as agulhas usadas nestas áreas são menores e mais finas que as usadas na técnica sistêmica. Segundo as especialistas, todo o material usado é descartável.
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Medo da dor
No mundo ocidental, as agulhas são utensílios que causam pavor para a maioria das pessoas. Quando se fala em acupuntura, a primeira reação das pessoas é de repulsa, sob o argumento de que não querem sentir dor. Questionados sobre isso, especialistas e pacientes divergem.
As acupunturistas Mara Regina dos Santos Ueda e Elizabete Maria de Toledo afirmam que as agulhas usadas na acupuntura são muito diferentes daquelas usadas nas injeções. Além de ser muito mais finas, elas não têm o orifício e não colocam nenhuma substância estranha no organismo.
“Além disso, as agulhas têm a ponta redonda. A agulha da injeção tem uma ponta que entra na pele rasgando, cortando o tecido. A agulha da acupuntura empurra as células, fazendo uma difusão. Você sente entrar, mas é diferente da injeção. É totalmente suportável”, garante Ueda.
Em tratamento para sanar uma distensão muscular no ombro e pescoço, o vendedor autônomo Roberto Rios afirma que não sente qualquer dor com as agulhas. “Impressiona ver, mas você nem sente colocar”, comenta.
Ele conta que optou pela acupuntura depois de vários tratamentos com ortopedistas e remédios. “Tomei antibióticos e antiinflamatórios. O efeito deles é imediato, mas com o tempo isso intoxica o organismo e afeta outros órgãos. A acupuntura é um tratamento de médio prazo, mas o organismo reage sozinho”, defende.
Na prática, a introdução da agulha na pele pode ser comparada à picada de um pernilongo. Percebe-se que algo está sendo introduzido, mas não se sente propriamente uma dor, somente um incômodo. A dor pode surgir quando o profissional manipula (gira ou aperta) a agulha para “cutucar” o ponto. Aí sim sente-se uma fisgada.
Pacientes de acupuntura ouvidos pela reportagem destacam que essa dor é proporcional à intensidade do problema. Quanto mais “doente” está um ponto, maior é o incômodo durante seu estímulo.
“Quando estou com fome, sinto mais dor no ponto da fome e no ponto da ansiedade”, comenta uma paciente que pede para não ser identificada. Ela faz acupuntura para perder peso.
Durante o tratamento, conforme os pontos vão sendo descongestionados, mesmo essa dor da manipulação tende a diminuir e passar quase despercebida.