06 de dezembro de 2025
ARTIGO

Uma guerra vem aí…

Por Kazuo S. Koremitsu |
| Tempo de leitura: 3 min

Enquanto a sociedade brasileira se preocupa com suas hipocrisias morais e assiste impassível aos desmandos do STF, aplaudindo o que devia repudiar e se ufanando por, finalmente, estarmos superando o complexo de vira-lata, o mundo se apronta para uma terceira guerra mundial. É confortável ao nosso presidente pacifista e politicamente antagonista ao militarismo fazer ouvidos moucos (como dizia Machado de Assis) ao que se passa fora do seu mundinho.

O Brasil sempre esteve do lado da paz. Eis ai o mantra para não investirmos em armamentos militares. Nosso exército só serve mesmo como golpista e traidor da democracia. O que merece um parênteses irônico: nem mesmo um golpe conseguiu levar adiante. Mas agora todos estão presos e a Inês é morta.

Entretanto manter a paz não é para qualquer um. É só para os fortes. E o Brasil está muito longe de ser um deles. Não sou mais um brasileiro com complexo de vira-lata. Um cão vira-lata é  corajoso e destemido, carrega consigo uma genética de sobrevivente. O que nem de longe se aplica a boa parte de nosso povo. E isso não é um racismo étnico. Falta-nos a experiência de ter vivido em guerra. E isso nos dá uma falsa sensação de que a paz será sempre duradoura.

Quando a Rússia não pediu licença para invadir a Ucrânia, nem se deu ao trabalho de justificar politicamente a invasão. Apenas invadiu. E a paz da Ucrânia foi para o espaço. O Hamas invadiu Israel e raptou diversas pessoas (incluindo brasileiros), Israel revidou e deu no que deu: destruição total, mortes em massa. Adeus paz.

Israel e os EUA atacaram o Irã «preventivamente». A Rússia mandou (por acidente, claro) drones para a Estônia, Polônia e Dinamarca.

E agora a guerra está chegando perto, os EUA mandaram toda uma frota (a frota invencível) para a costeira da Venezuela e da Colômbia, sob a mais esfarrapada das desculpas: acabar com o tráfico de drogas. O Brasil faz fronteira com esses dois países e continua quieto como a doutrina de paz manda. O parlamento norueguês resolveu jogar um pouco de gasolina nesse fogaréu: concedeu o Nobel de paz a uma venezuelana simpática e bonita, mas opositora do (já tão conhecido e reconhecido) ditador Nicolás Maduro. Sabiamente, a vencedora do Nobel dedica o prêmio à Trump, esse grande homem com « coração humanitário ».

Um Nobel de Paz para dar um impulso para a guerra. Às vezes as premiações do Nobel da Paz tem esse intuito: impulsionar uma guerrinha para poder colher a paz.

O Presidente da Colômbia já se posicionou contra os EUA, como se fosse Davi a enfrentar Golias, só porque adquiriu alguns caças modernos da Suécia.

E o Brasil, o que fez? Numa ideia genial (para não se dizer o oposto) promoveu, em setembro último, uma exercício militar. Não um exercício qualquer, mas a «Operação Atlas», o maior exercício militar já feito no Brasil, envolvendo 12 mil soldados. Ocasião em que apresentou seu mais potente míssil com um estupendo alcance de 300km. Se não for uma comédia, estamos fadados a perecer em qualquer guerra que virá por aí.

O conflito entre Israel e Irã, países muito menores e mais pobres que o Brasil (em termos de PIB) mostrou ao mundo que hoje em dia, míssil balístico de verdade deve ter alcance de 1000 a 1500km, para início de conversa. A guerra entre Rússia e Ucrânia elevou a guerra a um patamar tecnológico impensável até então: drones e veículos não tripulados. Uso intensivo de inteligência artificial para planejamento de ataque.

E nós aqui estamos a nos ufanar pela superação do complexo de vira-lata do brasileiro. Viva a nossa paz (enquanto durar)!

Kazuo S. Koremitsu é economista com doutorado em Direito.