Tem gente que passa a vida tentando agradar todo mundo, se adaptando, se encolhendo, com medo de ser rejeitada. Outras vivem com a sensação de que nunca são boas o suficiente, mesmo fazendo tudo certo. Tem também quem vive com raiva do mundo, acreditando que ninguém presta. Em muitos desses casos, por trás do comportamento, está uma autoestima ferida ou nunca realmente construída.
Autoestima é um daqueles pilares invisíveis que sustentam a vida, não dá para ver com os olhos, mas dá para sentir nas escolhas, nas palavras, nos relacionamentos. Ela influencia como a gente se posiciona, o que aceita, o que recusa, o que espera dos outros e de si mesmo. Quem tem uma autoestima bem formada costuma ter relações mais saudáveis, porque entende que merece respeito, carinho e reciprocidade. Já quem cresceu sem esse senso de valor pessoal, muitas vezes entra em ciclos de relações tóxicas ou se anula para ser aceito.
Mas ninguém nasce com autoestima pronta. Ela é construída, tijolinho por tijolinho, desde a infância. Tudo começa no olhar dos outros, quando uma criança é acolhida, ouvida, quando suas emoções são validadas, ela começa a aprender que é importante. Quando ela é encorajada, incentivada a tentar de novo sem ser ridicularizada por errar, ela entende que pode confiar em si e isso se torna a base de uma autoestima sólida.
Por outro lado, quando a criança é muito criticada, ignorada ou vive em ambientes onde amor é condicionado ao desempenho, ela pode crescer com uma sensação constante de insuficiência. Mesmo que vire um adulto bem-sucedido, aquela voz lá de trás segue dizendo que nada do que ela faz é suficiente. O resultado pode ser uma vida cheia de conquistas externas, mas vazia por dentro.
A autoestima, diferente do que muitos pensam, não tem a ver com se achar melhor que os outros ou ser o centro das atenções, também não tem a ver com aparência, tem a ver com saber que você tem valor pelo simples fato de existir. Que pode errar e ainda assim merecer cuidado e respeito.
Essa base construída lá atrás vai refletir diretamente na forma como a gente se relaciona. Quem se sente seguro consigo mesmo tende a se comunicar melhor, colocar limites com mais clareza e escolher relações mais nutritivas. Quem se ama de forma saudável, não fica competindo o tempo todo ou tentando provar que vale a pena, a relação deixa de ser um campo de batalha e vira um lugar de troca.
Por isso é tão importante falar sobre autoestima nas escolas, nas famílias, nas conversas do dia a dia. Crianças que crescem com um senso saudável de quem são têm mais chances de se tornarem adultos confiantes, empáticos e equilibrados. E adultos com autoestima fortalecida se tornam parceiros melhores, pais mais atentos, amigos mais presentes. É uma corrente que se forma.
Vale lembrar que autoestima não é algo fixo. Ela oscila, muda, cresce e, às vezes, diminui dependendo das fases da vida. A boa notícia é que, mesmo nos momentos mais difíceis, é possível fortalecer esse olhar para si com pequenas atitudes diárias. Às vezes, tudo começa com o simples ato de se escutar com mais gentileza.
Claro que a autoestima pode ser abalada em qualquer fase da vida, um término, uma demissão, uma traição, tudo isso pode mexer com o nosso senso de valor. Mas quando a base está firme, a gente balança, mas não quebra. E mesmo que tenha sido construída de forma precária, sempre é possível recomeçar. Terapia, autoconhecimento, boas relações e pequenos atos de autocuidado ajudam a refazer esse alicerce.
A grande verdade é que a maneira como a gente se trata define a maneira como o mundo nos trata. Se a gente se enxerga com respeito e carinho, é natural esperar o mesmo dos outros e se alguém não consegue oferecer isso, a gente aprende a se afastar sem culpa, porque quem se ama não se abandona. Com carinho, Fabiane Fischer.
Fabiane Fischer é especialista na recuperação de dependentes químicos, abusos e compulsões.