Mais temida facção criminosa do Brasil, o PCC (Primeiro Comando da Capital) monitora os passos dos rivais do CV (Comando Vermelho) no Vale do Paraíba, região líder de homicídios no estado de São Paulo. O governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como revelou OVALE em primeira mão, atribuiu os altos índices de violência na RMVale à guerra travada entre o PCC e o CV, com os criminosos do Rio de Janeiro tentando conquistar terreno em SP.
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O início das tensões entre as facções foi noticiada por OVALE, com exclusividade, já em 2018. À época, 'irmãos' do PCC iniciaram o mapeamento de seus inimigos -- de acordo com fontes da inteligência policial, integrantes do CV chegaram a ser sequestrados e agredidos, a partir de 2017. De acordo com Tarcísio, houve uma escalada no conflito entre PCC e o Comando Vermelho.
"Se a gente pegar o mapa de São Paulo, vai ver que onde morre mais gente é justamente no Vale do Paraíba. E aí tem uma ação, uma tentativa de entrada no território de São Paulo por organizações criminosas do Rio de Janeiro e a contenção do Primeiro Comando da Capital”, afirmou o governador em evento sobre segurança pública com ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), na última sexta-feira (ver aqui).
O PCC, inclusive, chegou a fazer um 'mutirão' de batismos em suas fileiras no Vale para enfrentar as facções cariocas. Vale lembrar que a RMVale é um importante corredor entre os dois principais mercados consumidores de droga no Brasil -- São Paulo e Rio.
"Na época, com a guerra com a FDN (Família do Norte) e CV, eles [PCC] sequestraram alguns aqui [no Vale]. E achamos que iriam matar os CVs, só que não mataram, só bateram", disse à época um policial envolvido com o combate contra o PCC na região. "Qualquer problema com o CV, tenho a impressão de que vão mandar matar os que estão na região. Já estão todos mapeados", complementou.
À época, o monitoramento da inteligência policial indicava a presença de 'biqueiras' do CV em municípios do Vale Histórico -- atualmente é a área com mais homicídios em todo o estado -- e Litoral Norte, principalmente Ubatuba, oriundos de Paraty (os que estão em Ubatuba), Volta Redonda e Rio (estão no Vale Histórico).
Guerra.
De acordo com o governador de São Paulo, conforme revelou OVALE, a RMVale é o campo de batalha entre os 'irmãos' do PCC, facção que foi criada em Taubaté em 1993 e se espalhou por todo o país, e os criminosos cariocas de grupos como o CV, TC (Terceiro Comando) e o ADA (Amigos dos Amigos). Em disputa estão o controle de pontos de venda de droga, no 'varejo', e também o domínio de uma área estratégia, por onde o crime organizado escoa 90% das drogas e armas que abastecem facções no Rio de Janeiro.
Como resultado, na avaliação de Tarcísio, os índices de homicídio no Vale estão em um patamar muito mais elevado do que no restante do estado -- na RMVale, a taxa é de 11,75 vítimas de homicídio por cada 100 mil habitantes; no estado a taxa é de 5,96, enquanto na capital é de 4,45, na Grande São Paulo é de 5,19 e no interior é de 6,99. Traduzindo: o Vale tem três vezes a taxa da cidade de São Paulo ou mais do que a soma da capital e Grande São Paulo.
Segundo Tarcísio, nas demais regiões do estado há hegemonia do PCC, o que eliminaria as disputas por pontos de tráfico de drogas e, consequentemente, acarretaria em menos conflitos e mortes. Revelada em 2010, em uma série de reportagens de OVALE, a liderança do Vale no ranking da violência teve início em 2010.
Mortes.
"Quando eu falo da gravidade do crime organizado a gente tem que entender que a coisa é séria (...) 80% dos homicídios no Brasil estão relacionados ao tráfico de drogas e ocorrem em disputas de vendas de drogas. Por que São Paulo tem uma das menores taxas [de homicídios] do Brasil? Porque aqui temos uma facção hegemônica [PCC], temos pouca disputa. E onde é que o estado de São Paulo tem os maiores índices de homicídio? Justamente no Vale do Paraíba", afirmou o governador a OVALE, em abril deste ano.
Diante do quadro, Tarcísio, reforçando o que havia sido prometido na campanha, afirmou que o Vale é prioridade no combate ao crime, ao lado da capital e da Baixada Santista.
"E isso é um reflexo da proximidade com o Rio de Janeiro. Isso é o crime organizado tentando, com as facções criminosas do Rio de Janeiro, ingressar no território de São Paulo e a contenção da facção hegemônica de São Paulo. É o Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigo dos Amigos contra o PCC. Eles tentam entrar no território paulista e são contidos, mas aí tem disputa pelos pontos de drogas. É por isso que os índices de homicídios no Vale do Paraíba são muito maiores do que no restante do estado todo. Há uma hegemonia de uma facção no estado todo [PCC] e há uma disputa no Vale do Paraíba. Por isso que eu falo, o tráfico de drogas é uma coisa muito séria, muito grave, e precisa ser combatido", afirmou o governador.
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