14 de agosto de 2024
ARTIGO

 Competição nas Olimpíadas, mas não nas escolas?


| Tempo de leitura: 3 min

Os jogos olímpicos são a maior celebração mundial do esporte, ocasião em que todos acompanham as competições esportivas que apresentarão ao mundo os melhores atletas de cada modalidade, os quais serão agraciados com as medalhas de ouro, de prata e de bronze.

A competição esportiva revela e coroa o esforço, a disciplina, a dedicação, a resiliência, a persistência e a superação da capacidade humana em vencer desafios e limites, possibilitando que recordes esportivos sejam constantemente batidos. Em resumo, a competição olímpica é a celebração da meritocracia, gerando o aprimoramento constante. São sagrados como campeões aqueles que mais mereceram, por seu próprio mérito individual, ou em equipe, quando o esporte é coletivo.

Assim, além de permitir a premiação dos atletas com melhores performances, a competição possibilita o aumento do desempenho de todos os competidores o que, por sua vez, eleva o nível da técnica esportiva em relação à praticada no passado.

Mas se os medalhistas das competições olímpicas são tão admirados, por que a competição entre alunos dentro de sala de aula ou até mesmo em quadra esportiva escolar passou a ser execrada e até mesmo proibida nos dias de hoje?

O sistema de ensino brasileiro está impossibilitando a justa competição que faz com que os alunos se esforcem mais, desenvolvam disciplina e se empenhem em melhorar as suas habilidades intelectuais para conseguirem conquistar as maiores notas em sala de aula.

Considere o que ocorre com o sistema de seleção do vestibular para ingresso nas universidades. Cerca de metade das vagas nas universidades públicas, hoje, são preenchidas por critério de quotas que selecionam pessoas que não passariam normalmente nas provas por falta de conhecimento objetivo para cursarem os cursos que pleiteiam.

A consequência desse processo seletivo é que o professor tem que passar menos conteúdo e atrasar o andamento de toda a turma por causa do déficit de conhecimento dos alunos que ingressam sem preparo adequado. Isso gera nivelamento por baixo do ensino nas universidades.

Professores de cursos como medicina e engenharia têm reclamado que seus alunos não acompanham as aulas como antes. Não conseguem ensinar o conteúdo que lecionavam há vinte anos. Também nas faculdades de humanas, a leitura e a redação são prejudicadas por carência de conhecimento básico da gramática da língua portuguesa. O nível das pesquisas, dos trabalhos acadêmicos e até das teses de doutorado na pós-graduação cai significativamente.

É o sucateamento do ensino e do aprendizado como consequência de seleção dos menos preparados. A meritocracia foi completamente extirpada do ambiente universitário, a começar pelo próprio critério de ingresso. Imagine se isso ocorresse nos jogos olímpicos. Quantas medalhas seriam retiradas daqueles esportistas que mais se sobressaíram?

Outra anomalia no sistema escolar atual é a progressão automática dos alunos, implementada como regra geral no ensino público e que contaminou também o ensino privado. Os estudantes passam de ano sem ter o conhecimento mínimo necessário das matérias. É como se o sistema escolar aprovasse um ginasta para apresentar um salto mortal sem que ele soubesse sequer dar uma cambalhota. É evidente que, nessa circunstância, o estudante será o maior prejudicado, pois não conseguirá aprender conteúdos mais complexos sem dominar conteúdos básicos. Ao final, mesmo sem saber nada, sem nenhum mérito, ele continua sendo aprovado, como se estivesse recebendo uma “medalha olímpica” todos os anos por seu desempenho ruim.

O pior é que, como os alunos já sabem que vão passar de ano, isto é, sabem que receberão as “medalhas olímpicas” de qualquer forma, simplesmente deixam de se esforçar e de se empenhar para aprender. Pelo contrário, passam a desrespeitar o professor em sala de aula e a atrapalhar o andamento do curso, por mau comportamento.

O sistema de ensino que premia aqueles que não se esforçam gera a queda do nível de comprometimento e do desempenho de todos os alunos. É o oposto do que ocorre na Olimpíada esportiva: a consagração da falta de mérito e do retrocesso educacional.

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