Três cavalos de alto valor, utilizados para reprodução e competições em São José da Bela Vista, a 30 km de Franca, estão entre os mais de 600 equinos mortos no Brasil em investigação, após o consumo de uma ração suspeita de contaminação. A empresa fabricante, Nutratta Nutrição Animal Ltda., é alvo de investigação do Ministério da Agricultura e Pecuária, que já contabilizou oficialmente 222 mortes em cinco estados.
O criador João Pedro Gimenes Malaquias, de 22 anos, relata que os primeiros sintomas surgiram há cerca de dois meses. “Quando soubemos das suspeitas, paramos imediatamente o uso da ração. Mesmo assim, três cavalos apresentaram os mesmos sintomas e morreram: inchaço, espuma branca na boca e falência rápida”, contou.
Entre os animais mortos, está uma égua avaliada em R$ 100 mil, que seria estreada em competições. Ela estava prenhe e não resistiu, mesmo após tratamento intensivo em uma clínica veterinária. O potro nascido dela também morreu dias depois, seguido por outro animal jovem.
“Tivemos um prejuízo de mais de R$ 200 mil, somando o valor dos cavalos, tratamento veterinário e cerca de R$ 25 mil em ração contaminada, que está guardada, sem uso e sem resposta da empresa”, afirmou o criador.
O caso está sendo acompanhado pelo médico veterinário Danilo de Almeida Durigan, que alerta para os efeitos severos e silenciosos da contaminação. “O problema mais comum nesses casos é a falência hepática, que pode se manifestar até seis meses após a ingestão da toxina. A doença causa sintomas como apatia, emagrecimento, salivação intensa, distúrbios neurológicos e, por fim, a morte”, explicou.
Segundo Durigan, não existe um antídoto específico para o tipo de toxina detectado. “Tentamos tratamentos com fluidoterapia, soros e medicamentos, mas os resultados são limitados. Em alguns casos, o tratamento pode até agravar o estado do animal por sobrecarga hepática”, completou.
De acordo com o Ministério da Agricultura, a primeira denúncia formal sobre mortes de equinos causadas por ração contaminada foi registrada em 26 de maio de 2025. A partir daí, equipes da Fiscalização Federal Agropecuária iniciaram inspeções e investigações.
As apurações revelaram irregularidades na fábrica da Nutratta, levando à suspensão cautelar da fabricação e comercialização de todos os produtos da empresa. Até agora, foram confirmadas 222 mortes nos estados de São Paulo (83), Rio de Janeiro (69), Alagoas (65), Goiás (4) e Minas Gerais (1). Outros relatos extraoficiais estão sendo apurados em regiões como o sudoeste da Bahia, Uberlândia (MG), Goiânia (GO) e Jarinu (SP).
O Ministério alerta que a formalização de denúncias deve ser feita exclusivamente pela Ouvidoria oficial do Mapa, para garantir a validade da investigação.
No início do escândalo, a Nutratta prometeu ressarcir os criadores afetados, mas, segundo João Pedro, a empresa não deu mais retorno. “Disseram que iriam pagar os prejuízos, mas sumiram. Levaram até boleto para cartório por uma ração que está parada aqui, contaminada. E os animais continuam em risco. É uma bomba-relógio dentro do corpo deles”, lamentou.
Enquanto aguarda por respostas, João Pedro segue monitorando seus animais e reforça: “Esses cavalos não são apenas um investimento, eles fazem parte da nossa vida. Ver eles morrerem sem poder fazer nada é devastador.”
O Portal GCN/Sampi entrou em contato com representantes da empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda., mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno.