No dia 1 de agosto passado, a querida e colhedora Bauru completou 116 anos de existência. Neste ano, mas agora em setembro, estamos lembrando o 115º aniversário de nascimento do poeta Rodrigues de Abreu. Aliás, pela cronologia, o poeta da ?Casa Destelhada? nasceu um ano depois de sua terra adotiva. Há anos atrás, recebi do professor Paulo Pereira Rangel, um dos maiores calígrafos brasileiros, a composição artística do poema "Bauru", de Rodrigues de Abreu, executado por ele, em letras góticas, por volta de 1949. E lá se vão mais de 60 anos de existência dessa preciosidade. Além da grandeza do poema, a finura que, enquadrado em vidro, está em poder do filho deste bauruense da cepa: tamanho grande, revelando um acendrado amor pela "Cidade de espantos!".
Uma leitura mais detalhada e atenta ao poema despertou-me a curiosidade pelo que conheço da composição. Tanto é assim que em meus três livros "Rodrigues de Abreu ? in memoriam", lançado em 1997, e, logo em seguida, "Meu caro Rodrigues de Abreu", fiz a reprodução do mesmo, inserindo nas suas páginas como algo espiritual, brotado das penas do poeta que denominaram de "o Cristo da nova geração" e, ainda, "o poeta da tristeza e da resignação". Pois bem. Esta curiosidade a que me refiro é pela composição poética de Rodrigues de Abreu, partindo, assim, do original. Do que eu conhecia, fiz a reprodução fiel de cópias que se espalharam pela literatura, particularmente de jornais e revistas de algumas décadas.
O fato é que do original percebi diferenças errôneas nas reproduções anteriores, o que me permite uma observação mais profunda. A primeira, a fiel, foi publicada no então jornal "Diário da Noroeste", na edição do dia 08.11.1925. Recordo, pois, que o poema foi enviado pelo próprio poeta que fez questão de frisar: "especial para o Diário da Noroeste". Das outras cópias, inclusive a inserida na obra "Poesias Completas de Rodrigues de Abreu", de Domingos Carvalho da Silva, editada pela Cia. Editora Panorama, São Paulo, em 1952, também constatamos o mesmo engano do original. Como não houve qualquer manifestação do poeta, quanto a algum erro tipográfico da publicação em 1925, pelo jornal Diário da Noroeste, então fico, sem qualquer sombra de dúvidas, com o que o professor Paulo Pereira Rangel me passou, corroborando com esta magnífica obra caligrafada com as mãos e o talento de quem soube produzir tamanha maravilha, com uma exortação a Bauru, no pensamento, na ideia, no amor a esta terra, pelas penas de Rodrigues de Abreu.
Lembro, a título de curiosidade, que Rodrigues de Abreu chegou a Bauru por volta do carnaval de 1922, contando com apenas 24 anos. Toda a sua obra intelectual foi, essencialmente, realizada nesta cidade que lhe deu todo amparo, conforto, ou seja, acolhimento incondicional. Para que não pairem dúvidas, valho-me desta oportunidade para lembrar que parte de sua obra é dedicada à terra que o acolheu e deu abrigo eterno ao criador da "Casa Destelhada.
O autor, J. R. Guedes de Oliveira, é colaborador de Opinião