Um ano depois, as marcas da destruição ainda permanecem — na natureza, nas pessoas e na memória coletiva.
É impossível esquecer o dia 7 de julho de 2024. A data marcou o início do maior desastre ambiental já registrado no Rio Piracicaba. Milhares de peixes mortos, ribeirinhos impactados, a fauna silvestre em desequilíbrio e um rastro de destruição deixado por uma ação humana que jamais deveria ter acontecido.
Tudo começou com o despejo irregular de resíduos no Ribeirão Tijuco Preto, que deságua no Rio Piracicaba. Em poucas horas, a água — que é sinônimo de vida — já não podia mais ser vista assim. O que se via eram peixes agonizantes em busca de oxigênio. O primeiro cenário a causar impacto foi a famosa Rua do Porto, tradicional ponto turístico e motivo de orgulho para moradores e visitantes, que costumam apreciar de perto as belezas do Piracicaba em suas margens. Ali surgiram os primeiros focos de peixes mortos.
O que antes era símbolo de vida e beleza se transformou em um cenário de tristeza. O local, antes tomado por turistas, estava agora ocupado por equipes técnicas, ambientalistas e voluntários que tinham um objetivo em comum: resgatar o rio Piracicaba.
Naquele momento, eu estava à frente da Secretaria de Governo e da Defesa Civil. Coordenei uma força-tarefa de resposta imediata que, nos primeiros dias, conseguiu retirar quase três toneladas de peixes mortos. Mas essa era apenas a face mais visível da tragédia. Dias depois, os resíduos atingiram o Tanquã — uma das áreas mais ricas em biodiversidade do estado de São Paulo — e o impacto foi devastador.
A mobilização foi intensa. Governos, técnicos, organizações ambientais e a sociedade civil uniram esforços para tentar minimizar o estrago. Mas, mesmo com toda a dedicação, a verdade é que o dano já havia sido feito — e os efeitos continuam sendo sentidos até hoje.
Um ano se passou. E os relatos dos ribeirinhos ainda trazem tristeza e incerteza. Muitos não conseguiram retomar o modo de vida que tinham antes. A pesca, o turismo de natureza, o cotidiano de quem vivia em harmonia com o rio foram duramente afetados. Porque, por mais resiliente que a natureza seja, há cicatrizes que levam anos — às vezes, décadas — para se regenerar.
Costumo dizer que há duas forças que colocam em risco a vida humana e o equilíbrio do planeta: a ganância e o excesso de autoconfiança. Quando alguém acredita estar acima das consequências, toma decisões que ignoram os impactos coletivos. E, quase sempre, o motor dessas decisões é o desejo desmedido por lucro ou poder. A ambição cega. O ego desmedido. E a ausência de empatia.
É por isso que precisamos lembrar. Para não esquecer. Para que não se repita. Tragédias ambientais como a que vivemos em 2024 não podem ser vistas como incidentes isolados. Elas têm origem, têm responsáveis, têm consequências profundas — e precisam gerar lições.
Falar sobre esse episódio ainda é doloroso, mas é necessário. É um alerta. Um chamado à consciência coletiva. Um apelo para que se respeite a vida — em todas as suas formas.
Porque a pergunta que permanece, um ano depois, segue sem resposta:
Até quando a ganância e o excesso de autoconfiança de alguns continuarão colocando em risco a vida de tantos outros?
Tássia Espego é Publicitária, Especialista em Comunicação Governamental e Política.