ENTREVISTA DA SEMANA

Milton Bassoto Júnior: delegado com missão no ensino

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Arquivo pessoal
Milton Bassoto recebeu a medalha Coroliano Nogueira Cobra pelos 30 anos de docência
Milton Bassoto recebeu a medalha Coroliano Nogueira Cobra pelos 30 anos de docência

Influenciado por familiares militares, o delegado aposentado e professor da Academia de Polícia do Estado de São Paulo (Acadepol) Milton Bassoto Júnior, 61 anos, demonstrou desde cedo interesse em armas. Sua trajetória, porém, começou distante da polícia.

Nascido em Bauru e com formação em técnico em mecânica, iniciou a graduação em engenharia, quando percebeu a necessidade de mudança de rota e, no Direito, encontrou sua vocação. Com diploma em mãos e decidido a ser delegado - e a casar-se com Carla, com quem viria a ter os filhos Marcela a João Pedro, estudou intensamente durante um ano até ser aprovado em concurso público, em 1990.

Na carreira, teve passagem marcante em Araçatuba, bem como em Bauru, onde foi delegado titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) e da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise). Ao longo da jornada, esteve à frente de casos complexos, como o latrocínio de um empresário e o homicídio de um jovem universitário. Fora das investigações, Bassoto também se destacou no esporte, sendo campeão de competições de tiro e ciclismo, além de entusiasta do tênis.

Mesmo aposentado, ele continua a compartilhar sua experiência como delegado e conhecimento em armamento e tiro com as novas gerações de policiais na Acadepol. Pelos 30 anos de docência, recebeu no final de 2024 a medalha Coroliano Nogueira Cobra, uma homenagem ao seu compromisso permanente com a segurança pública. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

JC - O que o levou a tornar-se policial civil?

Milton - Meu irmão mais velho é coronel do Exército e um tio foi coronel da Polícia Militar em São Paulo. Sempre gostei de arma, mas me formei como técnico em mecânica no CTI e fui cursar engenharia mecânica na Fundação Educacional de Bauru, quando percebi que não gostava tanto assim de ciências exatas. Aos 19 anos, passei em um concurso do Estado para trabalhar como agente de saneamento em Bauru. Decidi deixar a faculdade e fui fazer direito na ITE, conciliando com este trabalho. Eu me formei em 1987, quando comecei a prestar concurso para delegado.

JC - Foi cursar Direito já com este propósito?

Milton - Sim. Assim que me formei, fiz concursos sem estudar e não fui aprovado. Quando a Carla e eu começamos a pensar em nos casar, precisava ampliar a renda e meu tio Alexandre Cury me incentivou nos estudos. Passei a estudar de 10 a 12 horas por dia e, depois de um ano, em 1990, fui aprovado. Saí do trabalho de agente de saneamento, fiz a formação na Acadepol e, em dezembro daquele ano, comecei a trabalhar no Capão Redondo, em São Paulo. Seis meses depois, eu me casei e, após um mês, consegui minha transferência para Barbosa, cidade próxima a Penápolis.

JC - Trabalhou por muito tempo lá?

Milton - Fiquei seis anos lá. Em 1993, quando ainda estava em Barbosa, fui aprovado em concurso para ser professor da Acadepol e passei a dar aulas de armamento e tiro, defesa e condicionamento físico, mas foquei mais em armamento e tiro. Em 1997, fui para Araçatuba, onde fiquei por 11 anos. Lá, fui diretor da cadeia, depois delegado assistente da DIG e acumulei também a titularidade de distritos policiais (DPs) de algumas cidades da região. Na Delegacia Seccional, fui coordenador do Garra e fiz parte da equipe corregedora. Também fui, por dois anos, corregedor auxiliar assistente do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter) de São José do Rio Preto, que na época abrangia a Seccional de Araçatuba. Mas fazia este trabalho dentro da seccional, algo que não existia na época. Foi uma experiência complicada.

JC - Depois deste trabalho, retornou a Bauru?

Milton - Antes, virei primeiro assistente da Dise, depois titular de um DP e, em 2008, consegui transferência para Bauru. Foi um início difícil, porque naquele ano houve a famosa greve da Polícia Civil, que começou em Bauru. Aqui, fui delegado assistente da DIG e, depois, titular. Na sequência, assumi a titularidade da Dise, voltei para a assistência e fui titular do 3.º DP. Como dava aulas no horário de trabalho como policial - o que todo professor fazia - acabei sendo transferido para o Plantão Policial. Mas, ao me tornar policial de primeira classe, passei a assistente de DP na Central de Polícia Judiciária e me aposentei como assistente da Dise em 2018.

JC - Quais casos foram marcantes na carreira?

Milton - Há vários, mas, em Bauru, um que esclarecemos foi o do latrocínio de um empresário que foi rendido por um funcionário de sua fazenda e morreu no banco de trás da sua caminhonete, em um capotamento enquanto era vítima de sequestro-relâmpago. Outro foi o de uma costureira idosa vítima de estupro e latrocínio praticado por um usuário de drogas. Em Araçatuba, também esclarecemos o homicídio de um jovem (estudante da Unesp de Bauru) morto a golpes de macaco hidráulico a mando do ex da sua namorada. Até hoje, tenho a coleção de CDs do Pink Floyd que era dele e o pai me deu.

JC - Ainda participa de campeonatos de tiro?

Milton - Quando retornei a Bauru, praticamente parei, mas já fui campeão paulista IPSC (Confederação Internacional de Tiro Prático) revólver policial e vice-campeão algumas vezes, além de vice-campeão em saque rápido em uma prova federada. Também tenho medalhas de torneios regionais, fiz parte da equipe de Araçatuba campeã de um edição dos jogos do Deinter, que não existem mais, e fui árbitro da federação.

JC - Também gosta de esportes, correto?

Milton - Fui campeão duas vezes da Copa Pedal Sem Limites, de mountain bike, na categoria 55 a 59 anos. Hoje, pedalo 50, 60 quilômetros de três a quatro vezes por semana, mas não mais em competições. Pedalar ajuda a arejar a cabeça, gosto de sair com as turmas. Também gosto muito de jogar tênis, mas ganhei apenas um ou outro troféu no BTC. Na última barragem (divisão por nível), fiquei em terceiro lugar entre 36 competidores.

Com a filha Marcela, a esposa Carla, o filho João Pedro e a cachorra Gigi
Com a filha Marcela, a esposa Carla, o filho João Pedro e a cachorra Gigi
Na época em que era delegado da DIG de Bauru, em 2009
Na época em que era delegado da DIG de Bauru, em 2009
Com a irmã Márcia e os pais Irene e Milton, na formatura do curso de Direito
Com a irmã Márcia e os pais Irene e Milton, na formatura do curso de Direito

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