05 de dezembro de 2025
ARTIGO

Falando sobre sexualidade com pais, educadores, filhos, alunos

Por Luiz Xavier |
| Tempo de leitura: 3 min

Uma reflexão sobre Educação Sexual trazida pela psicóloga Thays Babo e pelo saudoso ginecologista e obstetra, Dr. Nelson Vitielo. Acompanhem!

“Durante séculos, o exercício da sexualidade foi cerceado por normas rígidas e preconceituosas, cumpridas e vigiadas pela sociedade. A partir do início do século 20, com a popularização das teorias freudianas, começou-se a falar de sexo de uma maneira aberta.

Vários fatos contribuíram para isto: um deles, positivo, foi a criação da pílula anticoncepcional, que desvinculou o sexo da reprodução e permitiu que a mulher começasse a buscar seu prazer, o que antes só era permitido a homens ou mulheres de baixa reputação. O outro fato, infelizmente, foi o surgimento da AIDS, na década de 80. Só a partir disso, foi possível que conceitos fossem revistos e se abrisse a discussão sobre as diferentes orientações sexuais.

Apesar de ser cada dia mais comum assistirmos a programas que tratam de sexo como algo banal, ainda é desafiador falar de sexualidade com nossa família, com nossos filhos ou pais. A dificuldade de comunicação continua, mas os jovens começam sua vida sexual cada dia mais cedo e, ainda desorientados, muitas vezes pela pressão da turma. Afinal, se até um tempo atrás, a virgindade era uma virtude, hoje é considerado um peso para muitos adolescentes. Muitas escolas, que consideram que a sexualidade deve ser abordada, têm ainda dificuldade de lidar com esta questão de educar para o exercício de uma sexualidade sadia e responsável.

A sexualidade deve ser vista como um dos aspectos da nossa existência. Implica em responsabilidade e autoria, bem como em respeito ao próximo, em reconhecer limites.

A sexualidade perpassa todo o nosso comportamento. Não se limita à genitalidade e nem à prática sexual. É um dos componentes da nossa felicidade e saúde, mas não o único.

Nem todos se encaixam no formato que o social oferece. E aqueles que não se encaixam, sofrem, se diminuem e desvalorizam. Quando se trata de sexualidade, muitos atentam contra a vida para escapar contra as pressões sociais e/ou familiares. Outros se engajam em relações completamente sem significado, só para cumprirem o que a sociedade espera. A psicoterapia pode abrir caminho para a auto compreensão e auto aceitação, resgatando a autoestima e trabalhando a responsabilidade.

Pais também se mostram confusos. Perguntam-se porquê e como irão aceitar as decisões dos filhos, se tiveram tantas vezes que abrir mão dos próprios desejos. De certa forma, repetem as imposições, por não quererem discutir diferentes possibilidades daquelas que enxergaram para si. Neste ponto, a psicoterapia também pode ser muito importante para que pais, em conflitos com os desejos e novos hábitos da juventude, extravasem suas frustrações, tirem suas dúvidas (sim, muitos pais simplesmente não orientam porque desconhecem o que seus filhos já sabem há tempos...).

Por fim, professores - e também profissionais da saúde - muitas vezes recebem a missão de ensinar ou orientar e também tem suas próprias dificuldades, mal resolvidas, dúvidas sem respostas. Cabe a eles procurarem também aprofundarem suas buscas interiores, bem como buscar a informação, que hoje certamente é muito mais acessível.

A forma com que lidamos com a nossa sexualidade se relaciona com a forma com que encaramos a vida como um todo: com medo? Com dúvidas? Sendo responsáveis? Estas questões, quando surgem no consultório podem ser a primeira queixa terapêutica ou surgirem ao longo do processo. Mas, é sempre bom lembrar que a sexualidade faz parte do todo, mas não se pode tomar as partes pelo todo.”

Luiz Xavier é psicólogo clínico e terapeuta sexual.