Conversando com o Bispo

Não podeis servir a Deus e ao dinheiro - Ano C

18/09/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Parece que Jesus no Evangelho da Missa de hoje - Lc 16,1-13 - elogia tanto uma coisa quanto a outra, a desonestidade e a esperteza que são coisas bem diferentes, uma é defeito outra é qualidade se for aplicada para o bem. Mas não é bem isso que Jesus estava falando aos seus discípulos. Tanto que, conforme Ele diz, um administrador ao mesmo tempo perde o seu emprego porque é desonesto, ou seja, ele esbanjava os bens do seu patrão, quanto é elogiado porque é sagaz ao usar o dinheiro injusto para fazer amigos. O administrador, prevendo que perderá o emprego e que, a essa altura da sua idade e padrão de vida não tem mais força para cavar e para mendigar tem vergonha, sabe muito bem como procederá para que alguém o receba na sua casa quando for despedido. Ele chamou cada um dos devedores do seu patrão e fez o seguinte: a um que devia 100 barris de óleo reduziu para 50, a outro que devia medidas de trigo, para 80. A esperteza do administrador desonesto está em fazer amigos mesmo com dinheiro sujo, razão pela qual mereceu o elogio do seu patrão. Assim sendo, Jesus dizia aos discípulos: "Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz. E Eu vos digo, usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas". Jesus fala da única maneira de lavar o dinheiro sujo, tornando-o limpo, mediante a operação benevolente de compartilhá-lo com os pobres.

Na sequência, Jesus chama a atenção para outro aspecto importante sobre o dinheiro, opondo contra a ganância e usura as exigências das novas relações de justiça, fraternidade e misericórdia do Reino de Deus. Todo discípulo deve cuidar de indagar sobre as suas verdadeiras intenções, seus motivos mais profundos e seus propósitos-fins quanto a tudo o que faz e pelo qual luta na vida. Inclusive se lutar para ajuntar bens, progredir e enriquecer deverá, previamente, responder às perguntas sobre o sentido, o porquê e o para que fazer isso tudo, cansar-se e esgotar-se. Eis porque Jesus insiste em repetir para os seus discípulos que faz parte da pertença ao Reino de Deus decidir-se claramente por Deus e pela solidariedade e partilha com os seus filhos mais pobres que são nossos irmãos. É por isso que Jesus diz com toda clareza: "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro".

O culto à riqueza ou uma religião burguesa de busca por segurança e bem-estar que giram ao redor do próprio interesse é idolatria ao deus "mammona" como evoca este vocábulo aramaico que significa "confiar ou apoiar-se no dinheiro ou em qualquer outro bem material". Quem confia e apoia-se no dinheiro como a seu senhor e o fim último da existência fecha-se na "idolatria do eu" e se incapacita a crer em Deus Pai de todos.

Nosso povo em geral, na sua simplicidade, costuma dizer que toda pessoa que quer ganhar sempre mais e ter uma vida sempre melhor acaba caindo no vício da ganância. A ganância é perigosa porque não gera felicidade, não traz tranquilidade, não pacifica o próprio coração nem com a sua consciência, nem com os outros, nem com Deus. É uma doença da alma, um pecado. Inclusive uma tolice, porque vem a morte, o corpo vai à sepultura e ele se apresenta em pessoa diante de Deus com as mãos vazias dos bens do Reino, das obras de misericórdia, e sem ter, com ouvimos do Evangelho, "os amigos que o ajudarão a entrar nas moradas eternas". Para concluir, Jesus diz aos discípulos: "Por isso, se vós não sois fiéis no uso do dinheiro injusto, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso?" Na lógica de Jesus, não se pode servir ao mesmo tempo a Deus e ao dinheiro.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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