Nesta quarta-feira (20) é celebrado o Dia da Consciência Negra, uma data histórica e importante para a sociedade. Neste dia, o Sebrae-SP conta histórias inspiradoras de empreendedoras negras de Piracicaba, que falam como o afroempreendedorismo mudou suas vidas. O conceito de afroempreendedorismo se refere ao fenômeno de caráter econômico, político e social que incentiva a população negra a desenvolver uma atividade empreendedora.
São negócios, empreendimentos ou empresas construídos ou gerenciados por pessoas negras, nos mais diversos nichos de mercado. Conforme o estudo “Empreendedorismo Negro no Brasil 2024”, feito pelo Sebrae, os negros representam 52,4% dos donos de negócios no país, mas ainda são os que enfrentam maior desigualdade de renda, escolaridade, acesso à crédito e formalização.
Segundo Elaine Teotonio, cantora, empreendedora e uma das criadoras do Afropira, um dos maiores festivais de cultura afro do interior do estado, empreender é uma necessidade da população negra, que historicamente enfrenta problemas de acesso ao mercado de trabalho. “Durante muito tempo, falar de afroempreendedorismo era um assunto muito delicado. Porque, ao mesmo tempo que a gente celebrava ser maioria da população empreendedora, nós tínhamos um dado muito ruim, porque a maioria não era por querer, e sim pela necessidade”, explicou.
Ela afirma, porém, que esse cenário vem mudando e muitas pessoas negras buscam empreender por vontade, não apenas pela necessidade. Além disso, a valorização da cultura afro também impactou o mercado e fez com que se criasse um nicho voltado para isso – o que também incentivou o afroempreendedorismo. “Há um crescimento na busca de turbantes, de roupas afro, tecidos, brincos, acessórios, colares. Então isso está muito em alta”, argumenta. “Isso mostra o quanto está mudando... A busca da população por todo trabalho que estamos fazendo de identidade, de pertencimento”, completa.
Segundo o consultor de negócios do Sebrae-SP, Eduardo Mercadante, o crescimento do afroempreendedorismo é um importante marco na luta por igualdade racial e contribui muito no desenvolvimento econômico. “Com entusiasmo, vemos que o crescente aumento do acesso à informação e contando ainda com o apoio do Sebrae-SP, pessoas negras vem utilizando seus conhecimentos, habilidades e experiências para criar negócios próprios. Não mais por necessidade, o que se via como maioria dos casos anos atrás, mas agora como uma opção de realização pessoal, por vocação e sonhos mesmo”, argumenta.
O surgimento do Afropira
Elaine conta que sempre quis trabalhar com arte, mais especificamente ser cantora. Ainda jovem, participou de um projeto onde teve aulas de música e canto. Ao longo da carreira, aprendeu a se organizar enquanto empreendedora, a escrever projetos e a programar agendas – mas sempre com foco em projetos sociais junto com o esposo, que atua na área da capoeira.
“Nos conhecemos em um dos projetos sociais que atuamos, eu com a música e ele com a capoeira, começamos neste projeto a desenvolver trabalhos trazendo referências e histórias afrocentradas. Esse projeto foi um sucesso, a gente continuou e ampliou, e depois levamos ao Engenho Central, e recebeu o nome de Afropira”, contou.
“Assim que começamos, nós fomos aprendendo o dia a dia, como lidar com empreendedorismo... E toda a nossa bagagem, a gente foi estudar a maioria das coisas no Sebrae. O primeiro som que nós compramos foi com o Banco do Povo, fizemos um curso e fomos lá para poder conseguir acessar. Tudo que a gente foi fazendo para ter o nosso MEI, para ir trabalhando, foi ali”, afirmou. Ela contou que em 2023 fez o Empretec e utiliza os conhecimentos obtidos até hoje.
Atualmente, Elaine e seu esposo, Marcos, têm a ETC Produtora, que atua com a agenda de eventos de ambos e do bloco Afropira, que realiza ao longo de todo ano ações e atividades ligadas ao evento. Hoje, a empresa também é voltada para escrita de projetos culturais e assessoria.
O sonho de empreender
O afroempreendedorismo também é a realidade de Diana Gomes, CEO da DG Compliance Tributária, uma empresa que atua na área de contabilidade. Antes de optar por ser empreendedora, porém, ela enfrentou vários desafios. Em 2016, tomou a decisão de seguir um sonho de infância e abriu uma ótica. “Eu uso óculos desde os 4 anos. Eu até me emociono porque quando eu tinha uns 7 anos fiz uma promessa, que um dia eu teria uma ótica para que a minha mãe não precisasse mais comprar óculos para mim, porque eu via a dificuldade que ela tinha”, relatou.
Em 2020, ela se separou do marido e a loja física acabou sendo fechada durante a pandemia, mas ela precisava de uma alternativa para sustentar o filho pequeno. “E a única coisa que eu podia fazer naquele momento era vender óculos, já que as óticas estavam todas fechadas. Eu estava afastada da minha área de atuação, que é a contabilidade. Aí eu pensei ‘agora eu vou criar uma marca de óculos, já que eu já sei como vende tudo, eu já tenho um fornecedor. Vou criar uma marca com o meu nome’”, relatou.
No entanto, quando as empresas reabriram, ela deixou a marca um pouco de lado e optou por voltar ao mercado de trabalho como funcionária. Em paralelo, prestou alguns serviços na área de contabilidade e a cartela de clientes foi aumentando. Até agosto de 2024, ela tinha um emprego CLT e os clientes por fora, mas a rotina era estressante.
“Tomei a decisão em seguir a minha jornada empreendedora. Eu tenho alguns parceiros de negócios, alguns parceiros que me indicam clientes. Eu atendo transportadoras no país todo, então eu tenho clientes ali no Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul”, conta. No entanto, ela reforça que a jornada de empreendedora é cheia de desafios.
“E uma das forças que eu trago para o empreendedorismo é a força das minhas ancestrais. Se a gente olhar as mulheres negras que conviviam em senzalas, tinham uma força muito grande. E o empreendedorismo é isso, muitas das vezes a gente tem que ter uma jornada um pouco mais desafiadora, uma jornada mais ampla, e não é o conto de fadas como a maioria das pessoas pensa”, completa.
Diana também participou do curso Liderança Inspiradora e do Empretec, e se orgulha de dizer que foi ganhadora do prêmio da edição, que fez parte do Projeto Mulheres Empreendedoras, parceria da Prefeitura de Piracicaba e do Sebrae-SP. Ela incentiva que empreendedoras negras procurem essas oportunidades, cursos e busquem se capacitar para crescerem ainda mais. “E ter sucesso, nos negócios e na vida como o curso de Liderança que despertou em mim. São comportamentos para que hoje eu possa me relacionar de forma mais assertiva desempenhando meu papel de líder”, finaliza.