14 de dezembro de 2025
ARTIGO

Quando a ansiedade dá voltas e as checagens não ajudam

Por Fabiane Fischer |
| Tempo de leitura: 3 min

Ansiedade é um ciclo que muitas vezes nem percebemos. Tudo começa com sensações corporais, o coração dispara, a respiração fica curta, a barriga embrulha e a mente sente que algo está errado. O corpo dá o alerta e a cabeça entra em ação e é aí que surgem os pensamentos catastróficos, a mente imagina todos os cenários ruins possíveis, mesmo que pouco prováveis e quanto mais a pessoa tenta se preparar, mais os pensamentos se multiplicam e a tensão aumenta, deixando tudo mais difícil e pesado.

Depois vem a atenção seletiva, onde a pessoa passa a notar cada sinal do corpo e cada detalhe do ambiente, como se estivesse caçando problemas. Um batimento acelerado, uma dorzinha passageira ou um ruído estranho vira motivo de preocupação. A mente foca apenas no que parece ameaçador e ignora tudo que mostra que está tudo bem. Quanto mais atenção se dá aos sinais de perigo, mais eles parecem reais. É um ciclo que se retroalimenta e a ansiedade cresce rapidamente.

Esse processo acontece várias vezes ao dia e nem sempre percebemos que estamos presos nele.

O ciclo se alimenta ainda mais com os comportamentos de checagem de segurança, isso mesmo, para tentar se acalmar, muitas pessoas recorrem a consultas no Google, rituais de confirmação, revisitam mensagens antigas ou pedem garantias a amigos e familiares. A ideia é se proteger e reduzir a ansiedade, mas o efeito é contrário.

Cada checagem reforça que há algo de errado e mantém a mente presa no ciclo da preocupação. É como colocar gasolina no fogo, a pessoa se sente aliviada por alguns minutos, mas logo a ansiedade volta ainda mais intensa e difícil de controlar.

Esses comportamentos de checagem podem aparecer de diversas formas, como revisar várias vezes se trancou a porta, conferir repetidamente e-mails ou exames, consultar informações sobre doenças ou problemas que já estão resolvidos, entrar em grupos de whatsapp sobre sintomas e causas prováveis e assim por diante.

Cada gesto cria a sensação temporária de controle, mas mantém a mente ocupada com o perigo imaginário. Quanto mais se tenta evitar o desconforto, mais ele cresce e exige novas verificações, tornando o ciclo difícil de romper. Pequenos rituais que parecem inocentes acabam fortalecendo a ansiedade sem que percebamos.

A boa notícia é que o ciclo da ansiedade pode ser interrompido, mesmo que não desapareça de uma hora para outra e o primeiro passo é perceber o padrão: sentir o corpo, notar o pensamento catastrófico, reconhecer a atenção seletiva e identificar os comportamentos de checagem.

Quando a pessoa percebe, consegue dar um passo atrás e respirar. Outra estratégia é substituir a checagem por pequenas pausas conscientes como observar o que as pessoas ao seu redor estão fazendo, respirar fundo, caminhar alguns minutos ou focar em algo neutro como os móveis ao seu redor ou um animal de estimação, ajuda a reduzir a intensidade do ciclo e traz sensação de controle.

Também é importante lembrar que não é preciso lutar sozinho, conversar com alguém de confiança ou buscar apoio psicológico ensina maneiras de lidar com os pensamentos sem reforçar a ansiedade.

Ansiedade é desconfortável, mas não precisa comandar a vida. Entender o ciclo, perceber quando ele se repete e aprender estratégias para não alimentar a preocupação é libertador. Pequenas atitudes diárias, atenção plena, exercícios de respiração e limites claros ajudam a mente a sair do modo alerta constante. A sensação de controle e tranquilidade volta aos poucos e a pessoa descobre que pode viver com menos medo e mais leveza. Reconhecer o ciclo e escolher não segui-lo é o primeiro passo para sentir que você está no controle. Sua mente cria e você acredita, não permita que este ciclo se perpetue, pois é possível ter dias mais tranquilos, decisões conscientes e mais confiança em si mesmo.

Com carinho, Fabiane Fischer.

Fabiane Fischer é especialista na recuperação de dependentes químicos, abusos e compulsões.