BEM ESTAR & CIA.

Atitude: uma geração relax

Por Raquel Pereira |
| Tempo de leitura: 3 min
Ana Branco/Agência O Globo
Kamila Monteiro, de 30 anos, faz parte da geração relax, que une gênero musical e literatura
Kamila Monteiro, de 30 anos, faz parte da geração relax, que une gênero musical e literatura

Acordar, se arrumar com rapidez para não atrasar, atravessar a cidade para trabalhar, pegar trânsito enquanto corre para a faculdade e, finalmente, esperar pelo momento de voltar para casa. Kamila Monteiro, de 30 anos, se vê sugada pela realidade acelerada, com estímulos por todos os lados. Assim, seria fácil acabar presa à tela do celular por horas a fio nos momentos que deveriam ser de descanso.

No entanto, a estudante de Pedagogia encontrou duas estratégias para conseguir estabelecer um período de relaxamento efetivo ao fim do dia.

O gênero musical lo-fi, ouvido principalmente em plataformas de vídeo e áudio, combinado com os livros de "healing fiction" ou "ficção de cura", em tradução livre, também chamados de "literatura de conforto".

"Eles me ajudam muito a relaxar porque sinto que minha mente desacelera. Os dois 'abafam' o ambiente ao redor, você se sente seguro e calmo, dentro de uma bolha", explica Kamila.

De acordo com a neurologista Bruna Gambirasio, especialista em neuro-oncologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em uma sociedade conectada por meio dos celulares e computadores como a nossa, os níveis de cortisol (hormônio responsável pelo estresse) das pessoas que passam muito tempo on-line tendem a ser mais altos:

"Nós vivemos um período em que tudo é muito acelerado e estimulante quando pensamos sob uma perspectiva cerebral. O cérebro é colocado em uma atmosfera multitarefas. Nela, uma pessoa faz várias coisas ao mesmo tempo, como ouvir uma música estimulante enquanto vai rolando o feed. Isso cria um acúmulo de estímulos e também gera sobrecarga de informações", completa.

Assim como Kamila, diversos jovens das gerações Z e millennials encontraram alento nesses recursos para fugir do estresse e da ansiedade provocados pela cobrança - principalmente mental - da rotina diária.

Nas mídias sociais e plataformas de vídeo, as comunidades em torno de leituras voltadas ao bem-estar e também a busca por músicas "calmas" não param de crescer.

A Intrínseca, uma das editoras responsáveis por trazer ao Brasil obras literárias com o perfil "de conforto", define o gênero como algo "que se passa em ambientes acolhedores e nos permite mergulhar no desenvolvimento dos personagens e nas relações humanas".

Um porto seguro em mares revoltos

Um dos livros do gênero mais conhecidos e vendidos no país é "Bem-vindos à Livraria Hyunam-dong", da coreana Hwang Bo-Reum. Nele, a personagem Yeongju abre uma livraria após questionar as escolhas feitas na sua vida até aquele momento. Em sua jornada, o local se torna um espaço de "cura" também para outras pessoas.

Segundo a psicóloga e professora Edna Ponciano, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), ao ler um livro, independentemente do gênero, a pessoa passa a estar presente no agora, enquanto ocorre uma combinação da própria experiência emocional e a do outro (o narrador).

"Com a literatura você tem uma experiência catártica e a possibilidade de expressar o que sente e não consegue elaborar. Por outro lado, uma diferença desse gênero literário é que ele é voltado para a superação dos problemas. Esse enquadro ajuda na ideia de que tudo vai ganhando sentido, se organizando, aí vem o clímax e a resolução de tudo que foi apresentado na narrativa", analisa.

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