25 de dezembro de 2024
ARTIGO

É muito desagradável ser plagiado


| Tempo de leitura: 3 min

Já fui plagiado algumas vezes e sei que é uma experiência horrível. Pior ainda é ser plagiado e ainda correr o risco de ser tachado de plagiador. Em 1993, nas vésperas do plebiscito, estava sendo impresso um livro meu intitulado “Parlamentarismo, sim, mas à brasileira”, quando, abrindo o jornal “O Estado de S. Paulo”, encontrei, na segunda página, um artigo de um colaborador do jornal, com um título exatamente igual ao de um capítulo do meu livro; lendo, o artigo, vi que reproduzia textualmente vários parágrafos do meu livro ainda por sair!

Investiguei o que aconteceu. Apurei que havia emprestado o rascunho do livro a um amigo de confiança que, por sua vez, o havia passado a outro amigo de confiança dele (não meu!), o qual fora contratado como ghostwriter por um figurão que havia sido convidado pelo jornal a escrever sobre o plebiscito. O amigo de confiança do meu amigo perguntou ao meu amigo se eu me importaria se ele “aproveitasse algumas ideias” do meu livro. O meu amigo de confiança respondeu que eu certamente não me importaria, porque estaria divulgando minhas ideias. O inescrupuloso ghostwriter não apenas “aproveitou algumas ideias”, mas escandalosamente copiou-as. A essa altura, o livro já estava sendo costurado na gráfica, e não dava mais tempo de modificar nada. O resultado é que eu, legítimo autor do meu texto, acabei correndo o risco de passar como plagiador, pois meu livro só saiu a público alguns dias depois...

Meu livro esteve algumas semanas na lista dos mais vendidos e nunca ninguém ousou me acusar de plágio. Foi pena. Eu até torci para que alguém me acusasse. Seria facílimo me defender, porque meu livro tinha 320 páginas e todo ele tinha, inconfundivelmente, o meu estilo.

Plagiar é copiar texto alheio como se próprio fosse. É sempre procedimento criminoso e desleal. Exemplo típico: aluno preguiçoso que apresenta trabalhos copiados da Wikipedia, pensando que o professor não vai perceber... Já aconteceu com alunos meus. Sistematicamente lhes devolvo esses trabalhos e mando fazerem outros se não quiserem ficar com zero. Geralmente aceitam a reprimenda e apresentam outro trabalho. Em toda a minha vida, somente encontrei um único aluno que se revoltou, declarando que eu o estava ofendendo e ele iria me processar. Respondi que ele podia me processar à vontade, porque o plágio feito por ele estava tão mal disfarçado que até as palavras sublinhadas de seu trabalho, quando clicadas, remetiam a outros links da Wikipedia.

O plágio, na verdade, é roubo, é crime. Consiste em apossar-se indevidamente de produção intelectual alheia. Já a citação não é considerada violação de direitos autorais. Chama-se citação a transcrição de trecho de autoria alheia, entre aspas ou com outra forma de destaque gráfico que permita a clara intelecção de que se trata de texto alheio, devendo sempre ser referidas de modo correto a fonte e a autoria. Exemplo: “Segundo Augusto Comte, `os vivos são governados pelos mortos´(Livro ....., edição ...., local, ano, pg. ....). Já segundo o humorista gaúcho Aparício Torelli, o Barão de Itaraté, `os vivos são governados pelos mais vivos.´ (Almanhaque de 1950, Rio de Janeiro, 1950, p. ...)”

Existe também a paráfrase, que é a reprodução de pensamento alheio com outras palavras. Do ponto de vista legal é legítima, sendo, entretanto, deselegante assumir como sendo seu um pensamento alheio. Exemplo: “A religião, por impedir os oprimidos de se revoltarem contra seus opressores, exerce ação similar à do ópio que adormece e enfraquece a vontade dos que o consomem.” (paráfrase da célebre frase “A religião é o ópio do povo”, de Marx") O princípio geral é que ninguém deve se apresentar como autor do que não lhe pertence.

Entre a paráfrase e o plágio existe, ainda, o chamado pastiche, que é uma paráfrase tão sumária e mal feita que denota claramente a má fé da pessoa que muda a ordem das palavras, ou faz pequeninas substituições unicamente para escapar da acusação de plagiador. É muito comum, infelizmente, em dissertações de mestrado e teses de doutorado, muitas vezes até ocultando o nome do verdadeiro autor.

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