21 de dezembro de 2024
ARTIGO

Como a família é verdade!!


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De julho, só direi do que me encanta. Coisas simples vestindo o tempo fazendo-me envolver do que verdadeiramente vale a pena. O de hoje e o de antes, em julho, sempre me faz bem à memória e à vida. Viver é dádiva. Reviver, toca fundo a alma e permite recolher o que lá permanece. 
Na aragem das manhãs de julho, a cada dia, sinto o sentido do novo, da vida acontecendo. Em cada fim de tarde, o bom gosto de Deus ensinando, na paisagem desenhada, como escorre o tempo: sem assombro, sem tristeza. Sempre com igual beleza.

Criança, ainda, tive, sem entender, enorme empatia pelo mês. Até a ordem que ocupa nos calendários juliano e gregoriano, me encantava. 
Na adolescência pude entender que não havia, como não há, um só crepúsculo que não seja primo. 
Emoldurar? Não posso. Um mais belo que outro. Fotografo. Por melhor que seja a cópia, não traz a verdade da hora. Olho. Torno a olhar. Faço, então, da memória, guardiã deste espetáculo de inverno, lindo.

Julho. Neste tempo distante, não sabia que estampava nos dois calendários, o mesmo número, sugerindo perfeição divina. Ao descobrir senti que tudo parecia vir dele ou existir por ele: sete virtudes; sete pecados; sete dias da semana; sete sacramentos; sete notas musicais; sete escalas, sete pausas, sete valores; sete arcanjos; sete mensageiros a ensinar. Sete dons do Espírito Santo. Sete cores no arco-íris.

Meu pai, que a cada data procurava saber dela, escarafunchando a correspondência histórica guardada, vibrava com o que julho, o sétimo mês, lhe contemplara. Para ele, interessado por datas, entendia ser julho o de maior importância: Queda da Bastilha. Revolução Francesa.

Já em seu primeiro dia, naqueles anos, a mim me interessavam as férias escolares. Como esperava por isso! Pequeno, festejava o mês por este acontecimento. Ainda não sabia da Queda da Bastilha, estopim da revolução; ignorava o quatro de julho, a festa americana. Gostava mesmo era do décimo quarto sol trazendo à luz em evento dos mais significativos, mais que os dias de glória da história universal. O 14 de julho era uma festa nossa, ali, no recanto de luz que nos aquecia e iluminava. Só não cantávamos a Marselhesa em reverência à data francesa. Importante era ter, na data, o dia bom de julho, quando uma de minhas irmãs saltou para a vida. Pequenos, todos juntos, já nos iluminávamos de sua presença, de sua alegria, de suas histórias carregadas de sol e vida, do seu jeito alegre de ser, desde o nascer do sol, como se fora ela quem tecera a manhã.

Nada é sempre igual. Iara Sílvia, no entanto, permanece ajeitando o laço que nos une, fazendo, por onde anda, o contorno do bem, iluminando tudo, salgando a terra, espargindo amor.

Ontem, ao pensar no tempo, apressado que anda, quis recobrar caminhos percorridos a seu lado, em manhãs como esta, quando cantávamos ao sol de todo dia. Nestas veredas, enredada, a hera de São João. Esta irmã tão minha, tão de todos nós, alumbrada, colhia as florezinhas, provando seu gosto adocicado, feliz, observando a cerca verde na beira de estrada, ponteada de flores.

Não bastasse Iara a iluminar o mês, quanta gente querida fez em julho o cântico da vida. O último presente, há um ano, a alegria de ter Maitê, filha de Filipe Martins e Bárbara Feo Spallini renovando em mim a esperança. Nestes doze meses, pude alimentar-me do seu encantamento. Vez por outra, sua mãe revela em fotos e vídeos como você descobre, nos seus dias, a vida, permitindo, com isso, que a veja crescer descobrindo os dias e ganhando autonomia. 
Por minha irmã, bons versos de boas lembranças, capazes de dar cor ao dia, fazer brilhar solitária  estrela em noite escura. Por Maitê, o novo sol, manhã tecida inda agorinha, luz que pede canção de amor e paz. Lá e cá, a confirmação do verso que o poeta ditou: Como a família é verdade! 
Bom assim quando sonhar traz à tona profundo pensamento.