O volume de peixe pescado na região do Tanquã, entre Piracicaba e São Pedro, caiu de cerca de até 150 quilos por dia, por barco, para cerca dez quilos por dia, após a tragédia ambiental que provocou a morte de centenas de toneladas de peixes em julho. A informação é do pescador José Benedito, conhecido como Paraná.
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No dia 7 de julho, um lançamento irregular feito pela Usina São José, de Rio das Pedras, no ribeirão Tijuco Preto, chegou ao rio Piracicaba e provocou o primeiro episódio de mortandade. Uma semana depois, o efluente chegou ao Tanquã, que integra APA (Área de Preservação Ambiental), e ampliou o desastre ambiental causando a morte de toneladas de peixes de diversas espécies e tamanhos. A usina responsável pelo lançamento foi multada em R$ 18 milhões pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
Além dos danos ambientais, a mortandade resultou prejuízos financeiros para a comunidade de pescadores do local. “Pegava, por baixo, por barco, 70, 80 quilos, tinha dia de 100 a 150 quilos de peixe. Agora, está a uma base de 10 a 15 quilos”, disse Paraná. Ele explica que a comunidade onde ele vive tem cinco barcos, mas todos já pararam. “Não paga a gasolina”, disse.
O analista ambiental Antonio Fernando Bruni Lucas confirmou que o baixo número de peixes pescados é reflexo da mortandade ocorrida em julho. “Veja, foi uma mortandade grande e de diversas espécies. Em julho estávamos a quatro meses do período de defeso e os peixes estavam se preparando para formação das gônodas (glândulas localizadas na cavidade abdominal dos peixes que produzem hormônios e células sexuais necessárias para a reprodução)”, explicou.
O analista confirmou que a população de peixes no rio Piracicaba levará cerca dez anos para ser recomposta. “Matou uma população que tem jovens, adultos e em formação. Então vai precisar de três gerações para recompor. Os indivíduos que vão nascer agora vão começar a reproduzir daqui três anos e depois, anualmente”, explica.
Ele também lembra que nem todos os peixes que desovarem este ano vão sobreviver. “O percentual da natureza de peixe que sobrevive é muito baixo”, diz citando a predação, além da própria movimentação da água que faz os ovos se chocarem com as pedras e se quebrarem.
Além disso, no caso do Tanquã, o efluente lançado em julho ainda pode afetar a vida aquática. “Se tem remanso (local de água calma) se torna muito pior, porque o poluente vai diluir, mas em uma velocidade muito menor e afugenta os peixes (que sobreviveram) que buscam melhor qualidade de água para sobreviver”, diz.