Alberto Consolaro

Vírus entram, mas não saem do corpo?

19/09/2020 | Tempo de leitura: 2 min

Raramente alguém passava dos 30 antes de 1900. Morrer jovem era comum e os mistérios eram muitos, afinal o conhecimento não existia! Não havia antibióticos, nem analgésicos e antinflamatórios, nem mesmo existia anestesia e muito menos, as vacinas. Sem estas invenções maravilhosas não estaríamos cá a escrever e, vocês, a lerem! Tudo muito recente, evoluímos muito em tão pouco tempo.

Os parasitas, fungos e bactérias são muito grandes perto dos vírus que são tão pequenos que se acham protegidos apenas dentro de nossas células. Fora das células, vírus são muito frágeis, com raras exceções. Até parece que fizeram um acordo e cada vírus atua em um tipo de célula, parece que recebem uma senha ou chave proteica e cada um tem o seu tipo preferido. Esta afinidade de um vírus por um tipo celular é chamada de tropismo.

São trilhões de tipos virais, uma quantidade indescritível. Alguns ainda limitados a florestas, geleiras e animais. Novas doenças aparecem a cada momento, pois são liberados vírus constantemente e ainda mais: os vírus sofrem mutações diárias! Quando entram nas células, os vírus se incorporaram nos genes gestores das células parasitadas, verdadeiras fábricas de proteínas. Incorporados, os vírus podem ditar os seguintes destinos:

1.Manipula os genes e informações para que a célula possa fazer o que ele tem como missão: reduplicar-se incessante e silenciosamente aos bilhões a cada momento. A pessoa vira produtora e infectante de novos vírus, e na grande maioria nem fica sabendo. Muitas doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson, diabetes e outras tem causas desconhecidas e depois descobre-se que são virais.

2.Uma parte dos vírus, ao usar as células, elas ficam lesadas, machucadas e até morrem, o que provoca um quadro clínico de sinais e sintomas caracterizando uma doença como o herpes simples, zoster, papiloma, sarampo, caxumba, meningites, gripes e muitas outras.

3.A incorporação do vírus pode gerar problemas pois com o DNA modificado pelo vírus, as células podem assumir autonomia e gerar um clone livre e independente dentro do corpo, ou seja, gerar neoplasias benignas e malignas como o papiloma, alguns carcinomas, neoplasias hepáticas, certos linfomas, condilomas e muitos outros.

4.Muitos vírus entram em nós, nem sabemos e, absolutamente, não fazem nada de diferentes. Ficam latentes e a qualquer momento podem ser estimulados a agir em uma das três formas anteriores. Essa quebra de latência pode ser décadas depois como, por exemplo, quando não se toma vacina e a criança desenvolve catapora, também chamada de varicela. Depois de curada tem vida normal, mas os vírus ficam latentes nos nervos! Depois dos 50, este vírus pode sair da latência e a doença terá uma nova forma chamada de Zoster.

Por estas razões, nunca vale a pena se contatar e infectar-se por qualquer vírus, eles são imprevisíveis e não sabemos o que farão com as células e órgãos. O melhor é ficar distante deles. Podemos até saber como e quando entram, mas em geral, amam nossas células e ficam por lá indefinidamente. Tô fora!

(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista do Caderno Ciências do JC)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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