Há um entendimento de que crises econômicas agravam o aumento da população sem emprego e moradia, que passa a viver em calçadas, viadutos e praças. Em um País como o Brasil, com 13,4 milhões de desempregados, a impressão que se tem é que a chamada população em situação de rua só vem aumentando.
Em Bauru, não é só impressão. Segundo levantamento da Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes), realizada pelo Centro Pop e Serviço de Abordagem, em um recorte de janeiro a julho deste ano, a população de rua na cidade deu um salto de 65%. Em janeiro, o número de moradores com prontuários ativos era de 126, já em julho, esse índice foi a 206.
"Bauru tem muito trânsito de pessoas, muitos egressos do sistema penitenciário e tem grande potencial para tratamento de pessoas que fazem uso e abuso de álcool e outras drogas. Há uma busca constante, em função dessas demandas", explica a diretora da divisão da proteção especial I da Sebes, Simone Reis Escoura de Souza.
Ainda segundo ela, muitas dessas pessoas não são daqui. "Temos demanda também do município, mas um número expressivo do número total dos moradores de rua da cidade vem de outros lugares", afirma.
ACOMPANHAMENTO
O levantamento ainda mostra certa estabilidade no número de moradores de rua que recebem atendimento sistemático, sendo 90 em janeiro e 86 em julho. "Esses são os acompanhados por nós na busca por emprego, no tratamento de álcool e drogas, nas noites dormidas em casas de passagem, se há vinculo com a família ou não", aponta.
De acordo com a Sebes, Praça da Cerejeira, Câmara Municipal, Praça da Hípica, Praça do Centro de Artes e Esportes Unificados (Ceu) e Nuno de Assis são alguns dos principais pontos da cidade com acúmulo de moradores de rua.
Sabendo disso, as equipes se dirigem a essas praças e entroncamentos e oferecem os serviços de acolhimento. "A abordagem é feita por uma equipe que circula nas ruas para identificar esses moradores de rua. Também temos a demanda do Centro Pop, que são encaminhadas pela rede com prontuários de psicólogos e assistentes sociais que recolhem informações", conta.
LOTAÇÃO MÁXIMA
A Sebes financia três serviços institucionais de Casa de Passagem na cidade, com 100 vagas, distribuídas entre Albergue Noturno (50 vagas), Esquadrão da Vida (30 vagas para homens) e Comunidade Bom Pastor (20 vagas para mulheres).
Com 68 anos de atuação, o Albergue Noturno constata, mês a mês, o aumento na população de rua. "Já há um tempo estamos atendendo em lotação máxima, com 64 leitos - 14 a entidade mantém. Muitas vezes, colocamos mais alguns colchões no chão para atender ao máximo, em dias quentes. Isso era visto apenas em meses mais frios. Isso mostra muito bem o aumento dessa procura e ainda assim, encontramos pessoas na rua", afirma a coordenadora do Albergue, Francine Tamos.
Ela destaca que a população de rua está cada vez mais variada, contando até com pessoas que tiveram acesso ao ensino superior. "A dependência das drogas e do álcool tem sido um agravante, trazendo pessoas de diferentes classes econômicas para essa realidade", conclui.
Leia mais: 'A gente quer um oportunidade'