05 de dezembro de 2025
ARTIGO

O preço invisível das soluções rápidas para emagrecer

Por Rogério Cardoso |
| Tempo de leitura: 3 min

Outro dia, numa conversa com um aluno médico, ele me contou algo que o inquietava no seu consultório. Disse que cada vez mais pessoas entram em sua sala dispostas a gastar, a se endividar, a colocar todas as fichas em medicamentos como Monjaro ou Wegovy. Como se a promessa de um corpo mais leve e com mais saúde pudesse ser comprada em caixas de farmácia.

Eu fiquei pensando no paradoxo disso. Porque o mesmo valor investido em um tratamento com Monjaro que dura em média dezoito meses, a R$ 1.600 por mês, poderia ser usado de outra forma. Quase trinta mil reais no final de um ciclo. E com esse dinheiro? Ah, com esse dinheiro seria possível ter um personal trainer todos os dias, construir músculos, cultivar disciplina, respirar saúde no movimento. E ainda reservar encontros quinzenais com uma psicóloga, para organizar as dores, os impulsos, os vazios que tantas vezes alimentam a compulsão de quem quer emagrecer. Imagine o impacto de um investimento assim: ao invés de um corpo dependente de comprimidos, teríamos uma mente fortalecida e um organismo sustentado por escolhas conscientes.

É como se o medicamento fosse um atalho. Mas um atalho que, por vezes, cobra pedágio alto. Em um recente estudo publicado no New England Journal of Medicine intitulado “Once-Weekly Semaglutide in Adults with Overweight or Obesity” mostram que agonistas do GLP-1, como a tirzepatida presente no Monjaro, não são neutros: podem provocar náuseas constantes, vômitos, diarreias, constipação e até pancreatite. O corpo paga um preço. E, quando o tratamento termina, resta o mesmo dilema: como viver sem voltar ao ponto de partida? O que sobra quando a agulha já não entra e a caixa está vazia?

Porque emagrecer sem mudar comportamentos é como tentar encher um balde furado. Você coloca água, e ela escapa. No fundo, o que transforma não é a agulha, mas o hábito; não é a pílula, mas o gesto repetido, o passo dado, a refeição escolhida com calma. É o encontro com a própria responsabilidade. É a auto responsabilidade! Por isso profissionais de saúde como médicos, personal trainers, nutricionistas e psicólogos existem. Eles são como arquitetos de um projeto que não se ergue em um dia, mas tijolo a tijolo, semana a semana, até que o corpo e a mente aprendam a caminhar lado a lado.

Investir em comportamento é investir em permanência. É quando o treino se torna parte da rotina, a alimentação se torna natural, e a mente encontra equilíbrio. Nesse lugar, o emagrecimento deixa de ser obsessão para se tornar consequência. A vida, enfim, fica mais leve, não só no corpo, mas no coração. Porque não se trata apenas de perder peso, mas de ganhar vitalidade, de reconquistar a autonomia sobre o próprio destino, de acordar com energia para viver um dia inteiro sem depender de cápsulas ou bulas médicas.

E talvez esse seja o maior aprendizado: a verdadeira mudança não se compra. Ela se vive. Todos os dias. Em cada escolha, em cada prato montado com carinho, em cada alongamento feito antes de dormir. É um caminho que parece lento, mas que constrói raízes profundas. Como gosto de dizer, um tijolinho por dia para se erguer uma grande fundação. Tijolos de suor, de constância, de esperança. Tijolos que não caem quando o vento da moda passa ou quando a farmácia fecha as portas.

Até a próxima!

Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.