Com certeza essa constatação que faço está ligada ao grande número de aniversários que venho colecionando. Quando o tempo ainda era algo a ser gasto, sem muita preocupação de racionamento, confesso que grande parte dos conceitos sobre idade simplesmente não me interessavam. A coisa toda, em verdade, era bem simples: ou você era criança, ou não era criança ou era um velhinho. Ao menos era como tudo me parecia.
O tempo foi passando e com ele a infância se foi junto, bem como a flor da juventude. Na aurora dos vinte anos eu era um misto de preocupações com o futuro, sobretudo o profissional, questionando-me se eu iria dar conta de me sustentar e de ser, de fato, uma adulta, com todas as implicações e encargos que isso trazia.
Quando adentrei os trinta anos foi inevitável refletir sobre o que era uma balzaquiana e eu que até o momento não lera Balzac, tratei de fazê-lo, ficando razoavelmente conformada com a adaptação que era possível fazer daquele contexto àqueles meus dias de vida. Por certo que tudo envolvia certo glamour e até mistério, dando às balzaquianas uma aura de sabedoria e sedução. De fato, na realidade eu não sentia nada disso, mas era bom imaginar que talvez o mundo pensasse ou escrevesse dessa forma.
Quando as quatro décadas de vida me alcançaram eu já estava vivendo um tempo mais livre e classificações pouco me incomodaram. Ao menos era o que eu imaginava até prestar atenção em determinados textos literários e descrições na imprensa. Percebi que sempre (ou quase sempre) que alguém vai mencionar uma pessoa com mais de quarenta anos, o faz com o alguém de meia idade, como se isso, por si só, fosse a principal coisa a se dizer.
Reparem que o mesmo não se dá com pessoas ou personagens de outras idades. Se for uma criança, um jovem ou um idoso, em geral eles serão descritos de forma pormenorizada, para o bem ou para mal. Dificilmente ficará, principalmente na literatura, como só um critério cronológico, sendo sempre acompanhado de outras qualificações. Já com os quarentões ou cinquentões tudo costuma resumir a "uma mulher ou um homem de meia idade". Dá a sensação de isso bastaria para dar a quem lê ou mesmo ouve, todos os dados necessários para qualificar a pessoa em questão. Confesso que, ainda que em causa própria, fico um tanto desapontada com essa simplificação, com esse lugar comum.
Não estou discutindo aqui, por favor, que o termo não é politicamente correto, pois me recuso a engrossar a turma do politicamente chatos, mas é só um desabafo de quem não sabe se está exatamente no meio do caminho e que acredita que nenhum quarentão ou quarentona se resume a isso, como se fosse meia sola ou meia boca, rs. Quarentões do mundo, uni-vos! Personagens reais e fictícios, façamos ouvir nosso apelo para que passemos a ser descritos pelos nossos defeitos e virtudes, mas não apenas pelos anos que carregamos nas nossas já cansadas costas! Coloquemos nossos óculos para perto e sejamos críticos em nossas leituras após voltarmos de nossas corridas diárias. Eu, ao menos, fiz a minha parte...