14 de agosto de 2024
ARTIGO

Filosofando sobre a(s) ciência(s)


| Tempo de leitura: 4 min

A Filosofia se define como a ciência de todas as coisas por suas causas mais elevadas, adquirida à luz natural da razão. É ciência de todas as coisas porque estuda a todas elas, tendo todas elas por seu objeto material. Estuda-as por suas causas mais elevadas e não apenas pelas causas próximas e inferiores. E estuda-as usando a mera luz da razão, abstração feita de verdades que só conhecemos porque nos foram reveladas por Deus.

A palavra filosofia originou-se no grego philosophos (amigo da Sabedoria), que Pitágoras atribuía a si próprio, pois tinha como meta atingir a Sabedoria, que ele considerava próprio da Divindade. Em outras palavras, ele desejava conhecer as coisas na sua profundidade máxima.

A Filosofia corresponde a um anseio profundo da alma humana. Todo homem - ensina São Tomás de Aquino - possui desejo natural de conhecer as causas daquilo que percebe. Conhecer e explicar a causa de algo que vê produz, no homem, um bem-estar, um sentimento de tranquilidade que o satisfaz. Mas essa satisfação só é inteira quando o homem, de proche en proche, ou seja, gradualmente, chegou à primeira Causa, Aquela que causa todas as outras e que não é efeito de nada. Somente aí o homem julga ter conhecido algo perfeitamente.

Creio que se pode dizer que uma das causas mais profundas da inquietação do homem moderno é que ele, tendo acumulado, como nunca antes na História, conhecimentos e informações em todas as áreas, fê-lo no entanto de modo fragmentário e incompleto, sem uma visão de conjunto e, sobretudo, sem ir às últimas causas de tudo. Esse acúmulo de conhecimentos desordenados e desconcatenados não pode deixar de produzir um profundo mal estar no homem.

Numa celebrada encíclica sobre Razão e Fé, foi justamente isso que disse o Papa João Paulo II, lamentando que o homem moderno já não procure, como o homem antigo bem ou mal procurava, soluções globais para todos os problemas. O homem moderno - observou o Pontífice - se contenta com soluções fragmentárias. A consequência é estarmos no reino da especialização. E, como dizem de modo jocoso os norte-americanos, especialista é quem sabe cada vez mais sobre cada vez menos. Ou, em outras palavras, quem sabe tudo sobre nada.

Diferentemente da Filosofia, as ciências naturais ou particulares procuram explicar os fenômenos por suas causas próximas; por exemplo, a Medicina poderá explicar o envelhecimento do ser humano pelo desgaste natural de suas células, em consequência de um processo de diminuição de determinadas substâncias químicas no sangue ou no cérebro da pessoa. Já a Filosofia explicará o mesmo fenômeno por suas causas mais altas e supremas, como algo decorrente da corruptibilidade que tem a matéria em contraposição com o espírito que é incorruptível.

Que se deve entender por “causas mais altas e supremas”? A Filosofia estuda, como vimos, as coisas por suas causas últimas, ou mais elevadas. Mas há causas últimas propriamente ditas (aquelas acima das quais nada mais é possível encontrar) e causas últimas impropriamente ditas (ou seja, aquelas que são últimas num determinado gênero).

O conhecimento das causas últimas propriamente ditas constitui o objeto da Metafísica. Por ela se pode chegar, pela mera luz da razão, até o conhecimento de Deus. Nisso consiste a sabedoria no sentido estrito do termo.

Dentro da Filosofia, também se pode estudar as coisas por suas causas últimas impropriamente ditas, na Filosofia da Natureza. Esta tem duas divisões: a Cosmologia Filosófica (estudo da origem do mundo, do movimento, do tempo, da vida e da origem dela) e a Psicologia Filosófica, ou Psicologia Racional (estudo da alma humana e das suas faculdades).

Anteriormente à Metafísica e à Filosofia da Natureza existe a Lógica (que ensina a pensar de modo correto, sem vícios no raciocínio). E posteriormente à Metafísica e à Filosofia se situa a Ética (que estuda, na prática, os atos humanos em ordem ao seu fim último e supremo).
Fora da Filosofia e muito acima dela, temos a Teologia, o estudo de Deus. Como se distingue a Teologia da Filosofia? O objeto formal debaixo do qual (sub quo) a Filosofia elabora sua pesquisa é a mera luz natural da razão humana. A Teologia tem por objeto sub quo a luz da Revelação. Essa a diferença fundamental.

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