'REI DO CARBONO'

Fraude e invasão: como agiu araçatubense no AM segundo Greenpeace

da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Marizilda Cruppe / Greenpeace Brasil
Fazenda Nossa Senhora das Cachoeiras do Ituxi: em área de Floresta Pública, propriedade foi beneficiária de financiamentos via crédito rural
Fazenda Nossa Senhora das Cachoeiras do Ituxi: em área de Floresta Pública, propriedade foi beneficiária de financiamentos via crédito rural

A Fazenda Nossa Senhora das Cachoeiras do Ituxi, em Lábrea (AM) – do médico e empresário araçatubense Ricardo Stoppe Júnior –, beneficiária de crédito rural ilegal via Banco da Amazônia, tem área total de 130 mil hectares e está sobreposta à Floresta Nacional do Iquiri em 68% de seu território.

Para a concessão de crédito rural, os bancos não podem financiar crédito para imóveis com sobreposição a Unidades de Conservação desde janeiro de 2024. Ricardo Stoppe Júnior é apontado pela Polícia Federal como responsável por um esquema de fraude em documentos e ocupação ilegal de terras da União na Floresta Amazônica.

O caso de Ricardo Stoppe Júnior consta de relatório minucioso de 176 páginas publicado em abril deste ano, no qual o Greenpeace – organização ativista ambiental sem fins lucrativos que atua desde 1992 na defesa do meio ambiente – revela como bancos nacionais e internacionais destinaram somente em 12 casos um total de R$ 43 milhões em crédito rural, entre 2018 e 2023, para imóveis envolvidos em diversas irregularidades na Amazônia. Um deles é o do médico araçatubense.

Financiamentos em 2019

O fazendeiro Ricardo Villares Lot Stoppe, da família de Ricardo Stoppe Júnior – personagem de reportagem do Fantástico da Rede Globo e conhecido como "Rei do Carbono", por negociar centenas de milhões de reais em crédito de carbono na fazenda em questão – conseguiu financiamentos via crédito rural com o Banco da Amazônia (Basa), dois em abril e um em junho de 2019. 

Segundo o Greenpeace, logo depois de obter os contratos de crédito, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) da Fazenda Nossa Senhora das Cachoeiras do Ituxi foi suspenso devido à irregularidades na propriedade. Porém, depois de ter seu CAR suspenso, Stoppe decidiu pedir um segundo cadastro para a mesma área. O registro foi feito em dezembro de 2020. Em junho de 2023, seu status aparece como “Pendente”. Com esse segundo registro, o fazendeiro não teve dificuldades para obter mais empréstimos, que foram concedidos pelo Banco da Amazônia, em fevereiro de 2021, para aquisição de bovinos e para compra de máquinas e equipamentos, com vencimento apenas para 2033. 

Dados de movimentação de gado também mostraram que em setembro de 2021, Stoppe comprou para engorda 500 bois da Fazenda Monte Alegre, propriedade que tem registro de área embargada, “demonstrando como o dinheiro do crédito rural pode ser usado para movimentar a cadeia de pecuária em propriedades rurais que não poderiam criar ou comercializar gado por conta do seu passivo ambiental e fundiário”, segundo denuncia a entidade.

"Irregularidades socioambientais"

“A investigação do Greenpeace identificou que o senhor Ricardo Stoppe comprou gado de uma fazenda que tem embargo e que está dentro de uma floresta pública não destinada. Vale ressaltar que esse fazendeiro tem crédito rural para a aquisição de animais desde 2021 com vigência até 2033, concedida pelo Basa, um banco público”, afirma a coordenadora de Florestas do Greenpeace Brasil, Cristiane Mazzetti.

“Esse caso mostra a importância de um maior rigor nas operações do crédito rural, para que esse dinheiro não vá para pessoas envolvidas com irregularidades socioambientais. É urgente que a instituição financeira monitore de maneira contínua e séria as áreas financiadas e que exija ou promova a rastreabilidade dos tomadores de crédito, entre outras medidas", prossegue.

Íntegra do relatório

Dados detalhados estão no relatório “Bancando a Extinção: bancos e investidores como sócios no desmatamento”, em que o Greenpeace Brasil traz uma série de demandas às instituições financeiras para prevenir que financiamentos como os de Ricardo Stoppe sejam concedidos.

Dentre as demandas está que os bancos devem verificar antes da concessão do crédito e periodicamente o cumprimento dos critérios socioambientais e se, constatado descumprimento, suspender a concessão e/ou liquidar antecipadamente a operação; vedar a concessão de crédito para imóveis rurais que tenham usado fogo de maneira ilegal e solicitar a rastreabilidade da pecuária e apresenação da Autorização para Supressão de Vegetação (ASV) caso haja desmatamento após julho de 2008.

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