05 de dezembro de 2025
ARTIGO

A coragem de fazer o bem

Por Ivana Maria França de Negri |
| Tempo de leitura: 3 min

Hoje em dia, até para se fazer o bem é necessário ter coragem, porque dependendo de quem for o contemplado pela sua benemerência, as pessoas vão cair em cima de você com críticas ou zombarias. Parece que não existe a liberdade de agir e de pensar.

Cada ser humano é responsável pela sua vida, mas também tem sua parcela de responsabilidade pelo planeta em que habita. Para modificar o mundo são necessárias ações práticas. Discursos eloquentes, pouco adiantam. A famosa “mão na massa” é que funciona.

E cada um de nós nasce com talentos e habilidades peculiares. Uns têm pendor para as artes plásticas, outros para a música, outros ainda, têm facilidade para escrever ou para discursar. Uns têm mãos mágicas, que tocam as plantas e as fazem crescer viçosas. Parece que conversam silenciosamente com elas que os compreendem.

Algumas pessoas têm um jeitinho especial para lidar com crianças e adolescentes e se tornam educadores excepcionais. Outros se sentem à vontade trabalhando com idosos e serão seus eternos benfeitores. Há os que têm facilidade de trabalhar com números e se tornam físicos e matemáticos brilhantes. E há também os que sabem jogar com as palavras, mestres na arte de criar metáforas sutis, e acabam poetas. Outros abraçam a causa dos deficientes físicos ou mentais e se tornam seus anjos protetores.

Certas pessoas nascem com sensibilidade acima da média. Conseguem sentir na própria carne a dor que machuca os outros.

Desde que me entendo por gente, percebi que tenho essa empatia, mais aguçada que a da maioria, com relação aos seres chamados irracionais. Sinto em mim a dor deles. Tão grande esse sentir sua dor, que não como carne há mais de 40 anos. Quando escrevo, procuro dar voz a eles, que não a possuem. Mas parece que isso incomoda. Muitos ficam inconformados com esse meu trabalho em prol dos animais e sugerem que eu faça outros tipos de caridade e levante outras bandeiras que não essa.

Se Deus me legou essa sensibilidade, certamente não foi em vão. Alguma serventia há de ter. Talvez estivesse em seus planos que eu servisse a essa causa, que não é nem mais e nem menos merecedora de atenção do que qualquer outra.

Um dia, fatalmente, todos seremos chamados a prestar contas a Ele, que nos dirá: “O que fizestes com os pendores que vos concedi? Usastes vossos dons para fazer o bem?”

Muita gente utiliza sua energia vital apenas para multiplicar bens materiais e para ganhar notoriedade, fama, poder e dinheiro. E os dons recebidos ficam adormecidos, hibernando, apenas esperando o momento certo de despertar.

Quando acontece um fato marcante em suas vidas, uma tragédia, como a perda de um ente querido, essas pessoas acordam e saem do torpor, do seu mundinho robotizado e materialista, e redescobrem seu eu interno e os dons que mantinham em letargia.

É como se a vida desse um safanão de vez em quando, dizendo: “Acorda”!

Há que se ter coragem de praticar o bem, não importa a quem quer que seja. Não devemos atirar pedras no trabalho dos outros e nem crucificar quem é de outra religião, quem é vegetariano, ou de outra raça, ou que pense diferente da gente. Se Deus, que é só Misericórdia e Amor, criou o Sol para aquecer igualmente os bons, os maus, planta, bicho ou gente, quem somos nós para contestar?

Respeitemos as opiniões que divergem da nossa. Afinal, quem é dono da verdade?

E fazer o bem, não importa a quem, é sempre uma forma de melhorar o mundo.

Ivana Maria França de Negri é escritora.