DIA DO AMIGO

Amizade virtual complementa a real, mas não substitui

Por Nathália Santos | Jornal de Jundiaí
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação
As amizades que estão no cotidiano, mas às vezes não tão perto
As amizades que estão no cotidiano, mas às vezes não tão perto

O Dia da Amizade ou do Amigo, comemorado neste sábado (20), faz lembrar das amizades que estão no cotidiano, mas às vezes não tão perto. É cada vez mais comum manter contato com amigos pelo WhatsApp, mas também são cada vez mais raros os encontros com esses amigos. A internet faz com que nos comuniquemos mais e às vezes nos esquecemos de que é preciso encontrar amigos pessoalmente, pois isso é natural do ser humano.

Mara Almeida, de 38 anos, tem amizades feitas pessoalmente, que são mantidas principalmente pela internet, e amizades já feitas pela internet. “Tenho dois casos específicos. Tenho duas amigas, que conheci no trabalho, mas uma mora em São Paulo e outra em Paulínia, e temos filhas com idades próximas, mas nos vemos pouco, apesar de serem cidades próximas. Na correria, nos falamos mais por WhatsApp. O outro caso é que tenho um grupo de amigas pelo WhatsApp, que é um fã clube em comum. Nós nos conhecemos pelas redes e nos falamos só pelo WhatsApp, porque cada uma mora em uma região do país. Conheci duas delas, uma do Rio, que veio para São Paulo para comemorar o aniversário, e outra do Ceará, porque fui para lá de férias e aproveitei para vê-la.”

Para ela, as crianças têm mais consciência da importância dos encontros. “A presencialidade sempre faz falta. No caso das minhas amigas de São Paulo e Paulínia, não ter convivência prejudica a relação das nossas filhas também, porque elas brincam muito, se divertem quando se veem e não querem mais ir embora. As crianças não entendem esse convívio raro, com contato só pelas redes. Mas o relacionamento físico sempre faz falta, porque é diferente, tanto que só nos vemos em datas como aniversários, mas a amizade das nossas filhas nos obriga a marcar esses encontros.”

Julia Mendonça, de 28 anos, tem amizades de outras localidades e acha que a internet facilita a comunicação, mas que o contato não pode ser sempre assim. “A internet é uma ‘mão na roda’ em termos de manter amizades, na minha opinião. Para mim, que tenho amigos de outras cidades, estados e até países, acabou sendo a forma mais fácil de alimentar essa conexão fisicamente distante. Tem coisas que a gente tem que prestar atenção, como aqueles ‘vamos marcar’ que nunca saem do grupo. É claro que a vida acontece, as pessoas têm rotina e obrigações, mas a gente também sente falta do olho no olho. A pandemia foi uma grande prova de como a gente sente falta do contato humano e, mesmo que pudéssemos conversar por videochamada, ligação e mensagem, não é a mesma coisa.”

Para Julia, embora a tecnologia permita o contato, a presencialidade não tem substituição. “A amizade por WhatsApp nunca vai substituir os encontros presenciais. Para mim, o ser humano é social e físico. A gente precisa estar perto de outras pessoas, precisa desse contato. É o suficiente, sim, quando você não tem outra alternativa, mas não deve ‘ser prioridade’.”

Seres sociais
Sociólogo e psicólogo, Marcelo Limão diz que é do ser humano ser sociável e a socialização era necessidade para nossos antepassados, pois, para a sobrevivência precisavam se unir para caçar, por exemplo. “É como se as pessoas continuassem seguindo uma natureza humana, de relações sociais. Somos seres sociais, mas existe uma pressão de tempo. A gente se envolve com tantas coisas e talvez isso favoreça mais a utilização da internet, para não deixar de ter contato. Talvez as pessoas até prefiram se encontrar pessoalmente, mas não dá.”

O especialista diz que gerações mais novas, mais ligadas ao mundo virtual, já não sentem tanta necessidade de encontros pessoais. “As gerações mais velhas, dos nossos pais, avós, têm dificuldade com o contato virtual, porque acredita que não é completo. Mas gerações mais novas não conseguem estabelecer diferença entre o real e o virtual, então podem começar um relacionamento com alguém que mora longe, não se veem, mas não acham que tenha diferença. Nós nos relacionamos com as pessoas usando vários sentidos. No virtual, você usa a audição, visão, mas no pessoal você usa o olfato, o tato, então fica mais completo.”

Marcelo lembra de um pensador que fala sobre isso. “Zygmunt Bauman tem uma série de livros sobre a modernidade líquida e um é chamado Amor Líquido. Nesse livro ele explica um pouco desse fenômeno. Uma pessoa tem 1 mil seguidores, mas se sente só. A gente pode se perguntar como, mas há décadas existe o fenômeno do individualismo exacerbado, que acaba causando isso. Você não tem mais laços afetivos, tem conexões, que se estabelecem e se desconectam rápido. Ficamos com ‘preguiça’ para investir em amizades por não ter tempo.”

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