25 de novembro de 2024
MEMÓRIA

Comurba: 60 anos da maior tragédia da história de Piracicaba

Por Nani Camargo |
| Tempo de leitura: 3 min
IHGP
Concebido como a “marca” do desenvolvimento da Piracicaba, o prédio remetia às linhas do tradicional edifício Copan, de São Paulo

"Piracicaba foi abalada ontem por uma das maiores tragédias de que há memória em seus anais: ruiu a metade do Edifício Luiz de Queiroz, de 15 andares, que era o orgulho dos piracicabanos, pela imponência de sua arquitetura, e pela grandiosidade da construção, que era a maior em área construída do interior do Estado, pois abrangia 22.000 metros quadrados de construção, em plena Praça José Bonifácio". Assim começa a edição do Jornal de Piracicaba de 7 de novembro de 1964, um dia depois da "Impressionante catástrofe" que abalou a cidade, conforme trazia o título da manchete.

A partir de hoje, uma série de eventos e palestras acontecem em Piracicaba, para lembrar os 60 anos da queda do Edifício Comurba. No aniversário da tragédia haverá abertura de exposição no Poupatempo, roda de conversa no Museu Prudente e lançamento, pela Câmara de Vereadores, de uma coleção virtual com mais de 275 itens históricos sobre o edifício que ruiu.

A queda do imóvel provocou pelo menos 50 mortes. Concebido como a “marca” do desenvolvimento da Piracicaba, o prédio remetia às linhas do tradicional edifício Copan, de São Paulo. Seu nome original era Edifício Luiz de Queiroz e o apelido surgiu em referência à empresa responsável pela obra, a Companhia de Melhoramentos Urbanos (Comurba). Ele ocupava uma ampla área entre as ruas São José e Prudente de Moraes, onde hoje fica o Poupatempo e a Caixa Econômica Federal.

O JP fez uma cobertura intensa à epoca, dedicando todo seu mês de novembro de 1964 com reportagens sobre o Comurba. "O Gigante mutilado", "Pavorosa tragédia", "lamentável acidente", "cidade em vigília" foram algumas das matérias.

A construção do Edifício Luiz de Queiroz iniciou no final da década de 1950, sendo que 14 dos 15 andares estavam prontos. Porém, apenas o Cine Plaza, no andar térreo, estava em funcionamento, o que diminuiu o impacto quanto ao número de mortos.

Segundo pesquisa feita pelo Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara Municipal, há diferentes versões sobre o número de mortos: algumas publicações à época mencionam 45, enquanto outras informam como 54 casos fatais. Além dos operários do edifício, entre as vítimas estavam funcionárias da bomboniere do Cine Plaza e de pessoas que circulavam pela praça no momento da queda.

Entre as edições do JP sobre o tema, várias histórias de luto e luta - a dor dos que perderam entes queridos se uniu à força de uma cidade toda mobilizada em ajudar no que fosse preciso. "Nota das mais dolorosas foi a tragédia que se abateu sobre a família sobre a família do Sr. Francisco Candeias Coroa, proprietário da conhecida Casa Portuguesa: residindo num prédio ao lado , na rua Prudente de Morais, nos altos da Casa Opera, que ficou completamente destruída, a sra. d. Maria Isabel Marques Pereira, sogra do sr. Francisco Candeias Coroa, e estando doente, para lá de dirigiram suas filhas d. Almerinda Pereira Coroa, esposa do sr. Francisco Candeias Coroa e suas irmãs Maria do Carmo Marques Pereira e Adelia Marques Pereira. Todos esses cinco membros foram apanhados pelos escombros, vindo a falecer no local da tragédia", noticiou o JP, ao mesmo tempo que dias depois, outra manchete: "Piracicaba se une para normalizar a vida na cidade" e "Jornal recebeu 330 mil cruzeiros de donativos".

Hipóteses foram levantadas acerca das causas, a primeira estabelecendo falhas estruturais e a segunda apontando o aumento de carga na estrutura como responsável pela ruína do prédio. Mas até hoje não há conclusão definitiva acerca das causas finais do desabamento da estrutura.