COLUNISTA

Teremos menos dentes ou é lenda urbana?

Por Alberto Consolaro |
| Tempo de leitura: 3 min
Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC
M. Ponce de León und Ch. Zollikofer
Crânio do Homo primitivo de Dmanisi na região da Geórgia na Eurásia, um dos mais primitivos e foi capa da Science
Crânio do Homo primitivo de Dmanisi na região da Geórgia na Eurásia, um dos mais primitivos e foi capa da Science

Os amigos que incluíram visitas a museus com exposições sobre a evolução da espécie humana ficaram decepcionados com os mais primitivos dos homens e seus dentes semelhantes aos de hoje.

No passado, eu aprendi e ensinei, que os humanos teriam uma tendência de diminuir os dentes para um incisivo, canino, pré-molar e dois molares em cada lado. Foi ensinado que tínhamos três incisivos, um canino, três pré-molares e quatro molares, em arco dentário bem maior.

Isto seria pela alimentação obtida na natureza ter sido transformada pela agricultura e industrialização, deixando-a mais fácil de ser triturada. Seria uma forma de adaptação do corpo ao mundo atual, mas não é!

Instabilidade

Em algumas populações chega-se a se ter mais da metade das pessoas com alguma ausência dos terceiros molares, ou até mesmo dos quatro de uma vez. A forma destes dentes tende a ser variável, incluindo seu tamanho. Isto dá uma ideia que este dente estaria desaparecendo, mas não está. A posição deles, são igualmente instáveis e induzem problemas em relação ao dente vizinho, inflamações e cistos, sem contar algumas neoplasias benignas.

A ausência congênita de um ou alguns dentes se chama anodontia parcial e é muito frequente, chegando-se afetar até 35% das pessoas, sem contar as ausências dos terceiros. Nos europeus, os dentes mais ausentes são os segundos pré-molares superiores e ou inferiores. Nos estadunidenses, o incisivo lateral superior é o mais ausente, enquanto nos orientais é o incisivo central inferior. No Brasil, a maior frequência está associada à origem da colonização da região.

Nas famílias com anodontia parcial, alguns membros podem ter os dentes que os outros tem ausentes, mas em formato conoide e tamanho reduzido, pois o gene não atuou completamente.

Extranumerários

Para contribuir com esta “teoria da evolução dos dentes” têm pessoas que se apresentam com muitos dentes extranumerários. Estes dentes a mais, permitem sugerir hipóteses de que seriam manifestações de uma terceira dentição que um dia os ancestrais teriam tido, mas nunca foram vistas. Algumas pessoas têm um quarto molar, um em cada lado. Este dente a mais é chamado de quarto molar de Bolk e pode ser indistinguível dos normais.

Depois de visitas aos museus que estudam e expõem espécimes humanos mais primitivos, os que aprenderam e ensinaram que os dentes estão diminuindo ficam com um sabor de decepção, pois até hoje eles têm a mesma forma, tamanho e posição no homem atual.

Tem uma questão que intriga os cientistas que não conseguem explicar. Qual seria a razão dos fósseis mais primitivos dos humanos apresentarem-se quase sempre com os dentes bem alinhados em um arco bem constituído?

Reflexões finais

Com base na ciência, não podemos dizer que o número de dentes está diminuindo com o tempo, e nem que o tamanho dos dentes está se reduzindo, pois está igual aos homens mais primitivos já encontrados. Não existe qualquer evidência científica de que isto esteja acontecendo, apenas teorias e conjecturas encantadoras não suportadas em evidências.

Nos humanos, apenas uma mutação no DNA ocorre a cada 100 anos para o corpo como um todo se adaptar ao mundo.  Não deu tempo para mudar tão rapidamente os dentes, ou seja, a dentição não sofreu alterações.  

Alguém pode dizer que não acredita nisto, mas ressalta-se que acreditar é coisa de religião e política. Em ciência, o que vale são os fatos e os dados apresentados à comunidade científica da qual o Brasil faz parte com suas revistas, dissertações, teses e universidades reconhecidas pelo mundo.

O número de dentes humanos é 32, mas os problemas clínicos decorrentes da instabilidade numérica, morfológica e da posição dos terceiros molares, leva-nos afirmar que o ideal seria termos 28, mas isto não está sob nosso controle e vem desde os primórdios da civilização.

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