As Testemunhas de Jeová retomaram neste mês em todo o mundo o tradicional trabalho de pregação de porta em porta, batendo em casas, comércios e abordando pessoas nas ruas, depois de mais de dois anos suspenso por causa da pandemia. A receptividade, na maioria das vezes, é educada e amistosa, seja estabelecendo diálogo ou agradecendo o contato, conta Gilberto dos Santos, porta-voz regional da religião. No entanto, há ainda episódios de grosseria e resistência, que vão de ofensas verbais à violência física. As hostilidades, garante o religioso, só fazem com que a fé e a resiliência aumentem. "O bem tem de ser feito, não importa a reação", afirma.
Entre as Testemunhas de Jeová, quem realiza esse corpo a corpo para levar a mensagem bíblica é chamado de publicador ou divulgador. Para se tornar um, é necessário cumprir requisitos e passar por um treinamento. Mas há ainda cursos voltados para ensinamento bíblico, dos quais qualquer pessoa, independentemente da religião, pode participar (leia abaixo).
Gilberto conta que a maior parte das abordagens acontece de forma pacífica, com a pessoa ouvindo a mensagem dos religiosos ou simplesmente agradecendo a intenção. Agora, entre os relatos negativos, conta o porta-voz, as situações mais comuns são portas batendo na cara e respostas mal educadas. "Tem gente que pergunta se nós não temos o que fazer, questiona o que estamos fazendo na casa dela. Por isso você fica com um frio na barriga na hora da abordagem", revela ele, que já atuou como divulgador.
HOSTILIDADES
Entre os relatos, Gilberto conta que moradores já atiraram lixo neles e até soltaram os cachorros. Sem contar xingamentos, os mais comuns. "Já nos chamaram de vagabundos e tantos outros palavrões", lamenta. Em 2016, um integrante chegou a ser agredido com uma barra de ferro em Macatuba, conforme noticiou o JC à época. O agressor, segundo a polícia, tinha problemas psiquiátricos e tomava medicamentos. A vítima chegou a ser internada em estado grave.
Preservando os nomes, ele conta a história de uma senhora grosseira que, por mais de uma vez, recebeu os divulgadores de forma hostil. "Ela jogava água e chegou a dar vassouradas. Mas acho que, com o passar do tempo, a consciência pesou. Resultado? Ela foi escutar outras testemunhas, foi batizada na nossa religião e se tornou divulgadora das mensagens do reino. Passou os últimos anos da vida dela realizando esse trabalho", conta.
RESILIÊNCIA
Diante de situações duras, a orientação passada nos cursos é para as testemunhas manterem a serenidade e terem empatia. "Nos colocamos no lugar do morador. Às vezes, perdeu um parente, está com dor, está reativo por causa da própria vida difícil. Mas uma boa ação é como remover um montão de escombros. Você transpira, cansa, mas quando encontra uma alma viva ou disposta a receber ajuda, compensa todo esforço que você fez", define o porta-voz.