OPINIÃO

Franca, meu pai e o direito previdenciário

Por Tiago Faggioni Bachur | Especial para o GCN/Sampi Franca
| Tempo de leitura: 4 min

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Introdução

No último dia 28 de novembro, Franca celebrou seus 200 anos de existência. Recentemente apontada como a segunda melhor localidade para se viver, a cidade que viu nascer a indústria de calçados e a paixão pelo basquete também moldou histórias de superação, trabalho duro e honestidade. Para mim, porém, esta data carrega ainda mais significado: se estivesse entre nós, meu pai, Faisal Bachur, o Nadim, completaria 90 anos neste mesmo dia 28. Um homem que, com sua coragem e caráter, deixou um legado que transcende a família e ecoa na minha profissão, no Direito Previdenciário, e na vida de muitas pessoas.

Em um cenário onde a força do trabalho e a resiliência constroem histórias, Franca e meu pai têm muito em comum. Assim como a cidade enfrentou desafios para se consolidar como referência no Brasil, meu pai também teve que lutar. E foi essa luta que me levou a transformar dificuldades em oportunidades — tanto para mim quanto para milhares de pessoas que buscam seus direitos no INSS.

Desenvolvimento

Franca é uma cidade de tradições. Do tradicional café ao prato JK, que é a cara da simplicidade e da hospitalidade paulista “amineirada” francana, às movimentadas ruas do comércio no calçadão, tudo aqui respira trabalho e superação. Foi nesse cenário que cresci, cercado pela determinação de um pai comerciante e autodidata e pela garra de uma mãe comunicadora nata.

Porém, a Franca de hoje não é mais apenas o café e a indústria calçadista que a consagraram como destaque nacional e internacional. A cidade se reinventou. Nos últimos anos, vem ganhando espaço em outros segmentos, como tecnologia, serviços e educação. Franca, com sua capacidade de adaptação, tem provado que tradição e inovação podem caminhar juntas. O mesmo espírito de superação e empreendedorismo que marcou sua história continua pulsando em novos mercados e iniciativas.

Mas a Franca dos anos 90 não era apenas o lar de oportunidades. Era também uma cidade onde, como em muitos lugares do Brasil, o acesso à previdência social era cercado de burocracia e desinformação. Em 1996, quando meu pai deu entrada em sua aposentadoria, o que parecia um direito se tornou um pesadelo. O processo foi uma batalha que nos testou como família por longos anos. Foi aí que comecei a me transformar.

Até então, o Direito Previdenciário não fazia parte da grade da faculdade. Tive que aprender sozinho, motivado por algo maior: ajudar meu pai. Ao mergulhar nos livros e na legislação, descobri um mundo que ia além do nosso caso. Percebi que muitas pessoas estavam na mesma situação, enfrentando um sistema que parecia feito para desestimular, e não para proteger.

Meu pai (Nadim), com sua honestidade inabalável, e minha mãe (Wilma), com sua perseverança, não desistiram — assim como Franca nunca desistiu de crescer e prosperar, mesmo diante das crises econômicas. Foi dele que herdei a coragem de aprender e persistir. De minha mãe, a perseverança e a habilidade de me comunicar, buscando conexões. Com isso, dei os primeiros passos na advocacia previdenciária.

O Direito Previdenciário, que começou como uma necessidade pessoal, logo virou uma missão. Em 2007, publiquei meu primeiro livro, graças à confiança de Francisco, da Editora Lemos e Cruz. A partir de 2008, comecei a ensinar, levando o conhecimento que adquiri para outros advogados e ajudando-os a transformar vidas em Franca e além.

Franca, a cidade do trabalho, foi também o berço de muitas inovações na área previdenciária. Meu escritório, fundado com base nos valores que aprendi com meu pai, mudou a forma como o Direito Previdenciário era visto e praticado. Criamos estratégias, ajudamos pessoas e transformamos o que antes era um obstáculo em um trampolim para conquistas.

E, ironicamente, foi o caso mais difícil que me deu a maior vitória. Em palestras e eventos, muitas vezes repetia com emoção: “Nenhuma aposentadoria custou tanto ao INSS quanto a do meu pai. Se tivessem concedido o benefício de forma rápida, talvez eu não tivesse me aprofundado nos estudos, escrito livros ou ajudado tantas pessoas.”

Conclusão

Franca, com seus 200 anos, é mais do que a soma de suas ruas, praças e histórias. É um símbolo de trabalho, resistência e transformação. É o palco onde meu pai me ensinou a nunca desistir, minha mãe me mostrou o poder da comunicação e onde transformei o Direito Previdenciário em uma ferramenta de justiça.

Neste aniversário, celebro minha cidade e meu pai, que, mesmo sem saber, ajudou a moldar um caminho que mudou vidas. Franca e meu pai compartilham a essência de quem persiste, se reinventa e inspira.

E assim, entre o prato JK e a luta por aposentadorias, entre as crises do comércio e da indústria e as conquistas do Direito Previdenciário, Franca não é apenas onde eu nasci. É onde aprendi a transformar dificuldades em soluções e a ajudar os outros a fazerem o mesmo.

Que, nos próximos 200 anos, Franca continue sendo a cidade que ensina e transforma, expandindo suas fronteiras e abraçando o futuro sem esquecer suas raízes. E que o legado do meu pai, Faisal Bachur, ecoe em cada vitória que comemoramos no campo da justiça social.

Parabéns, Franca! E obrigado, meu pai!

Tiago Faggioni Bachur é advogado, especialista e professor de direito previdenciário e autor de obras jurídicas.

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Comentários

1 Comentários

  • Luiz Gonzaga Ferreira 2 dias atrás
    Parabéns Tiago, emocionante seu relato, e quem conheceu o Nadim, aplaude tudo o que vc falou sobre ele. Belas lembranças.