05 de dezembro de 2025
ARTIGO

Vamos esquecer que Bolsonaro existe por um minuto?

Por Kazuo Koremitsu |
| Tempo de leitura: 3 min

Eu sei, é muito difícil esquecer que Bolsonaro existe. Mas de certo modo, entender o cenário atual com ele, atrapalha. Se possível, vamos também esquecer Lula. Sobra um Brasil dividido entre a política da esquerda e da direita, ambas não radicais. Sim, isso mesmo: Lula e o PT não são extrema esquerda, enquanto Bolsonaro e aliados também não são extrema direita.

O adjetivo «extrema» foi inventado por marqueteiros que querem radicalizar o que não é radical. Assim como a terminologia «discurso do ódio». Não há extremismo nem discurso de ódio. O que há são posições ideológicas divergentes e ideias que lutam para serem expostas, mas são taxadas de «ódio» , com o claro intuito de neutralizar seu impacto.

Então Trump não tem ódio pelos imigrantes? Não, ele apenas pensa que os imigrantes não tem um papel fundamental na sociedade americana. É um erro, sem dúvida; mas não é ódio. Trump não é adepto às políticas de livre migração de pessoas. Para ele o nacionalismo é algo a ser protegido. Esquecendo-se que o nazismo nasceu do ultra-nacionalismo.

Se houve imposição de tarifas de importação - e Piracicaba foi a cidade do Brasil mais prejudicada por elas - foi porque o Brasil não soube manter bom relacionamento com seu maior parceiro comercial ao longo dos anos: os EUA. E Trump sabe bem disso, pois já disse (com muito acerto): «o Brasil não é um bom parceiro comercial». E de fato não é.

Nos últimos anos o Brasil preferiu usar verbas públicas para investir na Venezuela e na Bolívia sem nenhum retorno econômico significativo, muitas vezes com prejuízo. Apoiamos o regime ditatorial da Venezuela e dizemos ao mundo que somos « democráticos ». Acusamos os EUA de imperialismo, mas muitos brasileiros preferiram migrar ilegalmente aos EUA, pois lá a vida é melhor do que aqui.

E para piorar o cenário, o nosso mais alto Tribunal vê com maus olhos o livre criticar dos tais «milhões de tiranos brasileiros» que se valem das redes sociais (norte-americanas, diga-se de passagem) para exporem suas críticas e suas galhofas. Sim, até o deboche e o riso foram penalizados no Brasil como crimes. Se algum «influencer digital» fala o que não deve, o Poder Judiciário brasileiro caça suas redes sociais e as fecha. É sempre mais fácil calar a boca de quem fala de mais (ou o que não deve), do que replicar e contestar o que foi falado. Se não tenho a mesma eloquência de quem me ataca, apelo para o Judiciário para que lhe tire sua única ferramenta de expressão. E o STF acolheu essa política como válida. E a moda pegou.

Nossa Constituição de 1988 já virou letra morta. Lá podemos encontrar uma grande proibição a todo e qualquer tipo de censura à liberdade de expressão. Mas tudo se relativiza. Quem se expõe pelas redes sociais virou agora um «pequeno tirano», nas palavras da ilustre magistrada do STF. Proibir o uso de redes sociais para aqueles que estão sendo processados por crime, sob a alegação de «não prejudicar as investigações». Ou pior, sob o argumento que «impedem ou atrapalham a aplicação da justiça» .

E o que a imposição de barreiras tarifárias norte americanas tem a ver com tudo isso? Certamente, o objetivo não é ajudar o ex-presidente preso, muito menos atacar a soberania nacional brasileira. Ao contrário de tudo isso, é um duro alerta aos brasileiros (pois pesa no bolso) para refletirmos para onde estamos indo enquanto nação.

O curioso é que quem conduz a nação hoje não é eleito para isso, mas nomeado. O STF tomou as rédeas ao criar um novo judiciário, ativista e raivoso, o qual extrapola suas funções constitucionais para se perder num mar onde as prerrogativas de ampla defesa e do duplo grau de jurisdição viraram letra morta da constituição.

Kazuo S. Koremitsu é economista com doutorado em Direito.