A escritora, poeta, professora de Língua Portuguesa Raquel Delvaje, 55, tem muitos projetos pela frente em Piracicaba. Além de ser uma profissional cheia de talento no que faz, Raquel hoje tem também a nobre missão de comandar a APL (Academia Piracicabana de Letras) nos próximos três anos e, consequentemente, colaborar decisivamente para a produção literária local com os projetos desta importante entidade de Piracicaba.
Entre os desafios de Raquel à frente da APL estão a continuidade aos trabalhos já iniciados na gestão anterior, como o projeto Viajando na Leitura; apoio aos escritores em lançamento de livros e publicações de seus artigos e textos literários; e também a continuidade ao lançamento da revista da Academia. Há ainda a Festa Literária de Piracicaba, que será realizado no mês de outubro, no Engenho Central; o Projeto Flipirinha; e o Projeto Flipteen, voltado aos jovens e adolescentes.
Paulistana de nascimento, Raquel Delvaje adotou Piracicaba “como minha cidade do coração” e por aqui também vem desenvolvendo o seu trabalho como escritora e poeta. São mais de 500 poemas escritos; 25 contos de suspense; e dois livros infantis publicados: Gabriel no País dos Pássaros e Lhama Perna de Pau, além de outras obras que ainda não foram publicadas. Raquel tem também a participação em mais de 25 antologias de poemas, contos e crônicas, além de publicações de artigos em jornais.
Mãe da bióloga Mayttê Gabrielle, 29, “o amor da minha vida”, Raquel avalia como muito positivo o movimento da inclusão na literatura em Piracicaba. Para ela, é importante essa visibilidade de quem não tinha voz. “A literatura tem o poder de transformar e tem um vasto conhecimento histórico e quando encontramos as várias vozes ecoando e sendo ouvidas é bastante gratificante.”
Raquel Delvaje só lamenta a falta de incentivo à leitura em nossos dias, a começar pelos pais e passando pelas nas escolas, que “têm plataformas de leituras de livros e de escrita de redações, porém, não devem ser usadas como contadores de índices estatísticos e sim como verdadeiras ferramentas para auxiliarem os professores nessa difícil tarefa de educar”. Para ela, a leitura deve ser estimulada logo quando a criança é alfabetizada: esse é o desafio, em tempos nos quais o digital tem dominado a maioria do tempo dos pequenos. Veja, abaixo, a entrevista concedida à coluna Persona, do JP:
Para começar, conte-nos um pouco sobre sua vida profissional...
Escrevo desde criança, eram poeminhas simples, porém, já colocando minha alma de poeta. Tive um poema publicado em jornal quando tinha 18 anos e continuei escrevendo. Tenho hoje mais de 500 poemas escritos, que estão publicados em jornais, blogs, sites e antologias. Tenho 25 contos de suspense publicados em blogs e inclusive um foi selecionado para um curta de cinema, pela Universidade Federal de Goiás, concorreu a prêmios e hoje está no YouTube. Tenho também dois livros infantis publicados: Gabriel no País dos Pássaros e Lhama Perna de Pau, e tenho outros infantis que escrevi, mas não foram publicados ainda. Tenho também participação em mais de 25 antologias de poemas, contos e crônicas. Além de publicações de artigos em jornais.
Fale agora um pouco sobre suas obras publicadas...
Sobre os livros infantis, Gabriel no País dos Pássaros conta a história de um conflito por terras e um bebê que fica sozinho ao ter sua mãe levada por bandidos contratados para dar um susto nela e forçá-la a vender suas terras, enquanto seu pai está na estrada voltando para casa. Em um mundo longe dali, o dos pássaros, está acontecendo uma guerra por poderes e todos os pássaros crianças estão presos em gaiolas, e diante da tristeza do país, devido a um feitiço, os pássaros estão virando pedras. O pássaro rei resolve trazer uma criança para o reino deles, para que possam se alegrar, a partir daí começa toda a aventura do bebê Gabriel, uma história encantadora e de muita aventura. O outro livro, Lhama Perna de Pau, conta a história de uma lhama bebê e seus pais, que trabalham num circo em uma jornada insalubre. Durante a mudança do circo, a lhama bebê cai do caminhão e quebra a pata. O dono do circo leva seu filho para longe da mãe e ela o procura desesperadamente, quando encontra a lhama caída na estrada e cuida dela, enquanto no circo a mãe da lhama inconsolada com a perda do filho cuida do menino e cria um laço. Cada mãe cuidando do filho da outra. Uma história emocionante com um final feliz. Os poemas são de temas variados, marcando momentos da minha vida, são quarenta anos escrevendo e estudando métricas e rimas. E os contos também seguem na linha de momentos, em que escrevo determinados temas, e variando.
Como é o seu processo de criação? Como vem sua inspiração para o desenvolvimento de suas obras?
A inspiração tem vários formatos, tem as vezes em que jorra como água e vou escrevendo, e tem as vezes em que vou pensando o que escrever. Porém, todos eles refletem os anos de estudos de palavras, gramática, rimas, métricas, estilos e muita leitura de literaturas que enriquecem o vocabulário e o conhecimento histórico.
Você é natural de Piracicaba? Como nasceu esse interesse pelas letras?
Eu nasci em São Paulo, contudo, tenho Piracicaba como minha cidade do coração. Letras sempre foram minha paixão e me vejo como educadora, mesmo nos momentos que não estou atuando em salas de aula.
Como educadora, qual a sua opinião sobre o pouco interesse das crianças e adolescentes pela leitura e produção textual? O que pode ser feito para melhorar essa situação, ainda mais em uma era dominada pelo digital?
