05 de dezembro de 2025
ARTIGO

Magros no espelho, frágeis por dentro

Por Rogério Cardoso |
| Tempo de leitura: 3 min

Esta surgindo uma nova onda chamada de obesidade sarcopenica que é um produto derivado o uso de medicamentos. Quando você se pesa e vê o número cair rápido com a ajuda de injeções como Ozempic ou Mounjaro, parece que finalmente “tudo deu certo”. Mas o corpo é mais complexo do que a balança conta, e eu queria, te convidar a olhar para além do peso. Existe um nome para quando a gente perde músculo e mantém ou volta a ganhar gordura em lugares perigosos: obesidade sarcopênica. É quando o corpo fica ao mesmo tempo “fofo” por dentro e frágil por fora, com pouca massa muscular para sustentar a saúde, o movimento e o metabolismo.

Medicamentos à base de GLP-1 e GIP, como semaglutida (Ozempic, Wegovy) e tirzepatida (Mounjaro, Zepbound), são ferramentas importantes no tratamento da obesidade quando bem indicados, monitorados e combinados com mudanças de estilo de vida. Mas o uso indiscriminado que esta acontecendo, sem atividade física e com alimentação pobre em proteína, faz o corpo pagar um preço alto: não se perde só gordura, perde-se também massa magra. E tenho conversado isso frequentemente com alunos e amigos médicos. Estudos com tirzepatida mostram que uma parte relevante do peso perdido vem de massa muscular, mesmo que a maior fatia seja de gordura, ligando o alerta para a necessidade de preservar músculo durante o tratamento. Em análises recentes com semaglutida, observou-se redução significativa de massa magra, e dados apresentados em congresso em 2025 sugerem que pessoas que usam o remédio com baixa ingestão de proteína perdem ainda mais músculo. Em alguém sedentário, sem treino de força e comendo pouco, essa perda de músculo se soma a um metabolismo mais lento e abre caminho para a combinação perigosa: menos músculo, mais facilidade de recuperar gordura depois.

A obesidade sarcopênica não é só um “detalhe estético”. Ela aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes, quedas, incapacidade e morte precoce. Em rum recente estudo publicada em 2024 no JAMA Network Open intitulado “Sarcopenia and Sarcopenic Obesity and Mortality Among Older People” mostrou que pessoas com obesidade sarcopênica têm risco de mortalidade em 10 anos significativamente maior do que aquelas com obesidade sem sarcopenia. Outra revisão recente sobre obesidade sarcopênica e saúde cardiometabólica reforça que a combinação de pouca massa muscular com excesso de gordura traz mais risco cardiovascular do que cada condição isolada. É como se o corpo perdesse sua armadura interna: menos músculo significa menos proteção para as articulações, menos estabilidade para a coluna, menos reserva funcional para enfrentar uma cirurgia, uma infecção ou simplesmente o envelhecer.

Então, se você pensa em usar ou já usa Ozempic ou Mounjaro, eu não quero te assustar; eu quero te proteger. Peso baixo com músculo baixo não é vitória, é fragilidade disfarçada. O caminho mais inteligente é combinar qualquer tratamento medicamentoso com fortalecimento regular, exercícios de força 2 a 3 vezes por semana, atividade aeróbia consistente e uma alimentação que garanta proteína suficiente ao longo do dia. É assim que a gente ensina ao corpo que ele pode até abrir mão da gordura, mas não precisa abrir mão da força. Mais do que “emagrecer”, a meta é ficar funcional, estável, vivo por dentro. No fim, o que importa não é só quanto você pesa, e sim o quanto o seu corpo ainda é capaz de te sustentar nos sonhos que você quer correr atrás. E não troque o sobrepeso ou corpo esteticamente magro por outros problemas.

O seguro, é fazer com equilíbrio, caso contrário, é como tapar o sol com a peneira. Até a próxima!

Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.