O Batalhão Piracicaba que atuou na Revolução de 1932 é assim denominado pela primeira vez, com referência aos cidadãos locais que se voluntariaram pela causa constitucionalista. Depois é alterado para Batalhão Piracicabano. Uma nota na imprensa o cita como Batalhão Noiva da Colina. Em seguida, é denominado de Coluna Boaventura, em homenagem ao seu comandante. Alguns registros mostram que os piracicabanos também receberam o cognome Coluna Maldita (Columna Maldicta, na grafia da época), pelas barbáries cometidas e não descritas nos veículos de comunicação. Há apenas uma citação de Jacob Diehl Neto dizendo que o grupo parecia como mercenários mal liderados.
Boaventura veio do Rio de Janeiro, alguns meses antes do início da Revolução. Era militar do Exército Brasileiro. Em carta, assinada apenas por Moraes, publicada no Jornal de Piracicaba de 27 de agosto de 1932, há uma citação de que a “Columna Maldita” não fuzila (como diziam).
Ainda o Jornal de Piracicaba em 11 de setembro de 1932, trouxe o seguinte relato: “Próximo a esta data, chovia e fazia frio. Os cariocas pediram para cesar fogo para esquentar os pés. A outra desceria o monte e escalaria o fronteiro, metralhando e fuzilando o adversario sem cessar”. Não há referência de que esta seria uma ação da “Columna”.
Piracicabanos se agruparam ao 4º. Batalhão de Caçadores da Reserva atuando no Setor Norte da batalha. Segundo a revista “A Cigarra”, de setembro de 1932, estes voluntários realizaram acampamento em Cruzeiro e Guaratinguetá.
“Aqui em Piracicaba, iniciada a mobilização dos futuros componentes do 1°. Batalhão Piracicabano na segunda-feira do dia 10 de julho, partia o mesmo no sábado dia 16, do mesmo mês, com mais de 600 homens e algumas mulheres, pois o entusiasmo era tão grande que houve alguns casos de famílias inteiras se alistarem e seguirem neste batalhão”, disse Manoel Sampaio Mattos, que presidiu o MMDC de Piracicaba entre 1969 e 2000. “(...) Só no setor do Coronel Euclides Figueiredo, Setor Norte, para onde seguiu o nosso Batalhão Piracicabano, incorporado posteriormente ao 4º. B.C.R., entre voluntários e soldados regulares, nós tínhamos cerca de 20.000 homens – Só nesse setor”, relatou Mattos ao Jornal de Piracicaba em 9 de julho de 1986.
O número exato de voluntários servidos por Piracicaba é incerto. Os documentos, se existiram, sumiram. Alguns piracicabanos se alistaram em outras cidades.
Outros que escolheram Piracicaba como cidade para residir, trabalhar ou estudar, não eram natos aqui e, portanto, não tiveram sua história devidamente escrita.
Estavam de passagem ou constituíram vida após o levante de 1932. Muitas das inscrições sobre em quais grupamentos serviriam foram designadas em São Paulo, sem registro único. Luiz Dias Gonzaga, prefeito de Piracicaba disse numa das edições de “O Momento”, que partiram da cidade 2.500 voluntários e que mais deveriam seguir a causa constitucionalista. Assim, estima-se que mais de 3 mil pessoas se engajaram à causa, ou seja, 10% da população à época.
Assim, estudos relativos a 1932 podem reler ou reescrever o passado, além de funcionar como um pequeno quebra-cabeças para os fatos registrados pela imprensa local, dando-nos um nortear sobre como os piracicabanos se envolveram com a Revolução Constitucionalista de 1932. Fatos registrados na época tornaram-se raros. Apenas a imprensa da época pode atestar o que houve, mas muitos jornais foram superficiais à questão. Depois, tivemos a história perpetuada pelos voluntários e, posteriormente, pelos seus descendentes. Muitos fatos sem comprovação. Outros foram propagados como a fala do “seu” Manequinho anteriormente descrita, colocando em cheque a quantidade de 200 ou 600 homens que partiram de trem em 16 de julho de 1932. Mas, a história resiste…
Edson Rontani Júnior é jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba.