27 de dezembro de 2024
ARTIGO

Uma chance para brilhar


| Tempo de leitura: 2 min

Como secretária de Cultura, por dezesseis anos, tive a chance de validar muitas propostas apresentadas pela sociedade e pela minha equipe de trabalho. Mas, nenhuma delas me deu tanta certeza de estar fazendo a coisa certa, quanto a criação da Companhia Estável de Dança, a Cedan, que fortaleceria a posição de Piracicaba na vanguarda da ação cultural em todo o Estado de São Paulo e, por que não, do Brasil.

Enfrentei resistência sobre o que alguns classificavam, à época, como uma cultura elitista, talvez, porque o senso comum entende que dança e música erudita são privilégio de poucos. Eu, ao contrário, sempre defendi que se trata de um direito de todos.

Me dispus a dialogar com absolutamente todos aqueles que questionavam a criação da Cedan, apresentando argumentos, ideias e tantas possibilidades que tínhamos para obter o mesmo sucesso da Ceta, a Companhia Estável de Teatro Amador. Então, segui em frente com o firme propósito de plantar sementes culturais para que, um dia, quem sabe, se convertessem em frutos e se espalhassem pelos quatro cantos do mundo. E, assim, de fato, aconteceu.

Entre tantos talentos que passaram pela Cedan, alguns ganharam os holofotes internacionais, como são os casos de Ivan Domiciano e Monike Cristina Macedo de Souza, hoje, primeiros-bailarinos do Joburg Ballet, na África do Sul.

Monike, que já havia passado por algumas escolas de ballet de Piracicaba, especializou-se na Cedan, pelas mãos da brilhante Camila Puppa, a qual lhe possibilitou o aprendizado para esse salto qualitativo em sua carreira profissional como bailarina.
Recentemente, em Joanesburgo, Monike fez par com o badaladíssimo primeiro-bailarino da Ópera de Paris, Guillaume Diop, no ballet A Bela Adormecida, para o qual fui, honrosamente, convidada pela família da nossa bailarina.

Foi emocionante ver aquela linda mulher, negra, piracicabana, que conheci ainda quase menina, dançando ao lado de um bailarino que ocupa lugar de primeira grandeza no cenário internacional, praticamente flutuando, ritmados pela música cativante de Tchaikovsky. Uma quebra de barreiras, um exemplo de resistência e de perseverança.

Monike e seu noivo Ivan são exemplos de superação e resiliência. Levam o bom nome de Piracicaba aos palcos das principais capitais mundiais, com leveza e requinte, validando a decisão que tomamos no passado, ao criar uma companhia de dança em uma cidade com fortes raízes populares. Provamos que a diversidade cultural é possível e que, ao invés de fecharmos portas, abrimos possibilidades.

Em minha viagem à África do Sul, também fui visitar o museu Apartheid, que não nos faz esquecer da luta de Nelson Mandela, pela defesa da igualdade racial e dos direitos que todos devem ter à cidadania plena, como Monike e Ivan, que precisaram, apenas, de um começo, de uma chance.

Aliás, é do presidente Mandela, a frase que também me inspira como educadora, e confere sentido à perseverança de Monike e Ivan, que estudaram e venceram: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”.

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