Uma escola concebida e criada para atender os jovens bauruenses que não tinham condições de pagar mensalidade em instituições particulares, mas que, com o tempo, transformou-se num centro de excelência educacional tão cobiçado que passou a ser disputada por alunos das classes sociais mais abastadas. Só pagava mensalidade em escola particular quem não conseguia passar no exame de admissão do Instituto de Educação Ernesto Monte, atual Escola Estadual Ernesto Monte.
Em seus 75 anos de história, completados em agosto último, a escola se orgulha de ter em seu currículo a formação de alunos que, mais tarde, se transformariam em profissionais altamente qualificados em suas áreas de atuação. Alunos como o engenheiro aeronáutico, ex-presidente da Petrobras, ex-ministro da Infra-Estrutura e um dos criadores da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), Ozires Silva.
Pelas salas de aula do Ernesto Monte também passaram figuras que se destacariam na vida da cidade e do País, como os ex-prefeitos Tuga Angerami, Tidei de Lima, o arquiteto e urbanista Jurandyr Bueno Filho, o ex-técnico da Seleção Brasileira de basquete feminino Antônio Carlos Barbosa, o vice-diretor e criador do Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet/Unesp) Roberto Calheiros, além de muitos engenheiros, médicos, procuradores da Justiça, desembargadores, juízes de direito, entre outras profissões de prestígio na sociedade.
De acordo com a definição do professor Muricy Domingues, que deu aulas de geografia durante quatro anos no Ernesto Monte, o então instituto foi responsável pela formação de uma geração de ouro nas décadas de 1950 e 60. Ele próprio, ex-aluno da escola, aponta a qualidade dos professores e a dedicação dos alunos daquela época como os principais motivos para tanto sucesso.
A opinião é compartilhada por João Batista Campagnani Ferreira, também ex-aluno e ex-professor de educação física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Em seu livro “Instituto de Educação Ernesto Monte – Nos Anos Dourados”, lançado há um ano, ele conta que se tratava de uma escola pública estadual de alto nível na qualidade do ensino e um grau de exigência que buscava a excelência de alunos e professores.
“Até hoje não esqueço muitos daqueles mestres que marcaram minha vida pela cultura que possuíam e pela importância que tiveram em cada momento em que fui exigido cultural, intelectual e moralmente”, relata ele no livro.
Uma vaga no instituto era tão cobiçada que a escola, por muitos anos, submeteu seus candidatos a exames de admissão ao curso ginasial. Segundo define Ferreira, era um clima de guerra que se instalava toda vez que o exame era realizado. Afinal de contas, quais os pais que não queriam arrumar uma vaga para seus filhos numa escola com ótimo nível de ensino e, ainda por cima, gratuita? Somente o uniforme e os materiais escolares eram custeados pelos pais.
Como ocorre atualmente com os cursinhos pré-vestibulares, naquela época, os alunos oriundos de outras escolas enfrentavam um ano de curso pré-admissão, ministrado por professores nas casas dos candidatos.
Muricy Domingues lembra que não eram apenas os alunos que sofriam para entrar no Ernesto Monte. O processo seletivo pelo qual passavam os professores também era rigoroso. As provas eram discursivas. Não havia seleção por meio de avaliação com respostas de múltipla escolha (é só colocar um “x” na opção correta), como ocorre atualmente.
“O instituto viveu seus anos de ouro porque teve alunos altamente qualificados, que tiveram de passar por exames de seleção, e também porque teve um corpo docente de primeira qualidade e exigente.” O professor conta que, devido a essas qualidades, os formandos do Ernesto Monte dificilmente passavam por cursinhos preparatórios antes de entrar numa universidade de renome. “O pessoal saía do 3º colegial e entrava direto na Escola Politécnica (USP), no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e outras”, comenta.
Com o passar dos anos, a precarização do ensino, de uma forma geral, foi transformando o “Ernestão” (como alguns alunos a chamam), numa escola como outra qualquer. Aos 75 anos, é como uma senhora, que conta com o respeito e o reconhecimento da sociedade bauruense, mas o tempo passou, as rugas apareceram, a vitalidade se foi e os holofotes já não brilham mais em sua direção como antigamente.
O que ficou foram as lembranças dos anos dourados, a saudade no coração de quem vivenciou aquela época. Tempos que dificilmente voltarão, mas que deixaram seu legado para o bem da cidade e também (por que não?) do País.
____________________
Motivo de orgulho
Para Ernesto MonteJúnior, 82 anos, ter o nome do pai em uma das escolas mais tradicionais da cidade é motivo de muito orgulho para a família. Na opinião dele, é uma forma de perpetuar o nome do patriarca. Melhor ainda se o nome está incorporado a uma instituição de ensino que fez parte da vida de tantas figuras importantes na história de Bauru.
Entretanto, a situação atual da escola que leva o nome do pai tem sido motivo de tristeza para o filho. Ernesto Monte Júnior acha que o prédio está mal cuidado e os estudantes estão rebeldes demais. Quanto ao prédio, ele está sendo reformado e, provavelmente, terá seu brilho de outrora de volta. Já os alunos rebeldes...
Questionado se o fato da escola levar o nome Ernesto Monte suscitaria a curiosidade de alunos em saber quem foi seu pai, Júnior mostrou-se um tanto desconfiado. “Eu tenho a impressão de que apenas uma parcela mínima dos alunos deve mostrar esse interesse. Infelizmente, a maioria não se interessa pelo passado”, diz.
Ernesto Monte teve sete filhos, sendo seis mulheres e apenas um homem, Júnior. Duas filhas morreram, uma mora em Joinvile (SC) e os demais continuam residindo em Bauru.