O ano voou e, de repente, nos damos conta: já é Natal novamente! E apesar de tudo, das tragédias, das guerras, das injustiças, da falta de fé, ele sempre retorna.
A atmosfera mágica nos envolve, nos deixamos levar pelo turbilhão de mensagens e nos rendemos ao apelo dos comerciais.
A figura lendária do Papai Noel, aquele velhinho rechonchudo e corado, que foi inspirado em São Nicolau, um monge que viveu no século IV e era muito generoso, chega montado em seu trenó encantado ao som dos guizos das renas, nos acena com as maravilhas do consumo exagerado. E o que fazemos é só consumir, consumir, como fantoches obedecendo a comandos, sem contestar.
Ainda teimo em acreditar no Natal como o fazia na minha infância...“deixei meu sapatinho na janela do quintal...”. Mas a vida nos força a crescer, a sermos adultos e a nos comportarmos como tal. E chego à conclusão, como diz o desfecho da marchinha natalina que “....felicidade é brinquedo que não tem, pois já faz tempo que eu pedi, mas o meu Papai Noel não vem, com certeza já morreu”...Crescemos e também cresce em nosso coração o desencanto, pois “pensava que a felicidade era uma brincadeira de papel”...
Desprovidos do encantamento infantil “...Natal da estrela guia, Natal do Menino Jesus...” e da visão simples das crianças que Natal é o aniversário do bebezinho rosado que nasceu em meio a palhas, carneirinhos, vacas e burrinhos, nos empanturramos de comes e bebes, trocamos presentes junto com farpas “civilizadamente” e acordamos de ressaca, com terrível dor de cabeça, num mundo no qual nada mudou: a violência continua aumentando a cada dia, a fome rondando milhões de pessoas, as guerras acontecendo e ceifando milhares de vidas, e a política dividindo e não unindo as pessoas e despertando sentimentos negativos, que nada de bom podem trazer.
O que fazer? Como reverter a situação? Existe um antídoto, uma fórmula mágica? “...paz na Terra pede o sino...”
Todo ano tenho recaídas. Sinto necessidade das emoções e sensações dos natais da minha infância. Preciso sentir o gosto, o cheiro e aquela euforia contagiante.
Anseio a volta daquele Natal divertido e simples. O Natal dos adultos é triste, marcado pela saudade e é muito complicado, já que a relação entre as pessoas é difícil. Natal das crianças é o Natal dos presentes, e dos adultos, dos ausentes. Natal do adulto é desencanto, melancolia. Natal das crianças é deslumbramento, alegria. “...noite feliz, noite de amor...”
Se Deus se faz criança no Natal, por que nós não podemos também?
Que bom agir como crianças, deixar a fantasia aflorar, e ver com olhos infantis a mágica estrela de Natal e enxergar as pessoas em sua essência e não pela sua posição social, pelo cargo que ocupam ou pelas cifras em suas contas bancárias.
Que delícia fugir do Natal consumista do estresse, do desânimo, da depressão, do medo e da preocupação e trocá-lo pelo Natal encantado da poesia, da estrela guia, da manjedoura rodeada de animaizinhos, da esperança e do arrebatamento mágico que nos eleva para perto de Deus e traz a verdadeira felicidade, aquela que o dinheiro não compra e ladrão algum consegue roubar. “bate o sino pequenino, sino de Belém, já nasceu o Deus Menino para o nosso bem”...
Natal é oração, introspecção e felicidade “....hoje a noite é bela, juntos eu e ela, vamos à capela, felizes a rezar...”
Ivana Maria França de Negri é escritora.