Por Rafael Cervone*
Em 2023, abriram-se 3,86 milhões de empresas no Brasil. Houve aumento de 0,7% em comparação com 2022. Comércio e prestação de serviços representaram 83,9%, índice próximo do que se verifica no âmbito do total em operação no País, com 81,7% atuando naqueles dois setores. Mais de 90% das que foram criadas no ano passado são micro ou de pequeno porte.
Esses dados oficiais do Governo Federal são coerentes com o fato de o Brasil incluir-se entre os cinco países com o maior grau de empreendedorismo, acima das nações desenvolvidas. Trata-se de um fator positivo, mas, ao analisar as informações de modo mais aprofundado, são inevitáveis algumas reflexões. A primeira delas refere-se ao fato de que mais de 40% das novas firmas sucumbem antes de completarem cinco anos.
O segundo aspecto que me chamou a atenção é o baixo percentual de abertura de indústrias. Embora, obviamente, montar um comércio ou prestadora de serviço exija menor capital, a grande disparidade apontada pelas estatísticas da criação de empresas deixa claro que o motivo não é apenas esse, permitindo inferir e confirmar que a manufatura não tem sido estimulada em nosso país.
Quanto ao fechamento precoce de empresas, as causas são nossas velhas conhecidas: Custo Brasil, juros altos, impostos exagerados, insegurança jurídica e dificuldade de obtenção de crédito, dentre outros obstáculos. Por isso, esperamos que tenham êxito a reforma tributária, redução do déficit fiscal do Estado, queda da inflação e consequente redução dos juros e todos os avanços institucionais, como a reforma administrativa, pelos quais tanto temos batalhado no CIESP e na FIESP, ao lado de outras entidades de classe.
No que diz respeito ao baixo índice de abertura de indústrias, é preciso incentivar o interesse dos empreendedores na atividade. Aqui, além dos obstáculos acima, há o peso maior dos impostos, já que o setor tem taxação mais elevada do que os demais. Além disso, os juros para financiamento pesam muito, pois os investimentos em máquinas e equipamentos exigem maior aporte de recursos. Também esperamos, e estamos trabalhando muito para que aconteça, que a reforma tributária em curso nivele as alíquotas entre todos os ramos e que tenhamos políticas efetivas de apoio à manufatura. Por isso, nos mobilizamos com muita força em nossas entidades para a criação da Nova Indústria Brasil (NIB), Depreciação Acelerada e outros programas de fomento, cujo sucesso é um grande objetivo de todos nós.
Além de trabalharmos no plano político para viabilizar tais avanços, estamos incentivando os jovens e buscando prepará-los para serem empresários industriais. Sua capacitação também é importante para atrair o interesse para o nosso setor e reduzir o número de empresas que fecham suas portas. É esse o propósito do Congresso Estadual de Empreendedorismo, já em sua 18ª edição, dia 11 de novembro, na sede do CIESP, em São Paulo. O evento, já realizado em várias diretorias regionais no interior paulista, é promovido pelo Núcleo de Jovens Empreendedores (NJE) de nossa entidade.
Temas como inovação, transformação digital, sustentabilidade, governança ambiental, social e corporativa (ESG), inteligência artificial, liderança empreendedora, competitividade e economia circular são abordados, visando ao desenvolvimento dos empreendedores. Além do congresso, esse é um trabalho permanente. O NJE já está presente em 245 municípios do Estado de São Paulo.
A criação e a longevidade das empresas são fundamentais para o avanço da inclusão social, redução das desigualdades e elevação do patamar de desenvolvimento do Brasil. Mais ainda quando se trata de novas indústrias, pois, dentre todos os ramos, nosso setor é o que tem o maior fator de multiplicação, gerando R$ 2,44 em renda, investimentos e valor agregado na economia para cada R$ 1,00 que produz. Ou seja, o empreendedorismo no chão de fábrica é muito importante para o País.
*Rafael Cervone é o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).