HIGIENE

Cuidados íntimos não podem ser exagerados

Por Luísa Giraldo |
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução

A rotina de tratamentos com a pele, o "skincare", compõe a prática de autocuidado há anos. Agora, essa atenção chega ao extremo com o "self-care íntimo", voltado para a região da vulva.

Não demorou para que o mercado oferecesse alternativas como desodorantes, perfumes, cremes e hidratantes para a genitália feminina. Embora a motivação pareça positiva, a prática pode levar mulheres a consumirem produtos que façam mal à vagina e a desenvolverem mais inseguranças em relação ao próprio corpo.

Nas redes sociais, bombam os conteúdos produzidos sobre "higiene íntima". Geralmente, influenciadoras de beleza compartilham produtos, "truques" e formas de disfarçar o cheiro íntimo feminino.

Segundo a ginecologista e obstetra Carolina Alves, a vagina tem, naturalmente, um pH ácido, que a protege contra infecções. O uso de produtos íntimos pode alterá-lo, facilitando a ocorrência de infecções bacterianas e fúngicas. A profissional argumenta que a região íntima feminina tem uma capacidade de se "autolimpar", dispensando o uso de quaisquer outras formulações senão água e sabão neutro: "Alguns produtos possuem álcool e ingredientes irritantes, o que pode causar coceiras e irritações. O risco é agravado para quem tem a pele sensível".

Carolina reconhece que há, culturalmente, uma associação da "percepção genital da mulher com a sujeira". Com frequência, a profissional se depara com pacientes à procura de métodos para camuflar aspectos naturais da vulva.

"São tentativas de matar bactérias que fazem parte da flora vaginal, o que desequilibra o pH e pode trazer questões psiquiátricas. É uma busca por algo que não existe", afirma.

Na adolescência, a sexóloga Mariah Prado, de 29 anos, percebeu que sua genitália era distinta daquelas exibidas pelas atrizes de filmes adultos. Nas telas, as vulvas eram "super simétricas e branquinhas", sem cicatrizes ou pelos.

"Quando iniciei a vida sexual, comecei a ter insegurança em relação ao cheiro e ao gosto. Não deixava os meus parceiros fazerem sexo oral em mim. Não tinha ninguém com quem falar sobre isso", lamenta ela, que fundou a plataforma de educação sexual feminina Share Your Sex (SYS): "Experimentei desodorantes íntimos, mas me sentia insegura, eram cheiros muito artificiais. Não queria mascarar com um cheiro aleatório, só queria um odor 'natural', que fosse bom. Depois, descobri que ele já era, eu só não sabia."

Maioria está insatisfeita

A pesquisa "Os estigmas da vagina", feita pela marca Intimus em 2020, descobriu que 68% das brasileiras não se sentem satisfeitas com a própria vulva. Os pelos, a cor e o cheiro são as características que mais incomodam, respectivamente com 33%, 18% e 18%. A partir do crescimento da categoria de cosméticos íntimos, a educadora sexual Clariana Leal sugere que se busque um equilíbrio: "Temos que ficar muito atentas. Não param de surgir produtos para que as mulheres fiquem cada vez "melhores". Ao olharmos a quantidade de produtos estéticos femininos em comparação aos masculinos, a disparidade é absurda. Ela alerta para o risco de as mulheres perderem a percepção sobre o corpo: Produtos que mascaram o odor da vagina podem impedir que a mulher note possíveis condições de saúde que devem receber atenção médica. Evite-os. Ao notar qualquer mudança, busque um profissional para o acompanhamento adequado.

Sempre alerta

Impacto no sexo

De acordo com a ginecologista e obstetra Carolina Alves, o odor vaginal tem feromônios, uma substância química capaz de "atrair, de fato, um parceiro". A psicóloga Laura Meyer, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana (SBRASH), observa um movimento recorrente nos consultórios: rejeição das partes íntimas por pacientes. Invariavelmente, a insegurança se desdobra no sexo, sobretudo a partir da inibição nas práticas orais. "O perfume anula um cheiro que é importante para o sexo oral. Existe a ideia que a vulva tem cheiro ruim. Mas é excitante para quem gosta".

Escolha os produtos certos

A flora vaginal é muito delicada e pode ser facilmente desregulada, diz Clariana Leal. Por essa razão, ela indica que sempre sejam usados ingredientes e formulações criadas especialmente para a região íntima e com testes ginecológicos. No entanto, alerta sobre malefícios dos cosméticos que mascaram características naturais. Formulações como hidratantes e óleos para a virilha, por outro lado, são bem avaliados: é uma região sensível que sofre atrito devido à depilação, tecidos sintéticos e peças apertadas. Para a vulva, ela recomenda só lubrificantes, sobretudo em casos de ressecamento.

Fórmulas naturais

Mariah Prado garante que há mulheres que só vão se sentir seguras e confortáveis com o uso de algum produto - e está tudo bem. Nesses casos, a sexóloga recomenda que elas procurem fórmulas naturais.

Fale com o Folha da Região!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários