04 de dezembro de 2024
ARTIGO

Existo Logo Penso (!); penso Logo Existo (?)


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A identidade humana é um tema que desperta tanto fascínio quanto debate. Como seres humanos, reconhecemo-nos como animais? Dentro da teoria de Darwin, os primatas, nossos parentes evolutivos, oferecem uma janela para entender como o reconhecimento da identidade se desenvolve. Eles, assim como nós, podem se perceber como indivíduos.

Os primatas demonstram auto reconhecimento através do espelho, um experimento simples e revelador. Quando um chimpanzé, por exemplo, vê sua imagem refletida, ele não vê outro chimpanzé, mas sim a si mesmo. Esse processo é mediado pelo cérebro, onde regiões específicas, como o córtex pré-frontal, integram informações visuais e sensoriais, permitindo que a imagem refletida seja identificada como "eu".

Além dos primatas, outros animais como golfinhos, elefantes e algumas aves, como os corvos, demonstram essa habilidade de auto reconhecimento. Mas, e quanto a nós, humanos? Quando um bebê humano é colocado diante de um espelho, inicialmente ele reage como se estivesse vendo outro bebê. Apenas com o desenvolvimento cognitivo e o tempo é que ele começa a entender que a imagem no espelho é sua própria.

Para que o reconhecimento da identidade se manifeste, certas estruturas cerebrais precisam estar desenvolvidas. O córtex pré-frontal, responsável pelo pensamento complexo e pela autorreflexão, desempenha um papel importante nesse processo. É essa capacidade cerebral que nos permite olhar para um espelho e dizer: "Esse sou eu".

René Descartes, ao dizer "penso, logo existo", propôs que o pensamento é a prova irrefutável da existência. Ele pronunciou essa frase em um contexto de dúvida metódica, buscando uma verdade que fosse inquestionável. Historicamente, essa afirmação tem sido um marco na filosofia ocidental, sustentando a ideia de que o ato de pensar é a prova mais básica de que existimos.

Entretanto, a inversão dessa máxima para "existo, logo penso" propõe uma perspectiva interessante. Antes de pensarmos, precisamos existir. Nossa existência física é o fundamento sobre o qual toda atividade mental se baseia. O pensamento, então, é uma consequência de estarmos vivos.

Diante da identidade, o pensamento revela-se como uma ferramenta poderosa. Ele nos permite refletir sobre nossa própria existência e entender quem somos. A frase "existo, logo penso" enfatiza a primazia da existência como base para qualquer atividade mental. Sem existência, não há pensamento.

Comparando as duas frases, "penso, logo existo" e "existo, logo penso", percebemos que ambas encerram verdades importantes, mas sob óticas diferentes. A primeira, cartesiana, afirma a certeza do eu pensante; a segunda, moderna, ressalta a importância da existência física anterior ao pensamento.
Na filosofia atual, a verdade cartesiana ainda é amplamente aceita, mas a inversão provoca uma reflexão necessária sobre a relação entre existência e pensamento. Ao afirmar "existo, logo penso", reconhecemos que a capacidade de pensar é um produto da nossa existência.

Como autor desta reflexão, não cessarei de existir se parar de pensar, assim como meus leitores. Nossa existência é a base que nos permite pensar, refletir e reconhecer nossa identidade.

Existimos, logo pensamos. Que essa verdade ressoe entre todos nós, como um lembrete da primazia da vida e da consciência que dela emana.