05 de dezembro de 2025
ARTIGO

O corpo que respira versus o corpo que apaga

Por Rogério Cardoso |
| Tempo de leitura: 2 min

Sabe, às vezes eu imagino como seria assistir à nossa própria vida se desdobrando em dois caminhos. Dois destinos. A mesma pessoa, escolhas diferentes. E resultados que não poderiam ser mais distantes.

Pense em alguém como eu ou você, com sua história, sua genética, seus afetos. Mas agora imagine essa mesma pessoa vivendo duas realidades. Em uma, ela escolhe o silêncio da inércia. Não se move, não se exercita. O corpo, aos poucos, vai pesando. A força escapa, os joelhos reclamam, o sono se fragmenta. A vitalidade dá lugar ao cansaço, e as tarefas mais simples começam a exigir demais. Essa versão envelhece com pressa,  não apenas no calendário, mas na essência.

Na outra realidade, essa mesma pessoa escolhe um passo diferente. Começa com uma caminhada pelo quarteirão, um alongamento tímido na sala. Depois vem o fortalecimento leve, a musculatura que responde. E, quando menos percebe, está subindo escadas com leveza, levando os netos até a Esalq, ou passeando com os cachorros aos sábados de manhã. Essa versão também envelhece, mas de forma mais digna, viva, presente. O tempo não some, mas se torna mais gentil.

Esse contraste me lembra o filme De Caso com o Acaso, em que uma mulher vive duas versões de si mesma a partir de um detalhe quase invisível: pegar ou não um metrô. A mensagem é clara: são as pequenas escolhas que desenham nossos grandes destinos.

E a ciência não apenas observa isso ,ela comprova. Um estudo publicado no Journal of Aging and Physical Activity, intitulado “Physical Activity and Biological Aging: A Longitudinal Examination of Epigenetic Age Acceleration”, demonstrou que adultos fisicamente ativos apresentavam um envelhecimento biológico consideravelmente mais lento. Utilizando marcadores epigenéticos para medir a chamada epigenetic age acceleration, o estudo revelou que indivíduos ativos podiam ter uma idade biológica até 10 anos mais jovem do que aqueles com estilo de vida sedentário.

Ou seja: quem se move, rejuvenesce por dentro. O exercício regular não só fortalece o corpo, ele clareia a mente, estabiliza o humor, melhora o sono e devolve o prazer de habitar o próprio corpo.

É como se o movimento dissesse ao corpo: “Estamos vivos, siga renovando”. O fluxo sanguíneo melhora, o cérebro ganha clareza, os ossos se mantêm densos, a autoestima se acende. O corpo que respira se transforma em um lugar mais habitável.

E como costumo ouvir de tantos dos meus alunos envelhescentes olhos brilhando, corpo mais desperto, alma leve: "Ah, se eu soubesse… teria começado antes."

Afinal, há quem viva duas vidas em uma só. E a escolha começa com um primeiro passo. Mas a verdade é que nunca é tarde. Porque cada passo, por mais tímido, ainda é uma escolha. Uma chance de decidir qual das duas vidas você vai viver. Até a próxima!

Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.