A implantação dos patinetes elétricos compartilhados em Campinas completou pouco mais de um mês com a promessa de oferecer uma alternativa moderna de locomoção e lazer. Mas para Jaqueline Silva dos Santos, moradora da cidade e deficiente visual, a novidade virou motivo de dor. “A cidade já não tem acessibilidade para nós deficientes. Estão deixando esses patinetes em todas as calçadas do centro”, desabafou.
Ela conta que sofreu um tombo ao tropeçar em um dos equipamentos deixados de forma irregular em uma calçada das Avenidas Francisco Glicério com a Moraes Salles. “Eu caí, machuquei a boca, machuquei a canela. Só não me machuquei mais porque estava andando devagar”, relata. O tom de indignação se mistura ao pedido direto por providências: “Peço por favor, EMDEC, Prefeitura... se puderem conscientizar as pessoas a não deixar esses patinetes por aí. É muito perigoso”.
A situação de Jaqueline não é isolada. Em um cenário de calçadas mal conservadas, com obstáculos e ausência de piso tátil, os patinetes se tornaram mais um desafio para quem convive com deficiência. Idosos e pessoas com mobilidade reduzida também estão entre os mais prejudicados.
Desde que o serviço da operadora Jet foi lançado, em 23 de fevereiro, 26,8 mil pessoas já utilizaram os patinetes, que somam 63,6 mil viagens. Mas o uso irresponsável preocupa. Segundo a Secretaria Municipal de Transportes e a Emdec, 35 usuários tiveram contas suspensas por descumprirem regras, como andar em dupla, transportar carga ou estacionar de forma incorreta. Cinco acidentes foram oficialmente registrados até o momento.
A própria administração admite a necessidade de reforço nas medidas. A Setransp enviou dois ofícios à Jet cobrando ações corretivas. Além disso, ações educativas atingiram 385 pessoas em locais como o Centro de Convivência e a Lagoa do Taquaral, mas a fiscalização continua limitada frente à extensão do problema.
Para Jaqueline Silva, no entanto, não há estatística que compense o que ela viveu. “Então, o meu apelo é para os órgãos públicos, né? O pessoal da EMDEC fiscalizar esses patinetes aqui pra pessoas com deficiência como eu ou idosos”.