A falta de leitura reflete a educação que recebem no seio familiar, as crianças que são estimuladas a ler, trazem consigo essa marca e estão sempre querendo ler mais e mais. Entretanto, não é uma realidade de costume em muitos lares, então deparamos com a dificuldade em introduzir essas crianças e adolescentes a essa prática e é um desafio que nós educadores enfrentamos. A falta de interesse em leitura por crianças e adolescentes só tem uma forma de ser trabalhada: com a leitura. E esse é o desafio enfrentado pelas escolas, especialmente das periferias, não estigmatizando, mas constatando. Nas escolas têm plataformas de leituras de livros e de escrita de redações, para que os alunos pratiquem a leitura e a escrita, porém, não devem ser usadas como contadores de índices estatísticos e sim como verdadeiras ferramentas para auxiliarem os professores nessa difícil tarefa de educar.
Como começou sua trajetória na APL (Academia Piracicabana de Letras)? Faça, por favor, um breve histórico de sua vida na APL...
Eu fui convidada em 2017 para entrar como membro da APL, recebi a cadeira 40 e meu Patrono é o Barão de Rezende, o fundador do Engenho Central. Sempre desenvolvendo trabalhos juntamente com os escritores do Centro Literário de Piracicaba e do Grupo Oficina Literária de Piracicaba, que enaltecem a literatura da nossa cidade com ações culturais.
Você é a atual presidente da Academia Piracicabana de Letras. Quais são os principais projetos de sua gestão?
Estou como Presidente da APL nos próximos 3 anos e temos como objetivo dar continuidade aos trabalhos já iniciados na gestão anterior, como o projeto Viajando na Leitura, apoio aos escritores em lançamento de livros e publicações de seus artigos e textos literários e também dar continuidade ao lançamento da revista da Academia. Temos também o compromisso com a Festa Literária de Piracicaba, que é um evento bastante expressivo e vai acontecer esse ano nos dias 17, 18 e 19 de outubro, no Engenho Central. Eu sou a idealizadora desse projeto que é realizado pela Academia Piracicabana de Letras, Centro Literário de Piracicaba, Grupo Oficina Literária de Piracicaba, Prefeitura através da secretaria da Cultura e do Turismo e Biblioteca. Temos também o Projeto Flipirinha, conduzido pela Carmem Pilotto e Ivana Negri, e é direcionado às crianças nos segmentos literatura, arte e cultura, de uma forma bastante lúdica; e o Projeto Flipteen, voltado aos jovens e adolescentes, também nos segmentos literatura, arte e cultura; com trabalhos junto às escolas e direcionando os alunos a serem os protagonistas dos seus trabalhos literários, incentivando-os à leitura e à escrita.
Qual o processo para ser admitido como membro da APL? Para ser admitido como membro da Academia Piracicabana de Letras é necessário que seja atuante na literatura e tenha obras relevantes no segmento literário e cultural de Piracicaba. E quando vaga alguma cadeira os nomes são selecionados, avaliados e votados.
A APL tem algumas propostas voltadas ao incentivo à leitura?
Sim, com os vários projetos voltados ao incentivo da leitura e da escrita, como os Projetos já citados: Viajando na Leitura; Livro com Pezinhos e Flipirinha, conduzidos pela Carmem Pilotto e pela Ivana Negri; Flipteen, direcionado aos jovens; a Flipira, que é um evento, porém de incentivo à literatura. Temos também Oficinas Literárias pelo Grupo Oficina Literária de Piracicaba, que acontecem na primeira quinta-feira feira do mês, na Biblioteca, às 19h30, com oficinas literárias muito produtivas. Temos também ações nas escolas municipais, estaduais e particulares. Concursos literários e saraus.
Piracicaba é uma cidade muito desenvolvida na área cultural. Você entende que há em nossa cidade um olhar diferente à arte, o que inclui a produção literária?
Piracicaba é um polo muito rico em arte, cultura e literatura, com grupos empenhados na produção e na propagação das suas artes. E a literatura segue nessa mesma linha, de pessoas que se dedicam de uma forma ímpar, por anos e muitas vezes por toda a vida.
Com essa velocidade digital em que vivemos, qual, na sua opinião, o futuro dos escritores, dos poetas, dos contadores de história, enfim, dos profissionais que trabalham com a produção literária?
Obscuro, porque eu vejo que a inteligência artificial se apossa das ideias e mostra de uma forma diferente, porém ideias de autores que pensaram e criaram. Mas a alma de poeta, de escritor e de artista ninguém apaga, porque está na essência, independente dos meios que a propaguem, ela existe.
Como você avalia a produção literária piracicabana e brasileira na atualidade?
Eu gosto da inclusão e vejo que ela está presente e isso me agrada. É importante essa visibilidade de quem não tinha voz. A literatura tem o poder de transformar e tem um vasto conhecimento histórico e quando encontramos as várias vozes ecoando e sendo ouvidas é bastante gratificante.
E como você avalia a nossa educação básica, período decisivo na formação de leitores?
Há necessidade de valorização do educador, como sempre, em toda a história. Hoje em dia o educador é cobrado muito pela quantidade de conteúdos e não pela qualidade, deixando os alunos à mercê de uma educação sucateada pelo Estado, o que não dá para ser visto como algo positivo.
Uma última questão aproveitando o fato de que você é professora de Português. Qual sua opinião sobre a iniciativa de se criar a chamada “língua brasileira”. Há necessidade desse movimento?
É um tema complexo, o linguista Fernando Venâncio, recém-falecido, expõe essa questão com bastante clareza, a origem da língua portuguesa, a transformação e inclusão de palavras africanas no Brasil, etc. Enfim, a língua está em constante transformação. Eu entendo que deve haver sempre a valorização das línguas dos povos originários, faz parte da história das terras brasileiras, há hoje em dia uma valorização da cultura dos povos originários, mas ainda é precária.