05 de dezembro de 2025
ARTIGO

Por que os músculos contam mais do que a balança?

Por Rogério Cardoso |
| Tempo de leitura: 3 min

Por muito tempo acreditamos que a saúde podia ser resumida a um número simples: o IMC. Ao dividir o peso pela altura, ele parecia oferecer uma régua universal para definir quem estava saudável ou em risco. Mas a ciência mostra que a verdadeira chave da longevidade não está no peso exibido pela balança, e sim naquilo que compõe esse peso, sobretudo na quantidade de músculos que cultivamos ao longo da vida. Quanto mais músculos, melhor envelhecemos.

Um estudo publicado no The American Journal of Medicine, intitulado “Muscle Mass Index As a Predictor of Longevity in Older Adults”, revelou que a massa muscular é um preditor muito mais forte da sobrevivência do que o IMC em adultos mais velhos. Pessoas com maior índice de massa muscular viveram mais, enquanto o IMC não mostrou associação relevante com a longevidade. Já outro trabalho, nos Annals of Family Medicine,  “Body Mass Index vs Body Fat Percentage as a Predictor of Mortality in Adults Aged 20-49 Years” , mostrou que indivíduos com IMC “normal”, mas com alta gordura corporal, tinham risco muito maior de morte precoce do que aqueles com composição corporal equilibrada. O IMC, ao somar músculo e gordura em um único número, mascara diferenças cruciais: pode classificar como “saudável” alguém metabolicamente vulnerável e, ao mesmo tempo, ignorar o poder protetor do músculo.

Músculos não são apenas estética. São reservas metabólicas vivas que melhoram a sensibilidade à insulina, regulam a glicose, protegem o corpo em períodos de doença e preservam a autonomia na velhice. Já o excesso de gordura, principalmente a abdominal, aumenta a inflamação, desregula o metabolismo e eleva o risco de doenças crônicas. É por isso que medidas como circunferência da cintura, percentual de gordura e massa magra oferecem um retrato muito mais fiel da saúde do que a simplicidade fria do IMC. Ferramentas como a bioimpedância tornam-se muito mais úteis, pois ajudam a enxergar além do peso.

No envelhecimento, essa diferença se torna vital. O músculo é o tecido que protege contra a fragilidade, que garante independência para andar, levantar-se, carregar objetos e manter a dignidade da vida cotidiana. Não é apenas sobre viver mais anos, mas sobre viver melhor cada um deles, com energia, vitalidade e autonomia preservadas. A ciência mostra que, ao cultivar músculos e controlar a gordura, prolongamos não só a expectativa de vida, mas também a qualidade dessa jornada.

A balança nunca poderá dizer o quão saudável você é. A saúde está no que se constrói silenciosamente: treino após treino, refeição após refeição. Está na fibra muscular que cresce, no metabolismo que se fortalece, no corpo que se prepara para viver não apenas mais tempo, mas com mais intensidade, liberdade e prazer. Investir em músculos é investir no tempo e talvez na forma mais bonita de eternidade que podemos tocar: uma vida mais longa, mais forte e mais plena. Como dizem meus alunos, é envelhecer com autonomia, sem depender de ninguém. Até a próxima!

Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.